janeiro 16, 2013

Educação cultural

                                                
Está a tornar-se cada vez mais difícil lecionar conteúdos culturais aos alunos. Muito mais do que  as dificuldades linguísticas de alguns, e da falta de jeito para a língua estrangeira, é o total desconhecimento de história, geografia, cinema, cultura em geral que é tremendamente assustador e desmotivante. 
Naturalmente que há um fosso geracional que se vai acentuando com a passagem do tempo, cá do meu lado. Eles continuam na mesma faixa etária de sempre e eu não. A nível da música isso é notoriamente percetível. Falam de coisas que desconheço, ainda que o meu fator idade não explique tudo. Podia ter à mesma os anos que tenho e saber tudo acerca das novidades musicais. 
Mas numa era em que a tudo têm acesso, nomeadamente através deste mundo fascinante que é a internet, tem vindo a agravar-se o desconhecimento generalizado sobre aspetos culturais, nacionais e ainda mais mundiais. O seu mundo é pequeno, cada vez mais pequeno, diria. Porque há um desinteresse total por saber mais e mais, mesmo que sejam apenas curiosidades ou conhecimentos extra aquilo que é necessário para terem boas notas e especializarem-se na sua área.
Todos nós temos lacunas várias e podemos sempre saber mais acerca de determinado assunto ou esfera. Há quem saiba muito de pintura mas não de cinema, por exemplo. Ou que saiba de ciências e nada de literatura. Ou muito de escultura e nada de geografia. E por aí adiante. Mas há um conhecimento geral, de nomes, figuras, lugares, acontecimentos, que é ou pode ser acessível à maior parte de nós. Com os condicionalismos vários do nosso quotidiano ou meio, educação e percurso profissional. 
Aquilo que angustia é que estes condicionalismos hoje estão mais esbatidos com um simples toque no rato do computador. Está lá praticamente tudo e tempo não parece ser algo que falte aos miúdos, comparativamente com os adultos e as responsabilidades do dia a dia. O desinvestimento nos conhecimentos culturais é enorme, e a falta de curiosidade também. Muitas vezes dizem não sei nada disso, ao que respondo não tem mal, hoje vais ficar a saber. Menos mal. Pior é quando dizem não me interessa nada disso. Porque é verdade.
Há também um aspeto que salta à vista da minha experiência pessoal. As raparigas perdem, se compararmos os dois géneros em termos de conhecimentos de cinema, geografia, política, sociedade, cultura geral. Porque será? Porque a coquetterie pessoal, os namoricos e os media de fraca qualidade levam avante? Os media, nomeadamente a televisão e alguma televisão privada, têm arrasado as gerações mais novas culturalmente. E isto serve para ambos os sexos, certamente. Apenas me dá a ideia que as miúdas se distraem com outras coisas mais  e são várias.
Não querendo generalizar muito, porque posso errar, a minha experiência é a que, de facto, tive sempre mais rapazes a partilhar e a mostrar curiosidade em aprender do que meninas, com muita pena minha. Há exceções, felizmente, mas tem sido assim. Por outro lado, uns e outros cada vez sabem menos, e parece-me que será transversal a muitas escolas, muitas mesmo. Ora isto é uma realidade dos diabos. Porque a angústia e a preocupação não se confinam a uma sala de aula, elas estendem-se a toda uma sociedade futura.


(Sempre defendi a ideia de haver uma disciplina de cultura geral obrigatória, uma vez por semana, com avaliação e tudo. Nunca a pude apresentar em lado nenhum, claro.)

9 comentários:

  1. Também acho que um dos grandes problemas do ensino, hoje, não é o facto de os alunos saberem pouco; é o facto de não quererem saber nada e a indiferença mais ou menos generalizada por qualquer forma de conhecimento. A falta de curiosidade pelo que desconhecem...
    Mas não concordo nada com a ideia de uma disciplina de cultura geral, assim como nunca concordei com a "Formação Cívica". Porque tanto uma coisa como outra não podem ser tratadas "à parte"; elas estão de tal modo ligadas a tudo que têm de ser transversais a todos os saberes. Cabe, por isso, aos professores de cada disciplina integrar a cultura (e o civismo, já agora) nas suas aulas.
    Quanto às diferenças entre os rapazes e as raparigas, nunca tive essa ideia. Não me parece que seja uma questão de género... Mas sem dados estatísticos ;)

    Beijinhos, Faty!
    Isabel Mouzinho

    (P.S. - Muito bem posicionada, na votação dos blogues, hein? Lugar mais que merecido! Também tenho dado o meu contributo, pois então!)
    Mais beijinhos

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    1. Pois, Isabelinha, certo, mas a transversalidade dos saberes tem deixado os alunos como estão nessa área. Onde se dão conhecimentos de cinema, dos realizadores e história do cinema, por exemplo? Eu cá adoraria lecionar uma disciplina assim. Preparar-me-ia com todo o gosto.
      Obrigada pelo voto, que simpatia! E pensar que tudo começou com uma brincadeira :)

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    2. o conhecimento é muito importante.

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  2. "Pior é quando dizem não me interessa nada disso." Fui buscar esta sua frase porque acho francamente, que cabe aos professores alterar esta forma de estar da grande parte dos estudantes.

    Recordo-me do meu ódio de estimação por matemática. E também não me interessava nada daquilo. Até aqui nada de novo. Boa aluna no resto, mas chegava a matemática e aquilo não ia a lado algum. Os meus pais resolveram arranjar um explicador, na altura um professor desempregado, que dava explicações para ganhar algum dinheiro. Resultou em cheio. A verdade é que passei a perceber a matemática, e a achar que aquilo até era fácil. Só faltou durante aquele tempo um professor que não "vomitasse" matéria, mas que se preocupasse em explicar como funciona a matemática. A partir daí acabaram-se as notas negativas a matemática.

    Aproveito também para lhe dar os parabéns, está muito bem nas votações. Afinal eu tinha uma certa razão. O blog merece mais visibilidade. Já dei o meu contributo:)

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    1. maria, considero-me uma boa professora mas não faço milagres. Claro que podemos ser brilhantes e motivadores, fantásticos e mudar a perspetiva dos alunos sobre a disciplina, mas tem de acreditar que há quem não queira aprender. Não é professora, pois não? :) Saberia do que falo :)
      Obrigada pelo contributo e encorajamento, quanta amabilidade:) Bjs

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  3. O puto ainda vai ser assessor do Gaspar (para nosso mal).
    :)

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  4. Já é grave quando os adolescentes detém pouquíssimos conhecimentos de cultura geral e nem se interessam por isso. Pior ainda são as falhas gravíssimas reveladas nesta matéria por jovens universitários na revista "sábado". Não sei se viste ou leste... (Link: http://www.sabado.pt/Multimedia/Videos/Vox-Pop/VoxPop--A-ignorancia-dos-nossos-universitarios.aspx)
    A meu ver, é essencial ter conhecimentos de cultural geral e também adoraria lecionar uma disciplina sobre esta temática. Acho que faz muita falta! Marla

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    1. Vou espreitar, mas é isso - em coisas simples, ninguém está a exigir-lhes uma super cultura, de longe (nem eu a tenho,claro).

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