outubro 15, 2012

Coisas


Uma coisa que não me enfureceu mas também não me agradou por aí além:
- a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia. Pode ser que os fundamentos da sua criação sejam inspiradores e apaziguadores, serão, no rescaldo do que foi a Segunda Guerra e numa tentativa de aproximar as nações para lá do ponto de vista geográfico. Mas não se evitaram cenários como a dilaceração cruel da ex-Jugoslávia, cruel porque mortífera, nem a recusa até hoje da entrada da Turquia me parece algo profundamente conciliador. E depois a Paz, o Nobel da Paz, sempre distinguiu alguém, ou deveria, com caraterísticas humanistas e não propriamente com conotações económico-consumistas, certo?

Uma coisa que me chocou, como choca sempre:
- um indivíduo da Guiné Bissau, desempregado, sem antecedentes criminais, foi parar ao hospital por carregar 18 bolotas de cocaína dentro do corpo e uma ter rebentado. Que desespero pode levar alguém a cometer um ato de puro suicídio? Embrulhada em preservativos, a substância não circula(va) mundialmente para fazer o bem. É um negócio sujo, odioso e que espalha desgraça. Mas ao mesmo tempo, o horror que me faz sentir esta notícia, a de alguém engolir, desta forma chocante, cocaína que não só destrói outros como mata sobretudo quem a transporta.

Uma coisa que me sensibilizou, entre tantas outras:
- atores portugueses em grandes dificuldades económicas, num estado de amargura, tanto pelo desespero de não conseguirem remuneração como pelo vazio de não conseguirem fazer aquilo que sabem. Uma reportagem na SIC que mostrou um desencanto com o país, a cultura e, pior, com a vida. Palavras e tons que entristecem, que refletem os tempos difíceis, e muitas vezes também a queda de quem já esteve bem mais alto. Não são os únicos, obviamente, mas dói saber que gente com talento(s) e que nos habituámos a ver ao longo dos anos está na prateleira. Com tudo o que isso significa.

4 comentários:

  1. O Nobel da Paz já contemplou gente pouco recomendável.

    No submundo do tráfico, a coca só nao destrói os maiorais.

    A cultura em Portugal foi transformada em "koltura" e tem um idiota útil como chefe de secretaria.

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  2. Completamente! A cultura no nosso país anda pelas ruas da amargura... Tenho a vaga noção de que grandes valores do teatro e da televisão têm sido desprezados em detrimento das muitas caras novas que, apesar da completa futilidade e falta de talento, abundam nos canais privados e nas revistas cor-de-rosa, tornando-se famosos de um dia para o outro. Como dizia Andy Warhol, "No futuro, todos terão 15 minutos de fama". Sad, but true!
    O episódio que envolveu o transporte de droga não é o primeiro, nem será o último. É o desespero de quem não tem nada a perder!
    Quanto ao Nobel, fiquei surpreendida e confesso que não me agradou muito o facto de ter sido recebido pelo "cherne"... Mas convenhamos que que quem passou pela 2ª Guerra Mundial dê o devido valor aos 67 anos de paz na Europa (exceção feita aos Balcãs, é certo)Nós só conhecemos a paz... Marla

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  3. O Nobel da Paz...estranhei, apenas estranhei. Quanto à reportagem sobre os atores portugueses...doeu-me na alma bem lá no fundo.

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  4. Gostei muito dos vossos comentários. Obrigada e concordo. Bjs e abraços

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