fevereiro 27, 2013

Sim e não



Há pessoas facilmente escravizáveis. Sempre pensei isso. E não estou propriamente a referir-me à história e às relações de poder que ficaram famosas, às relações de domínio em que um subjuga muitos outros por via política. Estou mesmo a referir-me ao dia a dia que podemos observar, a pessoas como nós e que, no entanto, têm dificuldade em dizer não, em recusar um pedido, em atrever-se a não fazer o que dela esperam. A generosidade é uma das maiores virtudes. Preciosa, cada vez mais rara. O desvelo pelos outros e a abnegação também são qualidades. Mas a meu ver a primeira implica uma escolha, uma vontade consciente, um ato de liberdade. A segunda e a terceira, sobretudo, parecem encerrar um laivo de abandono às próprias vontades e necessidades, um submeter à vontade de outrem mais do que o desejável, e nem sempre isto será comportável.
Pensar nos outros, ajudar os outros, colaborar, agradar, tudo são dimensões maravilhosas, que descentralizam o ego e contribuem para o bem estar comum. Mas a bondade, a amabilidade, o espírito de entreajuda não significa, não pode significar, indulgência a tempo inteiro. Ou ingenuidade. Porque há quem use e abuse das pessoas que baixam as defesas, que estão sempre disponíveis, que não conseguem rejeitar o apelo, por vezes malévolo ou egoísta, de um outro. Sim, exigir de quem é benevolente sem parar é ser egoísta, é não ver que a bondade pode ser contrária a uma necessidade e timing pessoais. Exigir sempre e nunca deixar escolher é errado, assim como aceder sempre e nunca opor-se também o é. E falar de amor ou amizade ou lealdade como desculpas para quem exige e para quem dá também não é suficiente. Quando se gosta não se escraviza. Não pode, não é isso que significa gostar. Ou respeitar.
Claro que as pessoas que nem sempre estão disponíveis, que conseguem dizer não, que também pensam nas suas próprias exigências não são nunca tão populares. Claro. Mas que quem é popular dessa forma saiba que esse tipo de afeição é mais um amigalhaço porreirismo do que uma verdadeira admiração. Resume-se a isto. A generosidade está no patamar das qualidades maiores. Mas a complacência ingénua e quase masoquista não. É preciso saber dizer não. Porque simplesmente há quem precise de ouvir não.

fevereiro 26, 2013

Sonhando com o inimigo


Confesso que, para meu grande espanto, estive quase a gostar de um deputado. Foi hoje, enquanto via o jornal da SIC. Este surpreendente facto deve-se a várias coisas ao mesmo tempo:
1. falar italiano (é meio caminho andado para eu me perder de amores)
2. usar brinco (é o meu lado irreverente em estado coma)
3. ser bonito que se farta (a estética é cá uma coisa)
4. nunca ter estado na política antes (não tem nada a ver com os problemas da minha profissão e com a crise, portanto)
5. chamar-se Stefano (gosto tanto, assim como de Stephan e mesmo Steven, nomes que perdem todo o charme em português)
6. não ir receber o salariozinho de 20.000 euros por querer cortar as despesas da política
Perigoso, portanto. Eleições italianas a fazerem estragos. Estava eu embalada nisto quando se diz que o novo deputado vai ter que usar fato e gravata no parlamento. Respirei de alívio. Quebrou-se parte do encantamento. Vai parecer igual aos outros. E com sorte, para mim, que não quero ter nada a ver com a política, vai ficar igualzinho no resto daqui a uns tempos. Espero que não. Não por mim, estava a brincar (estava?), mas por ele e pelos outros.

fevereiro 25, 2013

They shoot teachers, don´t they?

                               

Quadro de escola. Há oito anos congelada (vai para nove), sem qualquer progressão na carreira, e apesar da avaliação dos professores que tanto agradou à opinião pública, o vencimento a sofrer cortes consecutivamente, o corte dos subsídios de natal e de férias, e agora a notícia de que vamos passar a receber pelo POPH. Que diferença faz quem nos paga, pergunta o crítico desta profissão. Nenhuma, realmente, se isso significasse receber a horas. Acontece que e entidade referida atrasa os seus pagamentos em largos meses. Para quem está vinculado ao Ministério da Educação desde sempre, desde que enveredou por esta profissão, consciente e voluntariamente, isto significa um retrocesso, um perigo, uma mudança das regras a meio do jogo, sem qualquer hipótese de escolha ou opção, uma injustiça face a quem faz o mesmo que eu e vai continuar a receber a tempo e horas apenas porque não leciona cursos profissionais e, neste caso, numa escola profissional pública. Escusado será dizer o que sentem neste momento os professores de carreira no meio desta jogatina arbitrária que reflete as inconsequentes politicas e experiências que mudam ao sabor dos ministros, das cores, das modas, dos dinheiros que conseguem amealhar, das regalias que não querem perder, da austeridade que não para, do esforço que afinal não é coletivo. Digam lá se apetece trabalhar como trabalho (e trabalhamos, porque somos tantos) e levar com bofetadas destas que nos deixam sem norte. Porque há quem trabalhe para viver. Para pagar contas e ir resistindo, sem qualquer tipo de extras e de aventuras. 
Conclusões duras: nem os trabalhadores que sempre produziram movendo-se na mais absoluta segurança, parecia, resistem ao alucinante caminho da austeridade. Fará os outros, então. Porque razão continuamos a dar o litro nas escolas, muitos de nós, quando o estado e o governo não merecem o nosso esforço (ainda por cima, altamente desigualitária, a situação criada), é coisa que também não entendo. Aliás, entendo, fazemo-lo por brio, por profissionalismo, por burrice. Grande burrice a nossa, quando ainda por cima somos obrigados a passar os alunos para as escolas terem alunos e sobreviverem. E assim assegurarmos o emprego. Que raio de geração estamos a formar? Sem rigor, sem exigência, sem princípios, sem coerência? Que raio de sociedade é esta que só vê números, dinheiro, estatísticas, rankings, mercados e afins? Mesmo tentando manter a serenidade, como venho tentando fazer, há dias em que é difícil. Hoje estou sem pachorra. Sem pachorra para um sistema de ensino viciado, medíocre e facilitista, perpetuador de vícios.  E sem pachorra para os tipos que tudo levam. Foi-se tanto, está a ir-se tudo. Não aguentamos, ai não aguentamos. E nem é preciso ser sem-abrigo. Aqui, chega ser funcionário público e dar aulas.

