dezembro 31, 2013

O inglês em francês


Não sou muito française, por defeito de profissão. O francês que falo, pouco, é o do liceu. Desconheço o francês atual, com gíria ou outros. Compreendo pouco ou quase nada se vir um filme ou estiver a ouvir uma conversa entre nativos ou falantes que se expressam igualmente bem. Gosto de cinema francês, é um facto, e pouco de música francesa, outro facto. Mas nem é isso bem que interessa, aqui, apesar da língua ser inesperada e surpreender ainda mais. Um tema eterno dos The Stranglers, uma música de que gosto sempre. Além de que, nos tempos que correm, é preciso ter alguma - la folie, claro.

Criatividade e felicidade


Ontem peguei numa revista não de agora de moda feminina, enquanto esperava pelos meus num determinado local fora de casa. O tema era a criatividade e tudo nela andava à volta disso. Havia uma rubrica em que 6 criativos, escolha da revista, respondiam a questões sobre o ato de criar. Estive a ler. Confesso que não tinha pensado em algumas delas, mas aqui vai o que responderia, se fosse eu. E tendo em conta o que criar significa para mim e em mim.
Onde - Não sei se há um lugar exato para criar. Pode surgir em vários locais, dependendo do que observamos, sentimos ou recordamos. Já me vi a ter ideias em locais completamente distintos, embora haja deles mais recorrentes, acompanhando naturalmente a rotina dos meus dias.
Quando - Dizia um dos criativos que as melhores ideias lhe chegam pela manhã. Errado, para mim. É geralmente a noite e até o deitar que trazem mais e melhores ideias. Não sou de manhãs, nem de madrugadas, já agora. Essas horas são-me ótimas para dormir.
Como - Se o ato de criação é individual ou não. Diria que sim, que é, acontece na cabeça, lá dentro e para isso é preciso algum tipo de solidão ou silêncios criativos. Levá-lo a cabo já dependerá daquilo que se cria. Há criações absolutamente individuais e há outras em pares, grupos, equipas, sei lá o que mais. 
Crio, logo... - Acabava assim. E gostei da frase da fadista Ana Moura, se não estou equivocada. Crio, logo "sou livre e feliz". Subscrevo e acrescento que criar é sempre ser livre. Ou exercer um bom bocado da liberdade que temos. E isso, sem dúvida, pelo menos nesse instante, é ser feliz. Já não é nada mau, convenhamos. 

dezembro 30, 2013

Na corda bamba


1. No mesmo grupo, largo grupo, diga-se, constituído por duas turmas dei mais de 50% de classificações negativas numa e obtive uma taxa de sucesso maior, bem maior, noutra. Sou a mesma, diga-se, e sempre eu na mesma sala, à mesma hora. Noutro grupo parecido, algo parecido. Sucesso mas baixo, mais baixo do que o da outra turma, com um alto sucesso. Ainda não sei, pois, se me deva juntar ao grupo dos maus professores que devia ir para a rua ou ao dos muito bons que ainda merece lá estar.

2. Parece que os médicos que passarem mais receitas vão ser penalizados. (Um bocadinho como os docentes que dão muitas negativas.?) Uma receita com resmas de medicamentos para tomar nunca é agradável, por várias razões, mas o importante não será o problema e a sua cura? Estarão agora a performance do médico e a sua reputação ameaçadas por esta espécie de intimidação? Não pode um bom médico receitar muito? E um que receita pouco é automaticamente bom?  Era ainda melhor que isto fosse tão linear assim.

dezembro 29, 2013

Um mundo à parte


Há semanas, à conversa com uma amiga, dizia eu que não podemos evitar que digam mal de nós. Ela anuiu, lá isso é verdade, disse. E não é? Acrescentei umas palavras que soam a frases feitas mas que são um facto: o que interessa é estarmos bem com a nossa consciência, de resto não podemos impedir que nos critiquem.
Quando somos criticados justamente, ao serem-nos apontados defeitos e erros que nos podem ser imputáveis, então não temos nada que nos incomodar. Quando somos censurados injustamente, então há uma razão maior para nos incomodarmos, sim. Mas, não sendo uma ofensa direta e pessoal ou uma calúnia ou difamação, valerá a pena incomodarmo-nos? É possível, para agirmos em nome da verdade, sabermos tudo sobre as críticas que nos fazem? Quem, onde, como, porquê? E é viável irmos tirar as satisfações todas, corrigir tudo, dizer de nossa justiça? E se o for, valerá, insisto, a pena?
Por isso defendo, desde há muito tempo, que não me venham dizer porque não quero saber o que censuram em mim. Não me interessa e não me importa. Houve um tempo em que provavelmente sim mas já não. Don´t care. Faça-se o que se fizer, bem ou mal, todos somos sempre criticados. Não se agrada a gregos a troianos, é mítico. E real. Portanto, importa é que a nossa consciência não nos critique a nós mesmos... pelo menos não muito.
Porque as palavras dos outros, certas ou profundamente equivocadas, leva-as o tempo. E o que interessa o tempo dos outros, nesse caso? Uma espécie de autismo, saudável e cultivado, às vezes não é uma má ideia.

