Imagino que as pessoas marcantes são aquelas que não esquecemos, que se perpetuaram na nossa memória de forma voluntária ou não. Acredito que é sempre de forma involuntária, até. O que não significa que não queiramos lembrar algumas, muitas. Mas outras há que gostaríamos de apagar da lembrança e, no entanto, não nos é possível. Estão lá para nos confrontarmos com encontros menos felizes, opções que fizemos ou falhámos, momentos que escolhemos viver ou não. Estão lá para que possamos tirar algum tipo de lição, na maior parte das vezes. Para que os encontros, as opções, os momentos presentes e futuros sejam encarados sob outras perspetivas, uma vez dotados de experiências passadas. E que dizer das pessoas marcantes que desejamos recordar sempre, ainda presentes na nossa vida ou, frequentemente, levadas com a aragem dos anos, das escolhas, dos imprevistos, dos desencontros, dos momentos que não foram mais eternos? Porque razão persistem ou persistirão na nossa memória para além do comum? Pode ter sido uma convivência intensa, um amor que não maturou, uma frase que se disse, um estilo de vida que vislumbrámos, uma atitude ousada, uma partilha de qualquer espécie, um conforto quando precisámos, um rasgo de loucura, um ensinamento inesperado, um instante que nos deixou feliz. Qualquer coisa de belo, de intrigante, desconcertante, inteligente, doce, inesquecível, que nos reforçou o alento, a esperança, a confiança, a cumplicidade, a audácia. Qualquer coisa que nos fez evoluir de alguma forma. Que nos fez ir mais longe.
Podem as pessoas que gostaríamos de esquecer ter conseguido algo parecido? Provavelmente. Se houve dor, esta também faz crescer. O enveredar por outros caminhos, o explorar outras possibilidades. As pessoas marcantes subsistem na nossa mente, e muitas vezes no coração, porque algo nelas desencadeou alguma espécie de movimento em nós, de processo, ou mesmo de revolução. Independentemente da duração e da intensidade, elas podem ter mudado - e mudaram - algo em nós e no modo como vivíamos ou pensávamos que vivíamos. São muito diferentes daquelas que esquecemos, tantas, boas pessoas ou não, mas indiferentes, e que se apagaram porque nada de novo nos trouxeram. De forma positiva ou negativa, as pessoas marcantes deixaram-nos um legado, por muito estranho que este possa ser. Acredito que se tratou de um legado maioritariamente positivo, se encetou uma mudança de que necessitávamos, se nos deu um outro olhar sobre nós e o resto. Por isso nos marcaram - essas pessoas. Ou nós a elas.