fevereiro 24, 2013

Estranha forma de fé


As 1001 interpretações da renúncia do papa que por aí se leem maçam-me. Primeiro porque não é um assunto que me inquiete, segundo porque foi dita a razão e não há porque não acreditar nela. As teorias da conspiração nunca foram do meu agrado, a igreja não faz parte das minhas preocupações e o que tenho a dizer é que ele é livre de o fazer e que demonstrará inclusive bom senso. Não estamos é habituados a que alguém com poder o faça. Achamos sempre que há coisas mais obscuras por trás, ao invés de o vermos como um exemplo, sempre nobre, de desapego ao poder. Está velho e cansado, renunciou, fim da história.
É verdade, a igreja, naquilo que é e se transformou ao longo dos tempos, não me interessa. E sei porquê. Estava a ler Alberoni quando o descobri, ou confirmei, mais isso. Há quem viva a religião ao nível da superfície e quem a viva ao nível da profundidade, diz o sociólogo. O primeiro nível engloba os ritos e rituais, as práticas coletivas, a igreja como instituição e impulsionadora de certos comportamentos em detrimento de outros, tudo aquilo que não me diz nada. O segundo nível tem a ver com a questão da espiritualidade, a vivência da fé a um nível íntimo, sentido, inspirador e moldador de valores refletidos e interiorizados. Se acredito? Acredito. Deus, e mesmo Jesus, que considero uma figura extraordinária. Católica por geografia, nascimento, educação, meio. Não me deu para mudar, contudo, para quê, continuaria a não gostar do nível da superfície, demasiado rebelde para aceitar dogmas e ideias que são contrárias à liberdade, respeitadora, tolerante. Aglomerados em forma de romaria também não fazem o meu género. Mas cultivo a solidão e o silêncio de uma igreja vazia ( e o mesmo pode acontecer numa mesquita ou sinagoga, não vejo diferença). A minha espiritualidade é do estilo ecuménica, universal, e existe porque me reconforta. Quem não acredita e é feliz e faz o bem, ótimo. Quem acredita e idem aspas, o mesmo. Como eu. Agora tudo o resto que vai para cerimónias e afins, passando por padres que pouco me dizem, passo. Daí que me passe ao lado esta questão da sucessão papal. Ou talvez não totalmente. Se o sucessor for africano ou libanês parece-me bem. Por causa da tal universalidade que aprecio e que é bem precisa entre religiões, credos e raças. Rezo interiormente, pois, para que o mundo se torne melhor, a nível mais profundo.