dezembro 27, 2013

Pequena teoria da timidez

 
Ao almoço do dia de natal, calhou a conversa resvalar para o tema da timidez. Disse eu que a coisa melhora consideravelmente com a idade, experiência própria. As experiências, várias e a níveis variados, vão aniquilando, e felizmente, a timidez. E rematei com um toda a gente é tímida em alguma circunstância, em algum momento, em algum local. Mesmo os não tímidos (como atualmente sou, na maioria das vezes). As pessoas com quem abordava isto olhavam à espera que acabasse o meu raciocínio, uma delas, muito jovem, decerto aliviada por desdramatizar a sua confessa timidez. E acabei-o: todos somos tímidos quando não dominamos uma certa situação, quando é inédita para nós, quando estamos fora do nosso contexto, quando somos postos perante circunstâncias com as quais não estamos familiarizados, quando, por causa disto em separado ou em conjunto, sentimos a autoconfiança a fugir-nos debaixo dos pés. Desta forma, e já agora, lanço um desafio. Quem nunca foi ou se sentiu tímido que atire a primeira pedra. 

Dever ou não dever - eis a desmotivação


Em conversa sobre tudo e sobre nada com uma amiga e colega neste natal, descubro uma coisa espantosa. Mas já lá vamos. 
A avaliação de desempenho docente é uma farsa, isso já sabemos. Nós, que a sabemos por dentro. Foi feita em moldes duvidosos, com critérios duvidosos, com intenções duvidosas. Ainda assim existe e se existe quem é professor tem o direito de trabalhar - ou não - para obter a classificação que pretende, independentemente das suas motivações. Um facto, a sua existência, seja boa ou má, útil ou não útil, justa ou não justa.
Chegados a este ponto, o que me espanta? Saber que foi dito pela avaliadora da minha amiga e colega (que discordou da avaliação e que o manifestou livremente)  que não se deve trabalhar para obter uma nota, ou em função da classificação, algo deste género. Rebobino, aqui. Não se deve trabalhar desta forma? E qual a razão pela qual não se pode, já agora? Digo eu a um aluno: vá, não deves trabalhar para uma nota? Não pode? Não deve? É moralmente errado? (É verdade que os alunos motivados e com ambições são criticados.) Pessoalmente não aprecio a competição feroz ou doentia mas considero natural o desafio, a superação de metas interiores, a satisfação de sabermos que conseguimos. A ser esse o desejo, a forma de estar, o objetivo do momento, seja o que for. Se algumas coisas destas servem como motivação para melhorar a performance e obter mais satisfação, pessoal, profissional, não consigo ver onde está a imoralidade. Mas consigo ver que uma lição de moralidade destas não pode ter lugar. A avaliação é para ser feita, objetivamente, sem leituras ou acrescentos pessoais perfeitamente dispensáveis e desmoralizantes.
Desde que não se atropele ninguém, que se respeite os outros, que se trabalhe de forma digna e honesta, não vejo qualquer problema em pedir aulas assistidas para obter a nota máxima. Que vale o que vale, pode mudar e muda de ano para ano, de escola para escola, de avaliador para avaliador, porque há sempre uma dose de subjetividade nos critérios, no interpretar dos mesmos e na sua adaptação aos ciclos avaliativos. Mas cada um é livre de escolher a motivação que ainda o faz trabalhar melhor. Até estupidamente, é possível. Já que tudo está contra nós, sociedade em geral, políticas educativas, congelamentos, salários diminuídos, só faltava esta: a de colegas que se tornaram nossos avaliadores dizerem-nos que não devemos trabalhar com metas pessoais. A minha amiga e colega de missionária nada tem (eu igual, é um direito que nos assiste).
Isto - a inverdade, a falsa abnegação, o tabu - provoca-me alergia. Só mesmo neste país pequenino se retira esta conclusão tão pobre: a avaliação - neste caso, a docente - não é uma forma potenciadora para a melhoria da performance (com o que de positivo isso acarreta) mas sim, pelos vistos e apenas, uma forma para tramar o outro. Triste sina, a nossa, portuguesa, que cultiva a missão e a mediocridade. Não admira estarmos onde (não) estamos. 

