A música, como forma artística e de expressão livre, sempre abordou temas controversos ou menos consensuais, desafiadores ou interventivos. É assim que tem sido, é e será. Mais ou menos censurados mundo fora, há temas que significaram uma revolução, nos costumes, na política, na ordem social, e no resto que vai fazendo os dias de todos. É salutar que assim seja, que traduza o livre pensamento, que anuncie uma nova ordem, que traga ousadias que urgem para quebrar barreiras, que crie hinos anti-preconceito.
Contudo, a música pode também ter um lado perverso, influenciando negativamente os seus fãs, incutindo atitudes que podiam ser mais sadias, levando a exageros comportamentais que carecem de filtro, de ajuste, de reflexão, sobretudo nos jovens, faixa privilegiada para as idolatrias e imitações, que podem ir de algo inocente e inofensivo até algo perfeitamente doentio ou até anti-natural. Isto vem a propósito, hoje, da música "I Kissed a girl", Kate Perry, que não faço ideia se é recente ou não.
Liguei o VH1, coisa rara, a seguir ao almoço, na cozinha. Apanhei uma rubrica chamada Hairbrush Hits, música por mulheres, pois, canções boas, por sinal, basicamente na área do pop. Até a Tina Turner apareceu, com um sucesso já ido mas que é sempre bom ouvir. Fixei, coisa rara 2, a letra da Kate Perry. I kissed a girl and I liked it, Hope my boyfriend don´t mind it, It felt so wrong, It felt so right. Simples de entender, fica no ouvido, melodia com ritmo, boa voz, tudo para ser um sucesso. E a letra? Já lá vamos.
Aqui há tempos, na minha dentista, que é das poucas mulheres admiráveis que conheço ao vivo, no meu conceito bastante exigente de admirável, leia-se, falámos da homossexualidade das adolescentes. Dizia ela, no centro da cidade, que tem visto este tipo de comportamento crescer, a olhos vistos, porque as demonstrações físicas são muitas e já sem qualquer tipo de inibição. Sabe também que muitas miúdas sem namorado e com baixa autoestima são aliciadas pelas mais velhas e que, carentes como se encontram psicologicamente, acabam por ir na onda.
Pessoalmente, nem eu nem a minha dentista - aposto - temos nada contra as opções sexuais de cada um. Desde que elas correspondam a uma orientação interior, a um tumulto que frequentemente acompanha essas diferenças antes do assumir, a uma escolha adulta e madura. Desde que elas não sejam fruto de uma moda. Não é por não ser de modas, pois sabe-se que não sou, mas não creio que algo sério deste tipo possa viver-se de forma equilibrada se assim for. Muito menos em idades tenras. E está claramente na moda, até pelo exibir nos cafés, bares e na rua desta (ousada) forma de estar, conforme relatos de quem assiste.
Onde entra a letra da Kate Perry aqui? Em muita coisa. As estrelas da música lançam modas, são modelos de comportamento, infelizmente em tantos casos, e as mensagens que passam influenciam e de que maneira as cabecinhas dos mais novos. Não conheço o que está por trás da canção, mas parece apontar para uma certa naturalidade face a este tipo de atitudes, encarando-a com leveza e parecendo ser engraçada, atrevida, uma boa experiência e que não porá o namoro, que afinal existe com o namorado, em risco.
Nada contra a bissexualidade, também e já agora, desde que fundada nas razões que apontei. Opções conscientes, interiorizadas, adultas. A maturidade que falta aos ouvintes e fãs das Kates deste mundo e que, assim, só estão convidados a mergulhar em confusão. Até pode ser tudo muito inocente ao princípio e não ser assim lá mais para a frente. Um pouco como as drogas, é possível. Por isso, muito cuidado a ler o que está numa canção. Porque pode ser apenas um desafio, uma imagem para vender. Uma moda, pois, e a vida não pode ser feita delas. Quando é, é mau sinal.