fevereiro 23, 2013

O campo e a cidade


Cada vez parece haver mais gente a deixar os seus empregos e estilos de vida citadinos e a optar por viver mais ligada à natureza, deslocando-se para o campo. Sobretudo quando se chega a determinadas faixas etárias. Estrangeiros já o fazem há anos e portugueses agora também. Uma vida mais natural, mais autêntica, mais tranquila, sem trânsito, sem stress, sem as pressões da vida urbana. Eu própria sinto muito mais o apelo da natureza, de uma existência mais calma do que há anos atrás. Era muito mais citadina, fazia-me impressão estar em locais bucólicos, queria movimento, a vida social e os locais urbanos eram-me muito caros. Nem pensar em trabalhar em escolas isoladas, em lugares ermos e sem nada à volta.
Ora bem, desde há alguns anitos a esta parte, as coisas mudaram, eu mudei. Vivo numa pequena cidade e adoro, tenho mar, campo e cidade perto (esta em que vivo e a maior, Aveiro, a cinco minutos), é só escolher o que me apetece e o que o(s) tempo(s) permite(m), há por aqui uma luz enorme (os prédios não podem ter mais do que o segundo andar), espaços para andar a pé, correr, andar de bicicleta, jogar ténis, piscinas, tudo aqui ao lado, e outras facilidades, ao ar livre, sobretudo, pois é aquilo que mais me revitaliza.
Mas a grande mudança e prova de que estou tão diferente é a localização da minha escola. No meio da floresta, perto da praia, é certo, mas no meio de uma mata protegida, a escola está longe da civilização, é verdade, não há nada perto que se possa fazer indo a pé. Tem um café em frente, vá lá, e umas casitas, mas é uma grande área que se abriga sob os pinheiros. Ora, há anos atrás, não gostaria de lá trabalhar, aposto. Mas coincidiu com a maturidade, digo eu, e portanto é-me apaziguador trabalhar no meio do verde, com os pássaros a chilrear, o vento a soprar, o barulho do mar a ouvir-se, o silêncio, o incrível silêncio que se absorve e que nos renova, até porque respiramos uma imensidão de ar puro, mesmo puro.
A deslocação de carro é feita no meio da mata, sem semáforos, sem barulho, sem trânsito desenfreado. Há inúmeras vantagens em trabalhar-se desta forma. Menos cansaço, menos stress, menos confusão. Mais energia, mais boa disposição, mais produtividade, mais gosto, mais entrega. De igual forma, há vantagens em viver em locais mais pequenos, que passam por facilidade em estacionar, ausência de ruído, relações humanas mais próximas (cumprimentamo-nos muito mais e falamos com os vizinhos, aqui), uma existência mais verdadeira e mais reconfortante animicamente.
A cultura, os eventos sociais, as lojas e as compras podem ser em menor escala, não temos o café à porta, é certo, mas há compensações, grandes compensações. No fundo, trata-se de um estilo de vida mais antigo, mais natural. E quanto mais no campo, mais natural. Daí que não me surpreenda minimamente quem esteja a dar o salto para fora das urbes e do ritmo que impõem. Vem com a idade, vem com a saturação de ambientes que sugam a energia, vem com o desejo de ser mais feliz por outras vias, vem com o reconhecimento de que a natureza é a mãe que cura muitos problemas. E que dá vida. Neste caso, uma nova vida.

fevereiro 20, 2013

Antes do amadurecer

                         

Tenho conhecido de perto gravidezes precoces, em idades e circunstâncias que não comportam a criação de um filho, tanto a nível financeiro como em termos de maturidade psicológica. Algumas destas jovens mães (e pais) são maiores de idade - 19, 20, 22 anos - mas ainda estudantes, alguns deslocados do seu país e das suas famílias e com pouquíssimos apoios. Na qualidade de diretora de turma, sobretudo, conversei várias vezes com alguns rapazes e raparigas sobre este tema, alertando-os e relembrando-os dos aspetos a ter em conta para viverem a sua juventude sem riscos e assegurarem condições de vida que passe por segurança material (pois, sobretudo nestes tempos) e liberdade de escolhas. 
As minhas palavras (e certamente a de outros adultos, inclusive professores) não têm surtido o efeito desejado, nalguns casos. Não que elas tivessem de ter esse poder, o de traçar destinos um bocadinho mais pensados, mas porque era bom, muito bom, que não visse depois os rostos apreensivos por causa de situações novas, situações que não souberam prever, antever, controlar. Situações para as quais denotaram um incrível desconhecimento em pleno século XXI, com as tecnologias e a informação que elas permitem na ponta dos dedos. Porque vamos acreditar que a maior parte dos deslizes acontece por desconhecimento. Ainda e apesar dos tempos e lugares mais esclarecidos, teoricamente.
Se por desconhecimento, adolescentes ou jovens adultos ainda (sem qualquer tipo de independência económica nem maturidade emocional) escorregam na parentalidade, ainda vamos compreendendo, ou melhor, vamos mostrando-nos compreensivos e ajudando no que é possível. Mas há casos em que me parece que continuam a ser jogadas expetativas amorosas desta forma. Dá-me a ideia de que, para algumas raparigas, esta ainda parece ser a forma de garantirem que o rapaz fique a seu lado. Ora, nada mais errado. Se os amarram para sempre por meio de um vínculo de sangue e alguma obrigação financeira para com uma criança em comum, não os prendem pelo afeto, pelo menos porque eles ainda não se querem prender, e isto é bem pior. Fantasiar o futuro a partir desta premissa é uma tontice.
Conversei com um, por exemplo, que não queria seguir as pisadas do pai, que os abandonou há muito tempo e que tem filhos da companheira atual e é a eles que se dedica. Viu-se ele próprio depois numa situação que, a mim, não me parece comportável, a longo prazo. O seu rosto cabisbaixo, a sua energia e alegria habituais completamente anuladas, o seu receio pelo futuro, um futuro de alguém que não queria - nem saberia - ser pai ainda. Um filho é uma alegria e uma benção mas tudo tem a sua altura certa. Consoante as circunstâncias que envolvem cada um, num preciso momento. Imagino que a mesma apreensão assalte a jovem mãe. Mas o que importa é que nenhuma criança seja fruto de uma armadilha. Porque não funciona. Não funcionará para ninguém. E isso é que me dá voltas ao estômago.

fevereiro 19, 2013

Os sete nada magníficos


1. Nicholas Cage
Não dá e não aprecio filme nenhum em que entre. Total falta de carisma, total ausência de sedução e a vulnerabilidade, a existir, não é a do meu género. É verdade, não gosto e acredito que muitos se espantem.

2. Fred Astaire
Vi, quando era bem novita, mas mais porque via os clássicos que passavam à tarde na tv e assim ia conhecendo o cinema. Pois não aprecio e fiquei contente quando comecei a ver os musicais do Gene Kelly. Que diferença.