dezembro 24, 2013

Um desejo simples




Mais luz, hoje e depois, para quem conheceu ou conhece a escuridão. De alguma forma, em algum momento. Neste e nos natais de todos os dias, para lá das crenças e tradições. E, sobretudo, do calendário.

dezembro 23, 2013

Modernidade ou modernice e a história



Os alunos, mas não só, mostram um desprezo considerável pela história. E esse desconhecimento, que advém da falta de vontade em saber algo ou mais sobre o passado, só gera equívocos em relação ao presente. Não sou agarrada ao que já passou, a nível pessoal. E não sou muito de festividades, de efemérides, de datas no calendário, de celebrações exteriores. Gosto de história não para a celebrar com atos mais ou menos públicos e alegrias forçadas. Gosto de história para compreender. O presente, o que foi, o que é e o que ainda poderá ser, para me dar uma visão mais completa do que aquela que é feita por leituras parcelares e imediatas, centradas no hoje, no agora. A história interessa-me, e o que sei não me chega. Por isso, agradeço existir uma coisa chamada cinema que, de vez em quando, me faz viajar lá para trás, para que possa ter essa compreensão dos tempos modernos. E tento, com imensas dificuldades, passar isso, sempre que possível, a quem está sentado na minha sala de aula. Eles não gostam, na sua maioria, e muitas vezes. Querem que a aula seja, sempre, uma continuação do que têm lá fora, daquilo que gostam. Contrario esta expetativa. Com os filmes que passo. Conscientemente, voluntariamente. Porque tenho um objetivo muito específico: o de lhes mostrar algo que não conhecem, que nunca viram nem (de que) ouviram, que até rejeitam, por vezes, ou frequentemente. Mas isto acontece para lá das fronteiras da sala de aula. Há muito desconhecimento do que foi feito e conseguido, mal ou bem, em tempos que não são estes, os nossos. Não há curiosidade, não há interesse, não há investimento em conhecer. E, por isso, muitas opiniões e ideias sobre o hoje refletem essa falta de conhecimento. Nomeadamente, quando se pensa que tudo o que temos esteve sempre e desde sempre garantido. Que sempre fomos esclarecidos, justos e livres. Na verdade, esclarecimento, há muito pouco. E há liberdades que são apenas exteriores. Conheça-se a história, a mais recente e a outra, também. E conheçamo-nos, dessa forma, um pouco mais enquanto gente moderna. 

dezembro 21, 2013

De barriga cheia



Está na moda bater nos sindicatos.
Dantes, há bastante tempo, não havia sindicatos.
Muitas pessoas, ao longo da história, pagaram um alto preço para eles vingarem.
Agora que os temos, gostamos de dizer que nada fazem e que são os responsáveis pela instabilidade social.
Talvez fosse melhor, então, voltar à era da Revolução Industrial?
Às horas de trabalho até à exaustão?
Ao trabalho infantil?
À miséria das slums - que não se erradicaram, infelizmente, em muitas partes do globo?
Está na moda bater nos professores.
Em muitos locais do mundo, as crianças não têm escola.
Não há escolas, não há carteiras, não há cadeiras.
Não há livros nem manuais.
Não há escolas, não há professores.
Em muitos locais do mundo, repito, as crianças não vão à escola.
Não podem ir, porque são meninas, porque são pobres, porque estão impedidas, porque trabalham.
Porque as leis e as condições de vida não as deixam.
E ficamos contentes quando sabemos que podem.
Que já há escolas.
E livros.
E professores.
Que as leis mudaram.
Que as condições o permitem.
Aqui, insultamos os professores. Rebaixamo-los, humilhamo-los.
Culpamo-los dos males que as nossas escolas têm.
Culpamo-los dos males que a sociedade tem.
Quando não temos nada, queremos ter. E estamos zangados por não ter. E bem, diga-se.
Quando temos tudo, ou muito, não queremos ter. E zangados estamos por ter. Mal, diga-se.

