novembro 12, 2013

A banalidade do ranking


Não gosto de rankings, valem o que valem e, para mim, nada valem. Já estive numa escola que esteve bem colocada num, naquela altura, e não partilhei o entusiasmo que vi gerar-se entre algumas hostes. Talvez por ser muito infeliz lá, malgré la qualité. Engraçado como uma boa escola, consensualmente falando, pode ser um lugar onde não se é feliz, mas isso seria - é - outra história. Não trabalho para rankings, nem para exames, credo. Sempre me fez espécie fazer-se isso, e fazia-se, dar as aulas em função dos exames que se sabia virem aí. Também me fazia - e faz - impressão aquela histeria, sobretudo dos colegas, em volta do exame (então as reportagens televisivas nesse dia nem se fala) como se de vida ou morte se tratasse. É importante para os alunos, claro, para as entradas nas universidades, vivemos de acordo com seriações e números, mas a mim, enquanto professora que privilegia o saber, era-me igual ao litro. Sou a mesma pessoa de escola para escola, se mo deixarem ser, claro, com exames ou sem exames, com rankings ou sem rankings. Agora estou numa escola profissional pública, que não tem exames, e sou a mesma, ou tento ser, mas aos condicionalismos já lá vamos.
Os rankings vão dizendo o de sempre, porque baseados em resultados de exames (que podem ilustrar uma verdade, parcial, mas ainda assim ser o mais falaciosos possível), vão dizendo o de sempre - que as escolas privadas são melhores do que as públicas. E as pessoas que não gostam dos professores nem do ensino público logo aproveitam este dado para se lançarem ferozmente contra eles. Bom, a escola pública está cheia de condicionalismos, de dificuldades, que não partem de nós, professores ao seu serviço.  As conversas e o nosso espírito revelam muito desencanto e a sensação de se ir contra os próprios princípios. Os professores do público são piores do que os do privado? Os do privado trabalham mais e melhor? Não. Pelo contrário, os do público trabalham em condições adversas a muitos níveis, inclusivamente, e teríamos de chegar lá, trabalham com uma matéria-prima que diverge completamente da do ensino privado, no geral. Mas então os melhores alunos estão no privado, não há excelentes alunos no público? Claro que há alunos brilhantes no público, mas ao lado de outros completamente desmotivados, oriundos de famílias completamente desestruturadas, um rol de problemas que só quem passa por eles é que sabe. Muitos alunos brilhantes perdem-se, de resto, na complexidade inclusiva de muitas turmas (um tema sensível, a não ser explorado aqui agora). Quem vai para o privado não é necessariamente mais inteligente, de todo, mas pode ser melhor aluno, devido ao background socioeconómico da sua família, à sua consequente motivação e aos demais potenciadores do sucesso escolar. Há CEFs, por exemplo, no privado? Seria interessante haver. Em 4 anos já vou no meu sexto CEF e acreditem que aquelas aulas não são a mesma coisa embora eu seja igualzinha por dentro (conhecimento científico, seja lá o que for) e não menos meritória, claro. A matéria-prima é uma noção essencial para o sucesso na escola. Considerando esta e os condicionalismos a que estão sujeitos na escola pública, os seus docentes fazem milagres, acredite-se.
Também não quero dizer que são melhores docentes os professores do ensino público, porque as generalizações são um princípio errado, mas são milagrosos, isso realmente são. Fazem milagres, repito, para conseguir resultados. Sim, são praticamente obrigados a passar os maus alunos (porque os há, que não se ignore) para favorecer as estatísticas, o umbigo dos diretores, a imagem das escolas e, sim, manter o emprego. Sucesso é igual a abertura de turmas e investimento, nomeadamente financeiro, insucesso não. Posto isto, os rankings não me dizem absolutamente nada. Porque nada dizem, nada de nada. Nada que alimente o essencial. Existem para espalhar a desconfiança, a divisão, o caos.  A luta de um professor na escola pública é desgastante, diária, constante. Não precisamos de mais nada que a venha tornar mais dura ainda. 


À posteriori: também existem excelentes alunos no ensino profissional público, já agora. O que não devia existir é toda a investida governativa para acabar com ele(s).

4 comentários:

  1. Desde que me conheço existe público e privado. Certamente já significou qualidade, hoje penso que nem por isso. O foco central, penso ser a confiança. Regra geral, e focando por exemplo saúde e educação, a confiança dos profissionais do sector privado pode ser superior. Penso que já vem de há uns anos, na época em que os professores tinham lugares garantidos, tal como os médicos. Não acredito que seja a realidade de hoje, mas a verdade é que a mudança de mentalidades demora.

    Quanto aos rankings, não sabemos viver sem eles. Verdadeiros ou especulativos, a realidade é que constituem um ponto de referência. Valem o que valem, claro, mas aqui como em todo lado, não deixam de ser significativos na oferta e na procura. É a tal quantificação sob a qual vivemos. Nos moldes que temos, não acredito que haja outra forma... Há?

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  2. Sabemos viver sem eles, sabemos, amiga Carla :) Eles é que dificultam :) Olha só o da Moodys - eu não percebo nem quero perceber nada de economia mas não me parece que tenha sido benéfico... Mas eu sou hippie em em alguns aspetos, aliás nunca gostei de dar aulas a turmas de economia. :) Eu falava e queria falar de alhos e falavam e queriam falar de bugalhos. Mas percebo, não vivemos sem números, que valem o que valem, claro. Mas nada me obriga a gostar deles. Fujo deles sempre que posso. :)
    Bjs para Santarém

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  3. O ranking das escolas é cada vez mais uma treta, sobretudo devido às desigualdades vividas nos setores privado e público. A meu ver, serve apenas para descredibilizar a escola pública e valorizar as escolas privadas, que estão a sugar os dinheiros que pertencem ao público. Por isso, quem merece reconhecimento são as escolas públicas e os seus agentes educativos que lutam diariamente com falta de condições e trabalham com crianças e jovens com todo o género de dificuldades e carências que muitas instituições privadas desconhecem... Marla

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