As crianças continuam a ser o melhor do mundo e não é raro vê-las envoltas em polémicas por opções de adultos que lhes moldam, infelizmente, o hoje e o amanhã. Hoje dei por mim a pensar em duas situações que talvez mereçam aqui o registo.
A primeira é a questão dos exames do quarto ano. Pelo que me pude aperceber, os mesmos têm levantado celeuma, sobretudo, também ao que parece, pelo documento que pediram aos miúdos para assinar declarando que não tinham telemóvel a acompanhá-los. Não é uma ideia feliz, a de pedir responsabilidades a crianças de 9 anos, realmente, mas também não me parece que seja caso para a controvérsia que se gerou, com os habituais insultos e impropérios pela internet fora.
Aparte a visão politizada imediata, que nunca é boa conselheira da reflexão, não considero trágico que se realizem exames no quarto ano. Tem-se caído, por força de políticas facilitistas e incoerentes, num ensino extremamente permissivo e indutor de facilidades, completamente contrário ao mundo real que espera os alunos lá fora. Ou até pior, um ensino que ajuda a comportamentos pouco responsáveis e nunca punidos que depois terá continuação fora dos muros da escola. Afigura-se-me que um pouco de seriedade desde cedo não trará mal ao mundo, não creio que as crianças fiquem especialmente traumatizadas com professores vigilantes das provas, se tudo for explicado e encarado sem complexos e sem dramatismos.
Relativamente à questão dos telemóveis, estes constituem um obstáculo à concentração nas aulas (sobretudo entre os mais crescidos, que são os que leciono) e também, como já se viu, uma hipotética ferramenta para a batota, apoiada pelos pais e encarregados de educação em questão. Não é de admirar que não se pretendam estas tecnologias no exame, deviam até ser banidos das aulas, pura e simplesmente. É uma questão mundial e já há escolas e estados e países onde isso já foi discutido e posto em prática, se não estou muito enganada.
Resumindo, não sendo propriamente fã de exames, não me choca a sua aplicação. E penso que a miudagem sairá ilesa desta experiência. Não temos de considerar isto uma medida estado novo mas sim um reforço de alguma disciplina e responsabilidade estudantil, ainda que numa faixa etária abaixo do que é habitual nos últimos anos. Digo eu, não sabendo se estou na posse de todos os dados e ângulos sobre este assunto.
A segunda situação, esta sim, preocupante, prende-se com a pressa que muitos pais têm em fazer dos seus filhos pequenos adultos. Não na escola, mas socialmente. A notícia da garota milionária aos 6 anos, uma boneca com discursos pouco infantis e pouco próprios da idade fez-me espécie. Compreende-se que o dinheiro que a miúda tem faturado cai que nem uma luva no orçamento familiar mas inscrever a menina desde cedo em concursos de beleza e explorar a sua imagem em diversos programas e de várias formas é para mim assustador. Era bem melhor que ao invés de estar vestida como a Julia Roberts em "Pretty woman/Um sonho de mulher" estivesse sentada nos bancos da escola a fazer os trabalhos e a aprender. Pessoalmente sempre me fez confusão os meninos prodígio, embora sejam indiscutivelmente engraçados, mas mais se os fazem entrar em campos que só aos adultos dizem respeito. Já há uns tempos atrás a revista Vogue apresentou crianças modelos em poses sensuais que contrastam barbaramente com a inocência típica e desejada de quem está na infância e a deve viver como tal, uma campanha que levantou, naturalmente, polémica. Que, a bem dizer, os pais é que são culpados. Opções destas têm de ter o seu aval e é claro que os fatores fama e dinheiro parecem ser mais fortes do que a preservação da identidade infantil das crianças e da sua saúde emocional.
Os pais /encarregados de educação são, muitas vezes, rápidos a julgar as escolas (políticas à parte) e os professores mas são pouco autocríticos nas suas próprias abordagens educativas. E nós, educadores profissionais, sabemos em que moldes nos chegam alunos cujos pais se demitiram do seu papel, delegando sempre que não querem saber mas condenando sempre que não corre como esperam. Entre os exames aos 9 anos e uma vida de estrela precoce, com todos os riscos que isto implica, parece-me que não é difícil a preferência. Afinal, é escolher entre educação e exposição. Ou até, entre ser ou ter.
Fátima, como noutros aspectos (distinção do bom e do mau; do certo e do errado), uma criança deve desde cedo começar a compreender a diferença entre dever e direito em todos os domínios, mormente no societário. Declarar por sua honra não acarreta nenhum efeito jurídico (é menor), mas ajuda a inculcar compromissos e, principalmente, a cumpri-los. Tenha sete, oito ou nove anos.
ResponderEliminarQuanto ao resto, completamente de acordo!
Beijinhos :)
Também não compreendo a onda de protestos, Paulo ... Ou sou eu que não terei percebido tudo...ou realmente é como digo. Não haverá qualquer trauma se tudo for feito sem histerismo coletivo à volta e atitudes negativas parentais. O resto, está aí :)
EliminarAgradeço e retribuo :)
Também não me oponho aos exames, mas esta história da declaração sobre os telemóveis foi infeliz. As crianças não têm maturidade suficiente para entender o que é um compromisso de honra...
ResponderEliminarA notícia dos E.U.A., onde se verifica um absurdo fenómeno de sucesso com as mini-modelos de tiara, é completamente chocante. Os pais destas crianças só pensam em lucrar com elas e estão a roubar-lhes a sua infância, em troca de fama e dinheiro. Muito triste! Marla
E assim vamos... :(
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