dezembro 20, 2013

If ou o filme que não é nosso

    

Melhor até: what if...? Com isto quero dizer que é sempre possível algo não ser aquilo que parece. Ou que as nossas interpretações podem estar parcial ou totalmente erradas. Ou que há um outro lado que não pensámos existir. Ou que a impressão primeira - primária? - não corresponde à verdade. Ou, pelo menos, à verdade do outro. Temos sempre - bem, não sei se sempre - a hipótese que não antevimos, que não previmos, que não vimos. Mas que grande tontice, poderá dizer-se. Assim, não temos certezas de nada. Pode ser, pode ser. Precisamos de certezas. Precisamos, não precisamos? Claro que sim. Podemos, então e por isso, estar a ser perfeitamente tontos. A não ser que... E se não estivermos? What if...?



(If=se; what if= e se : isto para quem não sabe ou não tem obrigação de saber inglês)

dezembro 18, 2013

Comovente


O ministro Crato quase me comovia ao jantar não fosse eu saber que isto é uma grande mentira: a preocupação com "os alunos e as suas famílias". Diz ele que, por isso, para assegurar que "os alunos e as suas famílias" tenham os melhores professores, se faz esta prova. Comovia-me, se não soubesse o resto. Que passa, por exemplo, por lecionar uma turma de 38 alunos (agrupadas em Língua Estrangeira) e outra de 35, um CEF, com dois cursos agrupados (já para não falar das outras todas, de 30, e para quem sabe, claro, o que é um CEF, na grande maioria das vezes). Em ambos os casos, alunos amontoados, sem qualquer margem para receberem apoio individualizado na sala de aula, onde mal me mexo, de resto, e com os quais não vejo a tal preocupação com "os alunos e as suas famílias" que, quase comoventemente, esta espécie de ministro quis deixar transparecer. O ensino pode ser bom mas assim a aprendizagem não vai lá. A não ser que o ministro não queira, ainda que o diga, os melhores, bons professores. E sim super professores, com super poderes. Um deles o de conseguir mexer-se leve e facilmente por entre aquela babel de mesas e cadeiras.

O inglês leva-te a qualquer lado ... ou não


                                     

Como se sabe, sou professora de inglês. Não sei se é por isso mas aqui vai: a minha primeira viagem, de avião, foi a Londres, sempre gostei de bolacha americana, sou fã dos U2 e da ilha esmeralda, um dos meus heróis de sempre foi e é Madiba, não me importava nada de viver "down under", o meu melhor professor até hoje era e é neozelandês, e, icing on the cake, estou a acabar o ano apoiada em canadianas.

dezembro 16, 2013

Vidas em jogo


Ontem, uma amiga minha a lecionar na Alemanha postava no FB que estava a ver um documentário sobre a escravatura sexual em países asiáticos. Dizia, chocada, e eu li, chocada, que os pais vendiam as filhas, miúdas muito novas, a troco de dinheiro rápido que muito ajudaria as famílias. Por coincidência, hoje passou no jornal da noite da SIC uma reportagem sobre o tráfico de seres humanos, principalmente com vista à exploração sexual e laboral. São chamados os novos escravos. Estas vítimas atravessam fronteiras (e literalmente), numa abordagem criminosa à escala global. Obviamente que as regiões mais pobres são terreno fértil para esta drama, pois gente desesperada tudo ou quase tudo faz para sair da miséria e ousar querer ir mais longe (literalmente, também). O horror reside nisto - nesta ausência de valor da dignidade individual e em pior - na crueldade de quem explora, aproveitando-se da miserável infelicidade dos outros. A reportagem de hoje mostrou várias nacionalidades envolvidas nesta escravatura moderna, quer como carrascos quer como vítimas.  Mas fiquei a pensar num país em particular, aqui na Europa, que me parece continuamente massacrado por misérias que parecem não ter fim: a Roménia.  Primeiro, e falando apenas da sua história recente, foi o miserável desabrigo das vidas sob a ditadura cruel e demente de Ceausescu. Depois, parece ser a infindável pobreza que nem a mudança de regime conseguiu eliminar. (Confesso que sei pouco, muito pouco, sobre a atual Roménia e que tenho de pesquisar o possível sobre a mesma.) Continua-se a ver os mesmos rostos sofridos, a mesma mendicidade, as mesmas histórias dilacerantes de quem nada teve e nada continua a ter. Que é verdade que nem todos têm a mesma capacidade de fazer riqueza e de fazer as opções mais acertadas dentro das terríveis condições em que vivem, é, mas é também verdade e uma pior verdade que os governantes, leis e políticas de tantas nações não permitem que os seus cidadãos vivam condignamente. É que ninguém está a falar em vidas de luxo mas sim em vidas maltratadas que são vendidas por uma ilusão de uma existência mais confortável. É essa a maior tragédia. É que o sonho passa a sobrevivência, rapidamente, e no limite.