3. Javier Bardem
Pois pode ser excelente mas não está nos favoritos, nem nada que se pareça. Por isso "Comer, orar, amar", por exemplo, não me disse absolutamente nada. Uma história que podia ser outra, bem outra, não fossem os atores, sobretudo ele.

4. Van Diesel
Nem filmes, deus me livre, nem a figura, nem outras parecidas. As musculaturas no cinema não me impressionam minimamente, pelo contrário. Posso ver ocasionalmente um bom filme de ação mas com outro tipo de atores.

5. Bruce Willis
Mais ou menos o que disse do anterior. Mas nem nos filmes mais "sérios", não consigo ser fã. Acho alguma graça, ocasional, como quando fez par com a Medeiros em "Pulp Fiction". Mas não (o) levo a sério e nunca será um galã.

6. Mickey Rourke
Foi indo de mal a pior. Ainda o apreciei em "Rumble Fish" mas depois disso praticamente nada. Não é só porque foi ficando feio, bem feio, mas porque realmente não há filmes com ele de que goste. Nem o das quase dez semanas.

7. Roberto Begnini
Parece ser ótimo ator mas não joga no meu campeonato. Nem a ternura do "La vita e bella" me fez apreciadora do seu género cómico-trágico. Mas talvez tenha que lhe dar algum crédito e conhecer melhor as suas performances.

(Deve haver outros. Atores de quem não gosto. Não só não estou com tempo para refletir como não estou com boa memória. Amanhã. Ou depois. Aguentem-se por aí.:))

fevereiro 18, 2013

Bons porque amados

                              
    
Hoje recebi um coraçãozinho de cartolina, escrito à mão, que dizia assim: "Não somos amados porque somos bons mas somos bons porque somos amados." Não sei quem o escreveu, recebi-o na escola, entregue pelo cupido de serviço na celebração do dia do amor (com alguns dias de atraso) feita no auditório. A frase é tão bonita, não sei quem a escreveu e se é de alguém conhecido ou da pessoa ou pessoas que a escreveram. Acredito que possam ter sido vários alunos meus em conjunto porque são tão amorosos e simpáticos, tantos deles. Gostei a valer e é, de facto, isso mesmo. Podemos ser amados apesar dos nossos defeitos, falhas e imperfeicões. E o amor - e neste caso a amizade e o carinho - só nos pode elevar e tornar melhores. 


P.S. Houve alguns outros professores que receberam. Gestos de ternura dos alunos que alimentam a nossa dedicação. Se não fossem tantos deles...

fevereiro 17, 2013

Vícios



Fui fã da série televisiva Miami Vice, oh se fui. Era só começar aquele genérico e já estava uma pessoa apanhada. Mas não fui menos do remake cinematográfico bem mais recente com Colin Farrell. Ainda por cima a contracenar com uma das minhas eleitas, a orientalíssima Gong Li. Víciada no bom cinema,  no oriente e nos romances assim no écrã. 

fevereiro 15, 2013

Oiçam


Às vezes é uma luta para nos deixarem falar, não é? Porque algumas vozes são mais poderosas, porque alguns são mais enérgicos, porque outros se chegam sempre muito à frente, porque alguns gostam mesmo é de se ouvir, porque outros nos subestimam, porque não queremos atropelar ninguém e assim somos nós frequentemente atropelados. Há pessoas assim, que atropelam, e outras que são atiradas ao chão. Que preferem, desta forma, a palavra escrita porque a verbal lhes falha, porque outros fazem com que ela falhe e não nos apetece propriamente gritar ou fazer como os demais. Mas não é sempre assim, claro. Se fosse, o significado não seria o melhor. Mas às vezes é, e porque não nos apetece. Não nos apetece fugir do nosso registo mais sereno ou mais low profile ou mais simples. O mundo não está para os simples. Podemos por-nos em bicos de pés e fazer-mo-nos ouvir. Podemos e fazê-mo-lo. Quando é imperioso que o façamos. Mas também podemos ignorar, quando afinal nada do que se ouve verdadeiramente importa. Deixai-os. Deixai-os falar e bradar. Deixai-os pensar que levam a avante. Permanecemos nós mesmos. Mesmo se alguém não nos ouve. Não ouve e não importa. Porque se importasse, ouvia.

Privações

Ainda mantenho uma dúvida que discuti com um amigo há alguns anos.
O que é melhor? (E não vale a pena responder o meio termo, estas pessoas a que me referirei não têm meio termo.) Cá vai.
É melhor viver sem liberdade, ou sem alguma, na mais completa riqueza e até opulência ou viver com liberdade social mergulhada na mais extrema pobreza e desabrigo humano?

fevereiro 14, 2013

E tudo o estado levou


Encanitante, as voltas que isto tudo dá. Aquilo que julgávamos certo, desta vez profissionalmente falando, não está, afinal, nunca garantido. Quando era novita, o meu pai e tantos outros diziam para arranjar um emprego do estado porque as empresas privadas corriam sempre o risco de falir e o estado garantiria sempre trabalho e salário. Pois agora se a primeira perspetiva continua a ser possível a segunda tornou-se também ela possível, imensamente possível. Julguei que, estando efetiva, estava segura. Perto de casa, já, e finalmente para mim, julguei que quando o meu lugar estivesse em risco tudo estaria praticamente a falir. Parece que muita coisa vai falindo mas, e graças a deus, muita coisa ainda vai aguentando, por obra de milagres ou algo mais. Ia aguentando. Hoje temo também pelo meu futuro como docente. Sem adiantar muito mais, sinto que, pela primeira vez, aquilo que ouço acontecer a outros, a tantos, pode também, poderá vir a acontecer-me a mim. E não é porque há um sentimento de diferença, evidentemente, mas porque a segurança de que usufruo - uma segurança, minha e de outros, que parecia inabalável há alguns anos - pode voar com o vento. Um ar e vai-se.  Sem  mais pormenores, insisto.

