maio 18, 2013

Quando o que fazes nada diz


Acontece-me frequentemente escrever a propósito de coisas que li noutros blogues. Há dias, considerei interessante a desmontagem feita num deles da usual simpatia que nutrimos, muitos de nós, por profissões como artistas e outros criativos. Na verdade, temos, todos certamente, a tendência para valorizarmos mais umas profissões do que outras. Estatuto, prestígio, dinheiro, poder, fama, talento, todos jogam na valorização ou não de uma determinada profissão, emprego ou carreira em detrimento de outras. E tal valorização pode decorrer da cotação social ou da nossa própria bitola avaliadora, que passará também pela paixão ou interesse que certas áreas nos despertam. Na verdade, insista-se, não há xarope para a  felicidade que seja assegurado por determinada profissão. As pessoas podem ser infelizes em qualquer delas, por milhares de razões, sentindo ou não um enorme prazer com elas. Escritores, atores, pensadores, cientistas, artistas, homens de negócios e outros podem ter vidas cheias de complicações enquanto que outras profissões mais simples e não tão glamorosas ou bem pagas ou prestigiantes socialmente podem ter nas suas fileiras pessoas de bem com a vida, descontraídas, saudáveis, felizes. Da mesma maneira, nenhuma profissão, excetuando aquelas mais marginais que pedem uma total falta de escrúpulos, nenhuma, dizia, é garantia de bom ou mau caráter. Podemos encontrar indivíduos ignóbeis e vis em todas as áreas, até em profissões consideradas insuspeitas teoricamente. Podemos até encontrar indivíduos que cumprem a sua profissão com brio e desvelo mas que têm uma vida - melhor, uma personalidade - dupla em que revelam a sua monstruosidade. Não serão poucos os dr jekylls e mr hydes deste mundo fora da ficção, muito provavelmente. Da mesma forma que atribuímos valor a umas profissões, naquilo que associamos de bom à índole de quem as exerce, também catalogamos como negativa a natureza das pessoas que exercem outras que não apreciamos ou desvalorizamos. Nada mais errado. Há bons e maus profissionais em todas as esferas mas, mais do que isso, há bons e maus corações em todas elas. Ou corações felizes. O nosso percurso profissional pode ser enriquecedor, libertador, criativo, artístico, intelectual, prestigiante, e tantas coisas mais que nos edifiquem. Mas só o será se a nossa natureza profunda o permitir. De igual forma, há profissões que podem ser mais desmotivantes, mais mecânicas, mais rudes, mas só e apenas se nós o desejarmos. Há todo um mundo à nossa volta, lá fora, que nos pode sempre engrandecer. Começando-se, claro, pelo mundo cá dentro.

2 comentários:

  1. Pois, o caráter é tudo! Sabemos que há profissões menos bem vistas, sendo uma delas a de político. E porquê? Porque muitos políticos colocam claramente os seus interesses à frente da sua missão, servindo também os interesses de outros em troca de favores... Há, com certeza, bons políticos. Mas cada vez menos, penso.
    Outra profissão muito desprestigiada é a do professor. Isto porque de há uns anos para cá, as políticas governativas têm vindo a assassinar a educação e as condições de trabalho dos professores têm vindo a deteriorar-se. Têm havido também uma campanha na sociedade, amplamente difundida pelos orgãos de comunicação social, contra contra esta classe, que infelizmente é pouco unida. Há inclusive figuras públicas que já vieram atacar os professores em praça pública. Só tenho uma coisa a dizer: há bons e maus profissionais em todas as áreas profissionais! Marla

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    1. Penso que o meu post não se refere só à dimensão profissional, mas ao caráter mesmo. Ou ao mundo interior. Realmente nenhuma profissão é garantia automática de dignidade ou cabeça boa. Ou o contrário... :)

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