dezembro 15, 2013

Não me agarres se puderes


Assim de repente, veio-me hoje à ideia o facto de muitos gostarem de se agarrar - muito - às coisas. Aos cargos, às posições, a coisas que não são deles, nem nossas, coisas onde apenas se está de passagem. Tudo é substituível, sobretudo a nível de trabalho. Apenas os afetos marcados pelo sangue não o são. O resto vai e vem, por muito duro que possa parecer. Há quem se instale rapidamente nas coisas, se apodere delas, se mova de todas as maneiras (ou talvez não de todas), não guardando qualquer espécie de distanciamento que me pareceria razoável. O distanciamento que nos diz que tudo é efémero, que tudo se ganha e perde. Dizer isto é assombroso, sei. Há quem não consiga viver senão sob o signo da paixão absoluta, do tudo ou nada. Considero essencial a entrega, a dedicação, o esforço. Chamemos-lhe, até, paixão. Impulsiona tudo isto e mais ainda. Mas a paixão, ainda assim, não deve andar sozinha, sem a companhia da razão. Um bocadinho de racionalidade coloca as coisas no seu devido lugar. Impede-nos de nos pormos acima desse lugar. Podemos sentir-nos motivados, galvanizados, entusiasmados e fazer, assim, um excelente trabalho. Mas convém não esquecer a hipótese de as coisas não correrem conforme os nossos desejos. O desejo, frequentemente, não chega. Aí a razão evitará a desilusão. Demasiada paixão imediata pode resultar em queda apaixonada, também. Isto sou eu a pensar, a antecipar friamente coisas a médio ou longo prazo que os indivíduos em questão - a ser o caso - nem pensam nem antecipam.  De tão agarrados que estão às coisas já à primeira. As paixões absolutas logo de início, sem margem para o distanciamento, dão grandes filmes. Apenas resta saber o seu fim. Também é verdade que cada um escolhe o seu género preferido. Apenas este não é um dos meus.

dezembro 13, 2013

War and peace


All I want is peace.
You should give me peace.
Everywhere I look there´s war.
                     What are you saying? We´re not at war. I´m not at war, with you.
You´re at war with yourself.
                     Please don´t say that. You know how this war is affecting me.
This war doesn´t depend on you alone. But your war does.
Do something to appease yourself. You´ll appease me too.
                     Don´t know if I can make it before the war is over.
We´ll talk when the war is over, then.
When peace comes.
Yours, especially. 

