maio 20, 2013

Por um punhado de euros


As formas do estado e das autarquias nos sacarem dinheiro estão cada vez mais duras, no caso do primeiro, e mais imaginativas, no caso das segundas. Aqui onde moro - e desculpem não saber se isto é geral ou apenas local - lembraram-se de cobrarem um imposto "hídrico" que penaliza quem tem casa virada para a ria, da parte da frente ou detrás. Como se os valores exorbitantes do IMI já não bastassem (há por aqui zonas que estão avaliadas ao mesmo nível de Cascais, veja-se, quando há uma fábrica de congelados que faz uma barulheira enorme de dia e de noite, especialmente no verão, e outras coisitas mais que não têm nada, nada, a ver com a qualidade da vila perto da capital).
Ora este outro imposto parece querer seguir os mesmos valores inflacionados. Tenho um primo que, por azar, consegue da parte de trás visualizar lá bem à frente um riachinho minúsculo que é um pobre bracinho magrinho de ria e que, por isso, recebe em casa, surprise, surprise, uma simpática quantia de 800 euros para pagar. Aqui onde moro, frente a um viveiro, nem quero imaginar. Para já, a vizinhança foi avisada para não pagar nada porque, pelos vistos, também veio morar para aqui uma funcionária da câmara que não deve ter achado grande piada à coisa, ao que ouvi dizer. Atravessando a ponte sobre a ria, do outro lado, sem viveiros privados, já houve recolha de assinaturas e preparam-se mais movimentações para evitar o descalabro de tal iluminada ideia. 
Mas o que me custa mais ainda é a ideia ter surgido depois das pessoas estarem instaladas, de terem comprado ou construído casa e ela não constar das opções dos proprietários desde o início. Ou seja, mais uma vez, mudam-se as regras a meio do jogo. Porque há uma diferença, ainda assim, entre uma ideia estúpida pela qual se pode optar e uma ideia estúpida que já não nos dá margem para escolha. Margem, essa é a questão. Este pessoal deve andar a pensar que isto é Cannes ou St Tropez. Também muitos preços imobiliários, inclusivamente de aluguer, são tão altos, por cá e a nível nacional, que parece que estamos em Paris ou em algum local a transbordar de glamour, cultura ou cosmopolitismo. 
Basta haver umas árvores ou estar perto de uma praiazita acidental, sem qualquer tipo de acesso aceitável, ou então um curso de água mesmo que não cheire nada bem que já dá direito a pagar mais uma soma considerável de euros. Não sei como as pessoas resistem ou resistirão. Não basta os salários serem cortados ou desaparecerem, não basta os aumentos de tudo e de nada, não basta os subsídios que se vão, não basta os empregos que já eram, não basta os sacríficios que o estado nos pede e que muitos já não podem, ainda temos de levar com estas piruetas financeiras dos autarcas que nos assaltam de forma desonesta e sem alternativa. As mãos que nos vêm ao bolso não são as nossas, pois não, as nossas, essas, estão no ar.

4 comentários:

  1. Pois é, fomos apanhados por um bando de salteadores à far-west!
    Espero que aqui em Lisboa não façam o mesmo, eu tenho uma bela vista do Tejo!
    Beijinhos.

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    1. Se fomos :) Spaghetti cowboys de quinta categoria :) Bjs

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  2. É um verdadeiro assalto! Completamente injusto e a penalizar ainda mais quem já sofre com a crise... Eu só posso me sentir aliviada por não ter feito nenhum investimento imobiliário em Portugal. Enquanto continuar esta sobrevalorização ridícula, que ignora por completo a situação económica do país, "jamais, jamais", como dizia o outro! Marla

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    1. Entretanto, apurei que não se trata de uma iniciativa camarária, pelos vistos o autarca até foi bem contra. Peço desculpa por esse lapso e precipitação. De qualquer modo, o "assalto" mantém-se... :(

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