Claro que os tempos mudaram, que o conceito mais antigo de "a job for life" (um emprego para a vida) está a ir-se e desaparecerá. Ainda há pouco tempo mostrava um excelente vídeo aos meus alunos do 12º ano que falava disso mesmo - do mundo do trabalho em mudança. Entre outras coisas, dizia que até aos 38 anos, as gerações mais novas irão provavelmente ter 14 empregos. Por várias razões, devido a várias circunstâncias que revestem o pano de fundo mundial da atualidade. Mas quem já não tem menos de 38 não lhe apetecerá muitas aventuras.  Sobretudo quando as alternativas são manifestamente insuficientes. Voltar para longe de casa, isto se mantiver o emprego, percorrer os caminhos de Portugal, e já vamos com sorte por não termos obrigatoriamente de atravessar fronteiras, desequilibrar harmonias familiares, é um retrocesso. Não se trata de flexibilidade porque esta implica colher algumas vantagens e ter algumas opções no emprego e algum livre arbítrio nas escolhas profissionais. Ela não significa perder benefícios ou avanços justa e arduamente conquistados. Que afinal é no que isto se resume. Despejo. Sem apelo nem agravo. Despejo e nada mais. 

fevereiro 13, 2013

Locus amoenus


Deparei-me no outro dia com uma passagem de um livro de Alberoni que adquiri recentemente em que o autor referia que certas áreas citadinas concebidas por alguns arquitetos são deprimentes. Penso que se referia a certos conceitos minimalistas, áridos, frios, impessoais em demasia que vão povoando algumas ideias modernas no que à arquitetura concerne. Mas o que me chamou a atenção nisto foi o facto de ser verdade, que os espaços podem ser realmente deprimentes, concebidos por arquitetos com pouca alma ou não. Pessoalmente sou sensível aos espaços físicos, à estética dos lugares, à sua conservação e beleza.
Se os espaços naturais, floresta, campo, mar, ficam bem mais reconfortantes num dia de sol, a verdade é que tudo o que é natural tem à partida beleza, se se encontrar praticamente intacto e não "desfeiado" pela mão humana. Pois esta detém o poder suficiente para modificar de forma harmoniosa a natureza em redor ou desvirtuar os espaços revestidos a pureza que ainda se encontram por aí. Seja nas aldeias seja nas cidades, independentemente se as correntes arquitetónicas foram ou são barrocas ou futuristas, o que me choca é a degradação dos edifícios, das ruas, dos passeios, de tudo o que existe e que pode ser consertado pelo homem.
Em países chamados do terceiro mundo ou ainda não desenvolvidos é complicado. Não que a degradação não exista no hemisfério norte, generalizando assim os países ditos mais ricos, mas já lá vamos. É complicado para mim, diga-se. Não é algo que me faça sentir confortável, associo a pobreza extrema e a condições duras de vida, por vezes abaixo da dignidade humana, e sim, choca-me. Não consigo passar sem sentir nada, como se fosse imune ao sofrimento que muitas vezes acarreta, nem à injustiça do mundo. Nesta linha, os espaços degradados, sujos, deprimem-me. Sim, admito. Elevado sentido estético? Sensibilidade? Snobismo? Equilíbrio? Seja o que for.
Mas dizia que também por cá vemos muita degradação dos espaços, em Portugal, concretamente. Ausência total de brio municipal, de intervenção coletiva ou individual, de sentido estético, de cuidados de limpeza, de tudo o que faz um sítio agradável e onde apetece estar. De aldeias a cidades, claro. Resumir-se-á tudo a uma questão financeira? Duvido. Há pessoas que não cultivam o belo, de todo. Não que o tenham que fazer mas é um questão de saúde, pública até, e de sanidade mental ao mais alto nível todos contribuirmos para a manutenção dos espaços, para a sua reabilitação ou reconstrução e fazer do planeta um lugar bem mais apetecível. Ou não será?
Política, má gestão financeira, desresponsabilização individual, indiferença, mentalidade. Todos jogam para tornar pouco apelativo um local. Com a agravante de que pessoas estão lá. E que convivem ou têm de conviver em espaços deprimentes. Uma espiral de problemas, muitas vezes. Entre o feio e o belo, escolho sempre o belo. Q.b, claro. Não estamos propriamente a defender que tudo seja (re)tocado por  designers de in/exteriores ou arquitetos que trabalham no Dubai. Mas que os espaços minimamente harmoniosos e a qualidade de vida que geram são importantes, são. Para mim, mesmo muito.

fevereiro 12, 2013

As vozes

Há vozes masculinas no cinema que são um bocadinho para o irresistível. Porque maravilhosas, tremendas, até. Lá fora, duas: Russel Crowe e Clive Owen. Obviamente que o seu charme e carisma não passa apenas pela voz, mas que ela faz parte, faz. Cá dentro, uma: Ricardo Carriço. Ouvi-a hoje e daí o post. Que não é grande coisa, é certo. Mas que ele há vozes, há.


