Aqui há tempo, deixei aqui expressa a minha posição face aos exames do 4º ano. Hoje falarei do que os exames em geral podem significar mais concretamente.
Se me perguntarem se prefiro que o meu filho faça exames ou não quando chegar a altura, talvez preferisse que não, mas fundamentalmente por causa do tipo de ensino que geralmente a realização de exames acarreta. Explicando. Tenho visto nas escolas por onde passei uma extrema e redutora preocupação com os exames nacionais, especialmente com os do 12º ano. De tal forma que os professores, alguns deles, passam a ensinar em função do exame. Em vez de passarem o saber de maneira a que os alunos sintam prazer em aprender e estejam munidos de ferramentas variadas de aprendizagem que lhes permitam fazer todo e qualquer tipo de exercício, não, passam-se a fazer os exercícios tipo exame, como preparação, formatando o processo de ensino e, pior, as cabeças que se deviam querer livres e sábias ao invés de estruturadas com uma única finalidade. Coisas minhas. Daí que, se os exames, quaisquer deles, levam ao pensamento uniforme e meramente executante é mau sinal e, assim, não gosto deles. De outra maneira, como instrumento de seriedade e de aferição de alguma qualidade, não vejo grande problema. Mais uma vez, cabe aos professores a decisão de dar as suas aulas fornecendo aos alunos conhecimentos e liberdade, prazer e autonomia. Se insistem em exercícios estruturalistas e formatados, não, se fomentam o gosto pela aprendizagem, pode ser, sim.
Por outro lado, como os discutíveis e, para mim, indiferentes rankings das escolas se baseiam nos resultados dos exames, muitos diretores encetam uma autêntica cruzada com os professores desses anos rumo ao total sucesso. É, desta forma, exigido aos últimos que preparem os alunos em função deles e portanto isso pode condicionar a liberdade do professor em ensinar para o prazer e para a curiosidade, para a sabedoria e para o pensamento crítico. Há uma pergunta enervante por parte de alguns alunos quando estou a mostrar ou a falar de alguma coisa, a registar no quadro e outras mais: "Sai para o teste?" O que é que isso interessa?- pergunto. Porque se encaramos o ensino e a aprendizagem como meros instrumentos para resultados e numa perspetiva quantificadora apenas está tudo dito. Há inclusivamente alunos que tiram excelentes notas neste sistema mas curiosamente isso não quer dizer que sintam gosto pelo saber, que tenham pensamento próprio, que saibam refletir, que sejam brilhantes.
O exame pode ser positivo, na sua forma de fazer sentir responsabilidade, que vai faltando aos nossos alunos hoje em dia, de criar um certo rigor à passagem pela escola, mostrando que os conhecimentos importam e que não se pode descurá-los. E que podem fazer a diferença. Mas o ensino curricular e contínuo não pode ser feito à sombra do exame. Rico, diversificado, crítico, reflexivo, exigente, mas livre de pressões de números que valem o que valem.
Não me oponho aos exames do 4º ano, mas acho que o Japão é um grande exemplo a seguir. Nem de propósito, hoje li o seguinte: "Nas escolas japonesas, os alunos não fazem quaisquer exames até aos 10 anos de idade, porque o objetivo dos 3 primeiros anos de escolaridade não é avaliar o conhecimento da criança, mas desenvolver o seu caráter e ensinar boas maneiras." Marla
ResponderEliminarNão me oponho a exame nenhum se o ensino não for feito sob a obsessão formatada com os seus resultados numéricos. :)
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