“Houve um bom Natal na
minha vida. Um bom Natal inesquecível. Um Bom Natal em que este metro e oitenta
e quatro de português, que redige um português inútil, inútil português de
metro e oitenta e quatro presumiu ser útil escrevendo num português inçado de erros,
coxo, desmantelado - mas feliz. Foi assim: pelas onze e meia da noite de um 24
de Dezembro eu estava na redacção do jornal onde trabalhava. Veio um telegrama
de Londres que dizia mais ou menos isto: "Um menino que está a morrer
pediu à mãe morangos. Não há morangos em Inglaterra, por esta época do ano. A
mãe foi à BBC e a BBC fez um apelo. Um avião em voo escutou-o. Transmitiram o
apelo a todos os aviões do mundo. E alguns aviões do mundo atrasaram as suas
partidas, transferiram de bojo para bojo um cesto de morangos que fora
adquirido na Cidade do México. Os morangos chegaram a Londres." Não havia
mais no telegrama; mas era uma grande história de Natal e de amor, numa suave
noite de Natal, em que seria radioso relembrar às pessoas que, por vezes, as pessoas
conseguem coisas formidáveis.”
(BAPTISTA-BASTOS in “Cidade Diária”)
(BAPTISTA-BASTOS in “Cidade Diária”)
É este texto o que mais relembro, automaticamente,
sempre que se fala em natal. Não sei porquê mas é este. É simples e ficou-me na
memória para sempre, desde que lhe pus a vista em cima, há muito tempo, não sei
bem quando. Mas pensando bem, talvez saiba porquê. É um texto simples, repito,
com uma história universal. Ou melhor, que apela a uma certa universalidade
pelo teor solidário à escala global em que a história consiste. Tantos contos,
histórias e cânticos de natal que nos ocorrem, recheados de magia e fantasia,
abrigados noutras épocas e que nos fazem sonhar, que povoam o nosso imaginário
coletivo sempre que entramos na estação das boas festas. Poderiam agora mesmo
evocar-se vários, pontuados pela neve, pela natividade, pela mesa, pela
infância, por personagens e por mensagens que apelam ao espírito natalício. E,
no entanto, neste texto não há nada disso e nada nele nos faz sonhar com
cenários ao estilo de Last Chrismas, o icónico vídeo que marcou uma geração.
Também não nos faz visitar a época dickensiana nem o exotismo das terras de
Belém. E, no entanto, é o texto que não mais esqueci. Porque de tempos modernos
falava, porque de um desejo simples falava, porque de um mundo simples falava,
aquele onde se entreviam grandes gestos que atravessavam os céus. É uma
história de amor, de uma mãe para com o seu filho, e de um mundo para com uma
mãe e um menino a quem não podíamos recusar este pedido. E é tal universalidade
que me comoveu, a que une nações e credos, raças e costumes, línguas e terras,
em prol de um amor comum, universal, acima de todos os outros. Uma espécie de
natividade revisitada, se pensarmos no amor por um menino deitado. Um natal
espalhado e partilhado por causa de um menino deitado.
São o tipo de histórias
que me trazem lágrimas, não de tristeza, mas de alegria. Alegria pelas coisas
extraordinárias que os homens e as mulheres conseguem fazer. Através e para lá das
fronteiras. Não há natal melhor do que aquele que aproxima as pessoas,
inclusive as que estão longe. E não há melhor espírito natalício do que a
congregação por um ideal máximo– o de fazer alguém, especialmente uma criança, feliz. Em vida.
Boas festas, pois.
Boas festas, pois.
também no bahia mulher
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBonita "estória", de facto. Boas festas também para si.
ResponderEliminarObrigada, KK.
EliminarE conseguimos. Feliz natal Fátima. :) Mais uma vez...
ResponderEliminarObrigada, Carla, por teres passado por aqui também. Beijo grande e estrelas para ti **********
EliminarDois grandes textos: o dele e o TEU.
ResponderEliminarGrande natal para ti. Abraço.
joao de miranda m.
Muito obrigada, querido João. Retribuo com um enorme beijinho (não é contraditório, pois não? :) )
EliminarÉ verdade! Esse é o verdadeiro espírito!
ResponderEliminarFeliz Ano Novo!
Obrigada, Rosa! Continuação de uma festiva quadra também para si. Beijinhos
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