(O trailer é um teaser, não o original. Também o há, mas como não aprecio o herói do filme em questão... Já a voz é do Russel e é, oh felicidade, a sério.)

A aldeia da roupa global

                                      
Se não se importam, não vou dissertar sobre o papa. Embora pense que ele dar-me-ia razão no que vou escrever. Afinal, também tenho um lado conservador, ninguém é perfeito.
Este post tem origem na leitura e conhecimento de várias notícias:
- grupos que na Tunísia perseguem, ao que parece, raparigas na rua e que lhes dizem para se cobrirem com o véu
- a cultura da violação na Índia e o argumento de que a forma como se vestem induz e convida a essa prática
- as regras do comprimento da saia para as candidatas a um lugar na Emirate Airlines
- o despedimento de uma assistente de um dentista nos EUA por usar roupa atrevida

A roupa feminina no centro da discussão. Terei de ir por partes.
1. Inaceitável, este tipo de perseguição. Incompreensível, dizerem-me que tenho de andar tapada, de véu ou pior ainda de burqa. Intolerável, perseguirem-me por causa disso. Não gosto de trevas, de medievalismo, de obscurantismo e isto cheira a isso. Cheira putridamente a isso. Retrocesso social, desrespeito pela liberdade individual, seja lá onde for. (Embora no caso tunisino acredite que não vai vingar, há demasiada secularidade já para se voltar atrás, a ver vamos mas acredito ainda, há muita gente desperta e o assassinato do sindicalista de esquerda só veio reforçar a combatividade dos seculares).
2. Inaceitável, novamente. Inaceitável a prática da violação, a da violação animalesca, selvática, tolerada e não punida. Inaceitável este argumento de que as mulheres podem ser violadas por causa da roupa que vestem, até porque não me parece que andem propriamente descascadas na Índia (e mesmo se estivessem). É óbvio que o fenómeno da violação não se circunscreve a este país nem a este tempo, e que pode acontecer se uma rapariga (e não só) anda sozinha, e por vezes até acompanhada, a horas tardias, por sítios isolados e perigosos. Pode acontecer enquanto existirem tarados por aí, enquanto existirem cobardes que não controlam seja lá o que for. Por outro lado, não pode acontecer. (E muito menos num autocarro. Ou em lugar algum.)

Parece-me, contudo, que o que vou escrever a seguir será, seria, mais do agrado do papa.
3. Não vejo mal nenhum em se exigirem padrões de conduta e vestimenta específica no exercício de funções. Não gosto de uniformes, pessoalmente, mas acho que há roupa que é adequada a um determinado número de circunstâncias e outra que não. Nos exames nacionais é-nos exigido que não usemos saltos altos (por causa do barulho ao circular), mini-saias, calções (porque os códigos são para ambos os sexos, naturalmente). Ao princípio pode causar-nos alguma estranheza, por ser regra, exigência, imposição, mas há que conviver com isso. Pessoalmente também me chama a atenção, e não pelas melhores razões, certa indumentária exagerada e contrastante com o ambiente. Credibilidade, sentido do decoro, de algum decoro, respeito pelo lugar e momento, saem afetados. Conservador? Talvez. Mas a minha noção de liberdade - que é grande, acreditem - também tem limites. Por várias razões que têm a ver com a liberdade de outros.
4. Neste sentido, o despedimento da assistente não me causa choque. O argumento é ridículo e  machista, ok, inibidor da sua liberdade, é certo, mas, e alargando um pouco a assunto, nós também somos livres para escolher, se pudermos fazê-lo, trabalhar com pessoas com quem não nos sentimos desconfortáveis. Se tenho um negócio ou uma empresa e não gosto que os funcionários usem tatuagens ou piercings ou mini-saias ou calções ou qualquer outra coisa penso ter o direito de os preterir em favor de outros. Porque eu própria tenho normas de conduta no que diz respeito ao vestuário. Não vou para a escola como vou para a praia ou para uma festa especial (embora seja simples, demasiado simples, na maior parte das vezes). Mas tenho extremo cuidado com as aulas, sobretudo. Decotes e afins. No outro dia, apercebi-me que as minhas pulseiras, pelo barulho e graça (digo eu) que criavam enquanto falava e gesticulava, desviavam as atenções dos alunos num momento em que concentração era necessária. Pulseiras, sim. Vou ter de as retirar na aula, e não vejo onde esteja  o problema.

É verdade, não compactuo com todas as liberdades em todas as circunstâncias. Se faz de mim alguém conservador, também não é problema. O problema da sociedade atual, ou um deles, é esse mesmo. É achar que se pode fazer tudo, de qualquer maneira, cada um à sua maneira. Independentemente de ser homem ou mulher. Como não tenho complexos de inferioridade de género, uma crítica ou observação à vestimenta de uma mulher é igualzinha a outra em relação a um homem. Se tiver alguma lógica e tiver em conta o momento, lugar e função. Na rua, toda a gente é livre de andar como bem quer.  E toda a gente é livre para gostar de como os outros andam ou não.


