Há uns anos passei duas semanas na Escócia, em Stirling. Fiz parte de um grupo de doze professores de inglês que puderam usufruir de formação na Universidade de Stirling, através da APPI. Disso dei conta, na altura, num artigo para o Diário de Aveiro. São várias as experiências que retenho dessa estada e uma caraterística que registei, e que conto vezes sem conta, foi a da pontualidade. Fosse para as aulas, fosse para uma conferência, fosse para um espetáculo musical, fosse para exibições de arte na rua, as coisas começavam a horas. Porque as pessoas chegavam a horas. Era quase obsessivo. O compromisso era, por exemplo, para as 8 da noite (as coisas lá começam cedo, não é de todo um ritmo de horários que se assemelhe minimamente ao de cá). Então marcava-se o encontro para as 7.45 da noite. Mas quando lá chegávamos já lá estavam os escoceses, já tinham chegado antes, bem antes. Impressionante. Obviamente que a nossa relaxada latinidade (e não só, porque quanto mais a sul do hemisfério mais piora, ao que parece) contrastava com a precisão e rigor das gentes das terras altas.
Mas vem isto a propósito da praticamente total incapacidade de se cumprirem horários por aqui. Nada começa à hora exata, desde reuniões, até espetáculos, mesmo o cinema, que começa, vê gente a chegar tarde e a fazer levantar-nos das cadeiras. Mas aquilo que me faz escrever é realmente a falta de pontualidade dos alunos. Impressionante. E desta vez estamos mal impressionados, naturalmente. O que dizer quando sistematicamente não se consegue chegar a horas? Ou melhor, não se faz por chegar a horas? Ou ainda se está nas tintas para chegar a horas? As aulas começam às 8.50 h, um verdadeiro luxo. Pois às 9.05 h estão dois alunos na sala. E continuam a chegar, aos poucos, e um chega às 9.25 h. A aula acaba às 9.40h, já agora. Isto numa base diária. E arranjam-se justificações para isso? Sim, pois. E a seguir planos de recuperação de assiduidade. Tem sido assim e assim será. Não há castigo, há salvação. A pontualidade em Portugal raia o anedótico. Faz rir, para não chorar. E portanto se assim crescem e nada acontece, lá vão mais tarde começar fora de horas as reuniões, os espetáculos, as conferências e o resto. Chegar atrasado pontualmente é natural e pede-se desculpa. Há quem não peça, também é verdade. Chegar sempre atrasado é inadmissível quando se mente, pedindo-se desculpa ou não (há quem continue a não pedir).
No outro dia, nem de propósito, lemos um texto na aula em que se falava de uma engraçada solução para os atrasados a reuniões. Eram obrigados a cantar, o que embaraçava os que tais e durante um tempo tudo funcionava a tempo. Um dia apareceu um diretor que gostava de cantar e passaram a pedir músicas pop e tudo. Lá se foram as horas. Será esta a solução? Mas e se nos aparece uma estrela rock em potência camuflada dentro de um fato e gravata? Ou de livros na mão? Dão-se alvíssaras a quem encontrar a fórmula mágica. Porque mudar mentalidades e hábitos é tarefa árdua. Sobretudo quando nada acontece além de darmos menos matéria ou irmos mais tarde para casa. Estamos em crise, a Escócia está? Os políticos não são os mesmos, é bem verdade, infelizmente para nós, mas certos comportamentos sociais também não. Nem certamente a impunidade, a começar pela vida na escola.
A pontualidade nunca fez parte dos manuais deste povo.
ResponderEliminarPara os portugueses a educação principia no 'Obrigadinho', prossegue no 'Desculpe lá' e terminam no 'Cossessa' *.
* Com licença em "tuguês"
Não vale a pena tentar mudar.
:(
Tal e qual. :) :(
EliminarO resultado é um caso sério de falta de eficácia a todos os níveis.
Já não vinha aqui há muito - andei meio afastada da blogosfera pois a vida real assim o exigiu! - mas é bom voltar e ler estas linhas, que vão muito de encontro ao que penso... A pontualidade nunca foi o nosso forte, mas também considero que está cada vez pior.. E essa das aulas é sintomática!
ResponderEliminarA tal «fórmula mágica» tem de ser na base do «castigo», que é como quem diz, há que penalizar quem não chega a horas... É o caso de algumas salas de espectáculos que não deixam entrar até que seja intervalo! É claro que todos nós temos 'azares' no quotidiano, mas se tivermos em mente que seremos prejudicados por não chegar a hora, mais faremos para evitar essa situação.
Por fim, é curioso o facto dos irlandeses chegarem muito antes da hora, pois é costume ouvir dizer que também não é adequado chegar antes da hora... :)
Olá Dulce, fico contente em (re)vê-la por aqui :) Também não tenho sido assídua dos blogues todos que conheço e muito menos comento, falta de tempo :)
EliminarDe resto, é isso. Sem resultados práticos dolorosos :) vamos continuar nesta senda de perda de tempo e desrespeito pelos outros. Com consequências pouco simpáticas a nível da produtividade...
Concordo contigo da primeira à última linha! Eu costumo dizer que os professores são os únicos que andam mais ou menos a horas, andam ao toque!
ResponderEliminar:) E de que maneira!
EliminarAo contrário do nosso país, a Suíça (também como a Escócia) prima pela pontualidade. No instituto de francês que frequentei, o diretor dava sempre início ao ano letivo com um discurso, nunca esquecendo a questão da pontualidade. E, dirigindo-se, em especial, aos alunos da América latina, dizia sempre: "Aqui as aulas começam às 8:00, não é às 8:15 ou 8:30. Não se esqueçam disso!"
ResponderEliminarO constante atraso dos teus alunos não é, de todo, aceitável e a direção da escola deveria tomar medidas, mas enfim... Devias dizer-lhes que na Alemanha as aulas começam às 7:45 e que durante metade do ano os alunos saem de casa em plena noite e com temperaturas negativas. Talvez eles refletissem um pouco sobre a situação ... Marla
Ai, Marla, essa horas são duríssimas.:) Não sou matutina e um dos meus "horrores" é levantar-me de noite. Quanto ao resto, concordo em absoluto. :)
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