fevereiro 25, 2013

They shoot teachers, don´t they?

                               

Quadro de escola. Há oito anos congelada (vai para nove), sem qualquer progressão na carreira, e apesar da avaliação dos professores que tanto agradou à opinião pública, o vencimento a sofrer cortes consecutivamente, o corte dos subsídios de natal e de férias, e agora a notícia de que vamos passar a receber pelo POPH. Que diferença faz quem nos paga, pergunta o crítico desta profissão. Nenhuma, realmente, se isso significasse receber a horas. Acontece que e entidade referida atrasa os seus pagamentos em largos meses. Para quem está vinculado ao Ministério da Educação desde sempre, desde que enveredou por esta profissão, consciente e voluntariamente, isto significa um retrocesso, um perigo, uma mudança das regras a meio do jogo, sem qualquer hipótese de escolha ou opção, uma injustiça face a quem faz o mesmo que eu e vai continuar a receber a tempo e horas apenas porque não leciona cursos profissionais e, neste caso, numa escola profissional pública. Escusado será dizer o que sentem neste momento os professores de carreira no meio desta jogatina arbitrária que reflete as inconsequentes politicas e experiências que mudam ao sabor dos ministros, das cores, das modas, dos dinheiros que conseguem amealhar, das regalias que não querem perder, da austeridade que não para, do esforço que afinal não é coletivo. Digam lá se apetece trabalhar como trabalho (e trabalhamos, porque somos tantos) e levar com bofetadas destas que nos deixam sem norte. Porque há quem trabalhe para viver. Para pagar contas e ir resistindo, sem qualquer tipo de extras e de aventuras. 
Conclusões duras: nem os trabalhadores que sempre produziram movendo-se na mais absoluta segurança, parecia, resistem ao alucinante caminho da austeridade. Fará os outros, então. Porque razão continuamos a dar o litro nas escolas, muitos de nós, quando o estado e o governo não merecem o nosso esforço (ainda por cima, altamente desigualitária, a situação criada), é coisa que também não entendo. Aliás, entendo, fazemo-lo por brio, por profissionalismo, por burrice. Grande burrice a nossa, quando ainda por cima somos obrigados a passar os alunos para as escolas terem alunos e sobreviverem. E assim assegurarmos o emprego. Que raio de geração estamos a formar? Sem rigor, sem exigência, sem princípios, sem coerência? Que raio de sociedade é esta que só vê números, dinheiro, estatísticas, rankings, mercados e afins? Mesmo tentando manter a serenidade, como venho tentando fazer, há dias em que é difícil. Hoje estou sem pachorra. Sem pachorra para um sistema de ensino viciado, medíocre e facilitista, perpetuador de vícios.  E sem pachorra para os tipos que tudo levam. Foi-se tanto, está a ir-se tudo. Não aguentamos, ai não aguentamos. E nem é preciso ser sem-abrigo. Aqui, chega ser funcionário público e dar aulas.

11 comentários:

  1. Embora não seja professora subscrevo essa revolta.

    Assim não dá ...mesmo...

    Beijinhos e coragem!

    Ana

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    1. É um total desrespeito mudarem as regras a meio do jogo, revoltante, mesmo, Ana.
      Obrigada, beijocas!

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  2. Finalmente alguém que assume "somos obrigados a passar os alunos"!!!!!

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    1. Somos mesmo, caro anónimo. Ou isso ou ficamos sem escolas e sem emprego. Pois do sucesso e das estatísticas (e das metas) fazem depender a abertura de cursos, o número de turmas e mais. Indecente. E preocupante, o "certificar/diplomar" quem nada sabe ou não quer saber.

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    2. É muito preocupante porque serão estes que "quem nada sabe ou não quer saber" os nossos homens e mulheres no futuro!!!

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  3. E sabem o que fazem. Não falham os alvos!
    A minha solidariedade até ao último "obstáculo"...
    Abraço

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    1. Obrigada, jrd. De facto, são golpes de mestre atrás de golpes de mestre. Há que lhes tirar o chapéu. Têm feito tudo muito bem feito, aliás desde há anos. E o atual ministro no silêncio...

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  4. Lamento Fátima, por si e por todos os professores deste país, que merecem todo o nosso respeito. Existem profissões que deveriam ser muito bem remuneradas. Esta é uma delas.

    :)

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    1. maria, nem se trata de reivindicar a remuneração. Trata-se de ficar possivelmente sem receber durante meses quando não assinámos nenhum contrato nessas condições - não me candidatei a um emprego sabendo que assim seria, sou vinculada ao ministério de educação, tal como os outros colegas que não têm cursos profissionais. Injusto e revoltante.

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  5. Que grande chicotada(estamos todos a levar)! Por todo o esforço e trabalho de mérito, não há qualquer reconhecimento... Grave também é que "estes que nada sabem nem querem saber" um dia vão ser muitos, também vão estar na política e noutras áreas de influência. Medo, muito medo! Marla

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