(Sempre acrescento que a foto é gira, mesmo gira.)

fevereiro 11, 2013

Dói(s)

No espaço de 2, 3 dias teremos o carnaval, português, e o dia dos namorados, nome que, a escolher,  prefiro em inglês. Confirma-se. Uma desgraça nunca vem só.


fevereiro 10, 2013

Os filhos da doença


Não sei se foi a hora tardia em que o li, mas o artigo do Público online, sobre os recentes casos de morte de crianças pelas suas mães, deixou-me profundamente chocada. O choque prende-se com o mais profundo horror que é ver vidas de crianças inocentes serem ceifadas precoce e tragicamente. Mas também se prende com o horror de ver alguém chegar a tais limites de depressão, de desespero, até de loucura. Já aqui escrevi sobre o suicídio e também sobre o estigma e a nossa crueldade face às doenças do foro mental. Não consigo condenar o primeiro nem compreendo os segundos. Sei, imagino, que deve ser horrível chegar a este ponto e só posso desejar que nunca nos aconteça a nós. Ao contrário de quem prontamente critica e aponta o dedo e exibe superioridade moral e força psicológica em todas as circunstâncias, eu penso que a junção de elementos como pressão, solidão, desamor, desemprego, falta de dinheiro, por exemplo, cria um cocktail especialmente perigoso. Que, espantem-se, pode calhar a todos. Se é verdade que há armas das quais nos podemos munir para fazer face aos problemas e desgastes da vida quotidiana, das suas exigências e dos seus tormentos, também é verdade que há quem não consiga persistir, por um determinado conjunto de circunstâncias. Fatores como a educação e a genética, por exemplo, podem favorecer mais os níveis de serotonina ou não. Personalidades bem estruturadas, bem amadas, estimuladas, criam vivências e sentimentos mais harmoniosos, fortes e resistentes. Nem sempre acontece e não é, muitas vezes, quase e quase sempre, culpa das pessoas. Nem sempre é só biológico. É da forma como os ajudaram, ou não, a ver o mundo e sobretudo a elas próprias. Por isso defendo que a educação, e o amor nesta, é fundamental, embora haja tendências pessoais que possam e podem complicar bastante as coisas.
Chocada, pois. Lamento tanto que não tenha havido um outro desfecho. Por todos, embora, ainda assim, mais pelas crianças. Porque não tiveram tempo, o seu tempo, o tempo para o que quer que fossem depois. Li os comentários ao artigo. Há de tudo. Desde a crítica às mães modernas até ao reconhecimento de uma depressão profunda como algo de extremamente penoso e potenciador de tragédias. Os tempos são difíceis, loucos. A sociedade de consumo tem alienado as pessoas, todos nós, as relações baseiam-se na imagem e na superficialidade, no ego e no sucesso a todo o custo. O ritmo, exige-se praticamente energia non stop. Isto é difícil, é desestruturante, arrasta-nos para comportamentos que não promovem o bem-estar interior nem a harmonia com os outros. Como lamento tudo isto. Em dois dos casos as mães eram professoras, na verdade, uma profissão dos diabos em termos de stress mental. Mas não podemos ir apenas por aí. Num dos casos o filho era deficiente. Duro, mas também não explicará tudo, de longe. É muito mais transversal e é bom que ninguém se ponha de fora. Não a nível das intenções e de um padrão de vida, opcional e consciente, mas a nível da queda que pode acontecer a qualquer um em algum momento. Que dizer, pois? Resta-me desejar que tal não nos aconteça, repito. Sei que os que acham que tudo controlam não vão perceber isto. Ou aceitar. Outros entenderão certamente aquilo que quero dizer. Digo eu. Ou espero.

fevereiro 09, 2013

Impressões


1. As penas em Portugal são leves, demasiado leves, para quem comete crimes sem perdão, para mim sem perdão, como pedófilos e outros. Independentemente de terem culpas ou não, acreditando eu que a justiça não terá, ainda assim, falhado no veredito da Casa Pia, a verdade é que os recursos, recorrentes recursos, podem tirar os culpados, considerados culpados, da cadeia dentro de um ano. Prisão domiciliária, pulseira eletrónica, as mordomias podem continuar como se nada tivesse acontecido. Pelo que ouvi, e vi e ouvi a notícia de relance, isso pode acontecer se o réu admitir a culpa. Portanto um confesso perpetrador de crimes pode ser aliviado do seu sofrimento. Boa. Um outro que deu um pontapé num animal, no cumprimento possível de um certo dever, pode ficar com a vida um bocadinho do avesso com as consequências. As prioridades e os disparates que, trocadas, causam parece que não abandonam o infindável reino das constatações nacionais. Para longe, longe disto.

2. Sorrio perante as filas de gente a candidatar-se a um emprego nas Emirate Airlines. Sorrio, não pelo que isso significa, desemprego desenfreado, mas porque também eu nutro simpatia pelo Dubai (onde será o alojamento) e o exotic chic que por lá se respira. Somos mesmo engraçados, eu incluída. Não gostamos dos costumes muçulmanos ou árabes, no que diz respeito a estilos de vida marcados pela falta de liberdade e ausência de alguns direitos, quando eles estão associados à pobreza, pois quando estão envoltos em riqueza o caso muda completamente de figura. Não me ponho de fora, ia para o Dubai já, se fosse novinha e solteira. O luxo, dizia uma das candidatas. Pecadora me confesso. E não é da moda de que falo, no meu caso. É da estética a um nível global, dos edifícios, da arquitetura, da limpeza, da qualidade de vida. Aceita-se melhor que haja véus a cobrirem os rostos, é verdade. Não serão os nossos e no meio de tanta opulência tudo é perdoado. E sorrio. Por isto e ao mesmo tempo porque, de certa forma, também eu embarcaria. E não sei se o lamentaria.