dezembro 12, 2013

O essencial na fragilidade



O internamento, ainda que muito breve, num hospital ou numa clínica, ou  a passagem por um serviço de urgências ou atendimento permanente faz-nos confrontar com a extrema fragilidade de que todos padecemos. Mais cedo ou mais tarde, tem de haver um encontro com a debilidade física (ainda que seja mental, ela é orgânica), com a nossa impotência face ao superior a nós,  com a vencibilidade do nosso corpo. De nada nos vale o caráter, a vontade. Todos podemos, mais cedo ou mais tarde, passar por algum tipo de aflição ou sofrimento físico. E se, por sorte, não formos nós os grandes sofredores, basta olhar para o lado, para quem lá está e pior estará, para saber que o ser humano não é invencível. Ele é extraordinariamente inteligente, criativo, tem conseguido dominar parte da natureza e da adversidade dos males mas não é invencível. Sobretudo enquanto indivíduo, indefeso contra algo maior. Há quem se julgue invencível, há, e não são poucos. Debitam alegrias, seguranças, certezas - fortes e infalíveis. Provavelmente temos, todos nós, momentos em que assim nos sentimos, e não é mau, nada mau. A autoconfiança e o otimismo, aliados sobretudo à juventude, são motores de paixão pelos dias e potenciam as nossas maiores qualidades - e possivelmente os defeitos, também. Um encontro com a doença, com a debilidade, muda radicalmente mesmo a mais arrogante das almas. A humildade não pode advir senão do sofrimento, diria. De saber que podemos ser vencidos, facilmente, rapidamente. Nota-se, amiúde, no discurso de quem já passou por algo deste género. Há uma maior maturidade, uma maior serenidade, também, uma maior valorização de pequenas coisas em detrimento de grandes e - tantas vezes - efémeras coisas. Por isso, continuo a achar que é essencial saber o que é o sofrimento para a construção da sensibilidade e da humildade. Não que o defenda, que o aprecie, de todo, que o deseje, não. Apenas penso que quem sofreu é diferente. E, apesar de alguma amargura e revolta poderem estar subtilmente lá, a nobreza de alma tende a ser maior porque a empatia é, necessariamente, outra. Pode haver casos e casos. Há sofrimentos que resultam em revoltas violentas, por dentro e que atingem quem está à volta. Mas no caso do sofrimento físico, a tendência é uma espécie de elevação moral. De generosidade, até. Que não é visível necessariamente através de ações quotidianas, mas através de palavras, mudas até, de compreensão. As pessoas que sofreram, e fisicamente, pertencem a um outro departamento. Não se critica quem não pertence, essa sorte que lhes coube até agora é fabulosa, aproveite-mo-la, mas quem lá está, conhece-se, reconhece-se. E reconhece que o que importa está numa outra dimensão. 

dezembro 10, 2013

Lá longe


Ontem, enquanto esperava que vissem a minha entorse, peguei no único jornal que se encontrava nas cadeiras da sala de espera. Não sei já quem escreveu o artigo, se era editor, jornalista ou nada disso. Falava da escola de Xangai e dos resultados milagre que por lá se operam, fruto das aulas de rajada que os alunos têm, das 8 às 16h, da ausência de intervalos e da competição feroz que se fez fomentar entre os professores. Por fim, sugeria o autor do artigo que nós, portugueses, puséssemos os olhos naquele exemplo, professores, pais, alunos. E comparava-se esse sucesso ao de Ronaldo, porque oriundo, também, de esforço, dedicação e muito trabalho. Certo, nada se obtém de verdadeiramente notável sem estas três vertentes. Nem a inteligência basta, sabemos. Mas refuto essa visão de escola  e de sociedade automatizadas, em que as pessoas são máquinas, sem margem para outros tempos que fazem também o tempo coletivo e individual. Não é preciso trabalhar-se até à exaustão e viver-se sob permanente pressão para se ser excelente. A excelência passa pelas dimensões mencionadas acima, realmente, mas as condições socioeconómicas e background cultural dos discentes também são favoráveis à aprendizagem. E mais, claro, que tem a ver com aquilo que é a qualidade de ensino. Destas e doutras harmonias, nascerão o prazer de aprender, o saber pensar, o equilíbrio entre ambição e qualidade do tempo que só favorecem o sucesso académico e mais tarde o profissional. Tendo em conta a noção de sucesso que tenho, é possível. Sucesso é, em última instância, ser feliz, connosco e com os outros, conseguir ter alma no meio da engrenagem laboral e social. Horroriza-me a escola de Xangai nos moldes em que foi apresentada, pelo menos. Estamos as milhas, sei. Dos seus resultados, infelizmente, mas da sua robotizada prática. E aqui só tenho a dizer ´ainda bem´. 

Terapia de grupo natalícia



Fresquinho, a combinar com o frio que anda por essa Europa fora. Roubado do mural de uma psicóloga amiga. 

dezembro 09, 2013

Das teimosias

A teimosia só é justificável quando há uma lógica dentro da razão que se pensa ter. Quando ela é desprovida de lógica e a razão escasseia, a teimosia é um mau aliado. A teimosia emotiva é, admita-se, sinónimo de lenha para uma pessoa se queimar. 

