fevereiro 20, 2012

InCoerências


É mais do que assente que a coerência é uma belíssima caraterística, uma garantia de integridade, de equilíbrio, de um caráter definido pela firmeza. Não gostamos de detetar incoerências, coisas que não ligam, que confundem, que não edificam nem constroem. Estampa-se logo uma imagem de pouca credibilidade, de pouca honestidade intelectual. Espantam-nos os malabarismos vários, repulsam-nos os contorcionismos políticos, desagradam-nos as oscilações de posturas, atitudes, crenças. Sobretudo se em tempo que consideramos insuficiente para a maturação de uma ideia, de uma nova ideia, assim sendo, ou de uma paixão que parecia impossível antes.

Todavia, será isso sempre intolerável? Não teremos direito nunca a uma mudança de opinião? Devemos continuar agarrados permantemente à mesma convicção? Não podemos reter das coisas um novo entendimento? Não é, afinal, possível evoluir?
Trata-se de uma discussão interessante, saber até que ponto evolução não é considerada esquecimento, contradição, traição, ilogicidade. Porque, na realidade, nada nos obriga a manter sempre o mesmo ponto de vista relativamente a um inúmero número de coisas. Se frequentemente mudamos de opinião em relação a pessoas, porque o tempo nos permitiu entrever mais do que supuseramos, porque não poder fazê-lo perante gostos, preferências, comportamentos sociais, políticas, filosofias?

Adaptar-se, caminhar ao lado do tempo que é nosso  faz parte do andamento próprio de uma existência válida, aberta, descomplexada. Os olhares não param, não ficam circunscritos a um período, a um espaço e a um sentir que já não são, movem-se, soltam-se muitas vezes, e não quer dizer que a perspetiva recente seja a errada ou inaceitável mesmo se, do nosso ponto de vista. Ser coerente é uma qualidade ímpar mas ser livre ainda é mais. Porque pior do que ser incoerente é viver no opressor complexo de seguir algo em que já não se acredita.

Cortar, sair, deixar, desviar, alinhar, abraçar algo, mudar é muitas vezes, também, uma espantosa e inteligente estratégia de sobrevivência.

6 comentários:

  1. infelizmente,são poucos os que possuem essa capacidade e até eu, que pensava tê-la, sinto que à medida que a idade vai avançando, a vou perdendo

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  2. "pior do que ser incoerente é viver no opressor complexo de seguir algo em que já não se acredita" - fantástico! Muito bem colocado. quantas vezes isso não deve acontecer... por querermos preservar a imagem, ou por não querermos perder o grupo de identificação, ou... já imaginaste, por exemplo, um Cunhal ou um Fidel a descobrirem a espiritualidade em final de vida? Que conflito! :)) bj e parabéns por mais esta - luisa

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  3. Carlos, muito obrigada pela sua visita, registo-a, mais uma vez com enorme gosto. Pois, a idade de facto pode trazer, a todos nós, algs dificuldades em enfrentar a mudança. Penso contudo que me referia à mudança de opiniões que se vier naturalmente nem sempre é sinónimo de ausência de princípios... Claro que pode haver delas surpreendentes mas é sempre condenável? Não o deveria ser...:) Eu própria fui mudando algs perspetivas, fruto da tal evolução - maturidade e percurso:)E provavelmente o Carlos tb:) Envio-lhe um beijinho, posso?

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  4. Pois Luísa, é exatamente isso que dizes, completas a ideia. Acredita que penso sempre em ti neste tipo de reflexões, sei que as entendes!:) Um enorme bj para ti querida

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  5. A mim as incoerências baralham-me e irritam-me. Mas mudar podemos, desde que seja para melhor. Sara Sagi

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  6. Pois e não só a ti. Não gostamos delas e ainda assim temos o direito a "evoluir", a ir mudando ideias ou perspetivas. Pior é ficar rigidamente agarrado a coisas que já eram ou agir sob outras que já deixaram de ter sentido para nós...:) Bjinhos Sara!** Obrigada pelas visitas de hoje, honey!

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