Energia


Uma enriquecedora viagem pelo mundo das energias renováveis, sobretudo, colocou-me offline durante uns dias. Ganhos, muitos. Viagem física e a exploração de que tanto gosto de locais novos. Convívio salutar que me fez rir até às lágrimas. Descoberta, redescoberta, de que se vive sem internet e sem redes sociais. Bom, talvez não a longo prazo, é certo. Fiz uma pequena visita ao FB para atualizar o meu estado e dizer ao mundo onde estava, mundo composto por 300 e tal pessoas, é certo, é onde a popularidade chegou, e está muito bem. Consegui visualizar o AE, pois, tinha que ser, e verificar que nada se tinha alterado significativamente. Mas que bom foi estar longe da rotina de sempre e sobretudo das tarefas de sempre. Ia nos ganhos. Aprendizagens que muito contribuirão para a melhoria das aulas sobre o ambiente. Confirmação de que o ser humano tem níveis de inteligência superior. Relaxamento pela paz da paisagem alentejana. Reforço da minha preferência crescente por ambientes não urbanos. Sorriso de orelha a orelha e níveis de energia reforçados no dia seguinte apesar das poucas horas de sono. 
Sustentável a tempo inteiro? Não, decerto. Até porque se confirma que há humores que não se cruzam e que o sentido de humor pode ser mal interpretado. E que sem humor as coisas pioram, muito. Para quem não o tem, eseencialmente. Mas a renovação mental e física através de tanta energia junta e de forma diversa foi e é sempre qualquer coisa.

(Interessará isto ao leitor? Provavelmente, não. Passar a página, rápido, e esperar que a energia não falte para atualizar o diário de outra forma. Espero ter conseguido armazenar alguma...para resistir a tudo ou muito do que a suga.)

fevereiro 03, 2013

Sedução

Hoje, ao almoçar num restaurante familiar, encontrei lá um professor que me deu aulas na universidade. Um professor inesquecível, na verdade. Inglês, a viver em Portugal há anos e anos, deu-me literatura inglesa por três vezes e fiz também com ele o seminário no ano de estágio. Não é dado a grandes diálogos e as suas aulas eram eminentemente expositivas. Confesso que gosto de poder participar e que gosto de comunicação, mas, neste caso, bebíamos o que dizia, aprendemos muito, e aprendemos com muito gosto. O tema do seminário era a visão cinematográfica de obras literárias e, portanto, lemos várias obras e vimos a sua adaptação ao cinema.
Uma delas foi "Tess of The D´Urbervilles", de Thomas Hardy. O filme chamava-se e chama-se "Tess" e foi dirigido por Roman Polanski. Lembro-me que a história era marcada por um certo determinismo que parece ser apanágio da obra de Thomas Hardy e que gostei de ler o livro pelo classicismo romântico e trágico que emanava das suas páginas. Sou fã das paisagens britânicas e das personagens perdidas que por lá se encontram em tanta ficção de língua inglesa. Mas o filme também não me desiludiu - ok, admito que tinha imaginado as figuras masculinas um pouquinho mais bem parecidas. A heroína, Tess, foi interpretada por Nastassja Kinski, na altura, se não estou errada, a viver um affair com o realizador de origem polaca, que sempre pareceu gostar de meninas bem mais novas. Era realmente muito nova e viria a ser muito apreciada pela sua beleza e talento, embora mais tarde quase tivesse desaparecido dos holofotes (na verdade, não sei nada dela há muito tempo). A cena em que come os morangos ficou famosa, numa espécie de rendição pecaminosa de uma inocente ao jogo de sedução malandra do seu "primo" sem carácter. A sedução de que foi vítima e os resultados da mesma numa sociedade altamente conservadora, século XIX,  dão, de resto, o mote à intriga. 
Livro e filme igualmente bons, para quem gosta do género, cá fica o registo ou sugestão.


(Já houve adaptações posteriores, especialmente na televisão, julgo, mas não vi.)

fevereiro 01, 2013

Uns e os outros

                         

Há uns anos, um dizia "os alentejanos, tal como os portugueses...".
E outras. Tantas outras. E também outras tantas de outros.
Outro, não há muito, disse que sim, ai aguenta, aguenta.
Um outro, já depois, chama "escurinho" ao outro.
Outro que já não é outro, a bem dizer, diz entretanto que os outros aguentam, portanto, nós aguentamos.
O outro agora diz que não comenta nada "seja de quem seja".
Não se aguenta, essa é que essa. A escuridão é, de facto, tanta...

Touro




Porque é que resistes à mudança?
Porque é que te apegas tanto às coisas?
Porque é que teimas em ceder?
Porque é que dás valor às raízes?
Porque é que é difícil convencer-te?

Bom, já o devias saber.
Numa palavra:
Fidelidade.