maio 23, 2013

Entre futebol e política é preferível o humor

Tive há dois dias conhecimento da tirada do deputado Carlos Abreu Amorim (figura que, confesso, me tem passado ao lado, mal ou bem) relativamente aos benfiquistas ou lisboetas, uns ou outros, eis a questão, aquando da vitória do "dragão" no passado domingo. Já vi e li comentários online que confirmam que o epíteto que utilizou - "magrebinos"-  levantou uma onda de protestos e não só a sul. Alguns comentários  revelaram-se interessantes enquanto que outros não, para dizer o mínimo. O que é certo é que as opiniões dividem-se e há várias leituras feitas, ultrapassando-se ou não o conceito futebolístico, o político ou o regional. Eu própria sinto-me algo dividida. Cada vez gosto menos de futebol... e de política, precisamente porque são duas áreas onde vai escasseando a serenidade em detrimento da paixão algo primária e da opinião baseada na cor do clube ou do partido. Mas também não é um fenómeno exclusivamente português, é só atravessar a fronteira e constatar os ódios clubísticos, regionais e políticos que por lá também grassam. Sinto-me dividida porque estive a ler e fiz leituras diferentes:
- a primeira, a quente, foi a que o nome magrebino continha, bem dissimulado, algum sentimento racista e xenófobo. Muitos de nós, portugueses, consideramo-nos muito superiores aos habitantes do norte de África, por razões várias que não importa explanar aqui. Esquecemo-nos de que já fomos tão parecidos com eles em muitas coisas. E que noutras ainda somos, para o melhor ou pior do que significa ser mediterrânico. Portanto, podia bem ser ofensivo para os magrebinos e para os lisboetas - ou benfiquistas. E pessoas com cargos públicos, independentemente de as apreciarmos ou não, têm de ter um cuidado maior na escolha das palavras.
- a segunda, mais a frio, foi que não haveria mal na palavra, ela só difere um pouco da habitual - mouros - para os habitantes a sul. São conotações, digamos, mais históricas e não há mal nisso. Digo eu que não sou lisboeta nem sulista. Mas tenho uma costela alentejana e o meu padrinho de Vendas Novas sempre me chamou "galega" desde miúda. Tripeira não sou, e também não vejo mal assim chamarem os portuenses. Isto sou eu, que sou de Aveiro. aqui chamam-nos ceboleiros ou cagaréus, eu pertenço a estes últimos. Mal? Nenhum, obviamente, até acho o máximo. São as particularidades de cada região ou cidade. Regionalismos naturais, portanto.
- a terceira é que foi o fim. Ainda não estou recomposta, admito. Ao dizer aqui em casa ao tunisino que aqui vive (espero que os leitores não estranhem e não fujam por causa disso) o que o homem do FCP disse ao pessoal do Benfica/de Lisboa  (? permanece a dúvida) e ao perguntar se ele não achava ofensivo para os benfiquistas/lisboetas e racista para os magrebinos, a resposta foi que não. E mais: eu se fosse ele (e ele nunca votou aqui, já agora) fazia pior, chamava-lhes salafistas (porque tem horror a este  grupo radical).  O humor tem destas coisas. Humor e clubite aguda. Pois agora é que são elas. É que ele é portista, doentinho, e não isento de prazer em gozar connosco, pois, sim sou benfiquista, adormecida, é certo, mas não extinta.
Confusa estou, desta forma. Não sei se me ofenda, se não. Quem diria? É que aqui em casa, meus caros amigos reais ou virtuais, eu é que sou moura. Ou magrebina, pois então.

4 comentários:

  1. Pois eu que, quando estou com os nórdicos - genuínos-, até gosto que me dêem esse tratamento de magrebino, porque o fazem com uma deliciosa consideração e malícia qb, confesso que fiquei surpreendido por "ouver" o "rinoceronte" a resfolgar epítetos de parolo.
    :)



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    1. Eu diria o seguinte: futebol e política - uma mistura explosiva :)

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  2. Pois, não esteve nada bem esse senhor. Mas esta atitude de "apelidar" o pessoal do sul de magrebinos ou mouros revela, a meu ver, uma atitude de arrogância e superioridade. Não está em causa o termo nada ofensivo de "mouro" (que designa um povo, como tantos outros), mas sim a identidade de uma nação. Os nortenhos consideram-se legítimos portugueses e os únicos fundadores da nação e identificam os do sul como portugueses de segunda ou forasteiros. Eu que até sou do centro e não tenho nada a ver com estas quezílias regionais, também sou magrebina, pelos vistos.
    E para terminar com humor, aqui vai a resposta do Ricardo Araújo Pereira com o seu delicioso sentido de humor à questão dos magrebinos: http://www.benficabook.net/2013/05/abreu-virgem-que-perdeu-virgindade.html
    Beijinhos, Marla

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    1. Assim que possa leio, deve estar hilariante, como sempre :) Obrigada pela dica :)
      Quanto ao resto, não me ofendi, devo ter um sistema qualquer à prova destas balas :) :)

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