dezembro 08, 2013

O triunfo sobre o medo


Tenho lido algumas opiniões proferidas online afirmando que as homenagens e condolências dadas pela morte de Nelson Mandela constituem uma banalização da sua morte. E li ainda que até parece que somos todos guerreiros pela paz tal o nível de envolvimento no chorar a sua partida deste nosso mundo, na blogosfera ou nas redes sociais. Particularmente nestas. Ou seja, as mensagens de pesar que se têm publicado nestes dias, mundo fora, são alvo de críticas por serem muitas e em catadupa. Tenho apenas quatro coisas a dizer: 
1- ainda bem que são muitas e quantidade, neste caso, não significa banalização. Significa que este homem tocou gente de todas as cores, credos, idades e nações. Comovente e é bom quando as pessoas se unem num sentimento comum, de elevação, como este.
2 - se havia gente que desconhecia a sua vida e exemplo e ficou a saber algo mais sobre a inspiração em que se tornou e porquê, ótimo. Haja mais exemplos destes por aí e o mundo torna-se melhor. Haja mais conhecimento, também, como arma contra a opressão.
3 - prefiro, por razões óbvias, estas demonstrações nos murais das redes sociais do que as fotografias de gatinhos fofinhos e respetivas frases fofinhas que inundam os mesmos.
4- continuo a maravilhar-me a comover-me com as citações e discursos proferidos por Madiba. Identifico-me totalmente com eles e são uma inspiração para quem gosta da liberdade e da igualdade de direitos. Da mesma forma, continua a galvanizar-me o discurso de Luther King na Marcha sobre Washington, "I have a dream". Há figuras, assim, poucas, infelizmente, que nos chegam lá dentro e trazem para fora o melhor de nós. MLK e, neste caso, Mandela foram duas delas.

dezembro 06, 2013

Cheers


Amanhã, dia 7 - daqui a uma hora, mais propriamente -  é um dia especial, o meu pequeno faz 6 anos. Esta semana, o AE ganhou 3 novos seguidores, coisa não habitual - com esta rapidez, explique-se. Acho que, apesar do ano letivo extremamente difícil que estou a atravessar em termos de carga de trabalho e falta de tempo, é para celebrar. As coisas grandes, sempre, e as coisas mais pequenas, mas que têm uma grande importância para nós de alguma forma, assim o exigem. Estou contente. E agradeço a quem assim me faz sentir.

dezembro 04, 2013

O meu querer e o teu querer


Hoje, mais uma vez, confirmei que não podemos mudar os outros - ajudando-os, diga-se - se eles próprios não querem mudar. Hoje, mais uma vez, confirmei que não sou de insistências - quer, quer, não quer, não quer. E disto hoje confirmei, mais uma vez, que não sou de masoquismos - porquê preocupar-nos e incomodar-mo-nos com quem não merece? Há tanta coisa que requer e quer a nossa atenção e esforço. Hoje também e mais uma vez confirmei que de vez em quando uma pessoa desacredita ou então que as nossas impressões no fundo não estavam erradas e que o nosso querer não basta. E, pior, que por vezes não vale a pena. E que sair e deixar que cada um siga o seu caminho é inevitável. Ou necessário. E até justo. Sair, tantas vezes, é a nossa sobrevivência ainda que seja o contrário para quem deixamos que siga. Pode ser que a fé volte, voltará, porque há sempre quem nos ponha de volta no trilho da esperança, mas não todos. Inegável. Os caminhos estão em aberto - que os sigam, para o lado que quiserem. Tenho pena e não o desejaria mas querer, por vezes, no nosso caso, não é poder. 

dezembro 01, 2013

Obviamente, indemnize-se!




Não vou dissertar sobre a prova dos docentes porque não me apetece. Havia muita coisa a dizer e não me apetece. Mesmo. Mas li algumas coisas sobre a mesma que me desagradaram. Este comentário que transcrevo abaixo é um entre muitos que vi em caixas de comentários online que, estupidamente, ainda me ponho a ler.

"Se um professor chumbar o Ministério deve indemnizar os pais dos alunos pelos danos causados pela contratação indevida de pessoal não qualificado para a profissão."

Duas coisas apenas. Primeira - eu também exijo indemnização, como professora, funcionária pública e cidadã, pelos danos que me têm vindo a ser causados pela(s) eleição(ões) indevida(s) de pessoal não qualificado para a profissão de governantes e políticos.  Segunda - como mãe de um aluno prejudicado, no presente e no futuro, por turmas enormes e por outras manobras governativas que tresandam a incompetência e desconhecimento do terreno, também exijo indemnização. 

E há mais outra coisa, afinal. Defendo uma prova para todas as profissões, políticos e governantes incluídos. Em 120 minutos devem provar o que (não) valem.