abril 13, 2014

Palavras feias (e falta de palavras bonitas)



Detesto falta de educação. Cada vez é mais notória, abrigada sob falsos conceitos de liberdade e humor. São palavrões a torto e a direito em ocasiões sociais, sem qualquer respeito em relação a quem nunca se viu, são palavrões nos transportes públicos, são palavrões ao volante, sobretudo se veem uma mulher sozinha, são palavrões nas escolas e dentro da sala de aula, são palavrões na rua, transversais a nível das idades, dos sexos, das localidades e das profissões. Se acho graça a um ou outro que seja dito num determinado contexto em que haja uma familiaridade considerável entre os presentes, já quando os meus ouvidos os escutam fora de tudo o que seria mais normal e aceitável, o gelo instala-se de imediato.
Também é verdade que a falta de educação não se esgota no abundante vernáculo português, neste caso. Ela surge em forma de ingrata indiferença perante um gesto simpático, ela reside na incapacidade de dizer desculpe e obrigado, ela mora na falta de chá em doses industriais a propósito de pequenas coisas do quotidiano. Convenhamos, o nosso povo, porque dos outros não posso saber da mesma forma, é extremamente mal educado, as gerações mais novas parecem não ter - não têm, na verdade - o mínimo respeito pelos mais velhos, o machismo bronco ainda subsiste por aí em alguns cantos, o modernismo das relações entre homens e mulheres aboliu completamente o cavalheirismo. Porque certas raparigas e mulheres também acompanham, decerto com receio de serem postas de lado e chamadas de antiquadas, chatas e sem interesse como companhia.
Gosto de ser livre, rir é bom, ser divertido, naturalmente, e ter sentido de humor também. Mas o verdadeiro humor anda longe desta descontração boçalmente brejeira, forjada e mentirosa, que é a de aparentemente ser-se livre nos costumes, ainda que a cabeça, o resto, esteja ainda a habitar em tempos medievais. Que povo pequeno armado em grande, onde ser grande significa sonhar em/ou ter Ferraris e ostentar gadgets e outras coisa mais. A grandeza de alma, a nobreza interior, essa não existe, está demodé. E eu também, pelos vistos, porque me perturba esta má educação. E não estou a falar de escola nem de sistemas educativos. A sociedade em que vivemos é mal educada e isto devia preocupar-nos a todos.

8 comentários:

  1. A explicação é simples o povão diz "cossessa" e isso dá-lhe direito ao resto.
    :)

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  2. Perfeito. Acrescento só mais uma situação que demonstra total falta de educação e civismo: a estrada. Em especial os que gostam de passar em frente da fila toda, como se o seu tempo ou a sua pessoa fossem mais importantes que o dos outros.

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    1. Sim, António, mas está acautelada no post quando me refiro "ao volante". Ainda ontem fui "insultada" por um bando de broncos machistas ao volante...

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  3. És fantástica!! Expressas muito bem o que muitos de nós sentem... aquele abraço!

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    1. Rute, que bom saber-te por aqui :) Pois... transversal, ainda por cima. Ainda no outro dia fui a um casamento e foi avassalador o número de palavrões que fui escutando, en passant, vindos de diferentes idades e tudo gente com boa posição social... Incrível.

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    2. Ai... num casamento... enfim, incrível, mesmo.
      Bjs e continuação de boa escrita!

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  4. Completamente! Se há algo que me irrita profundamente é o uso constante de palavrões por certas pessoas e, claro, determinadas atitudes denunciam uma clara ausência de boas maneiras ou de boa educação! Infelizmente verifica-se em muitos espaços, contextos... Marla

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