agosto 15, 2013

Histórias no feminino que fizeram história



Ando a ler - ou reler, a completar a leitura iniciada anteriormente - o livro Mulheres que amaram demais, de/a Helena Sacadura Cabral. Tenho apreciado bastante as histórias de vida no feminino, à semelhança do que já tinha acontecido com Histórias de Mulheres, de Rosa Montero. Trata-se de mulheres que fizeram história, em diversos campos da sociedade ou das artes, reclamando para si os louros da sua audácia e inspirando quem as conheceu na altura e quem hoje em dia as vai (re)conhecendo de outra forma. 
Uma coisa é certa, e saída destas leituras - parece-me que dantes era um tempo mais ousado e que hoje somos mais conservadores, malgrado os anos 60 e 70, a geração dos movimentos de libertação e (liberização) sexual e o afastamento de códigos mais rígidos de conduta pessoal. Qual a razão desta conclusão? Bem, ao ler estas histórias femininas, constata-se que havia muito adultério, muita bissexualidade (e homo) e muito mas muito "mènage à trois". E coleções de amantes consideráveis, claro. Todas estas mulheres estiveram muito à frente do tempo nestes parâmetros de existência afetiva, marital ou familiar. Todas desafiaram convenções da época - e que não estão assim tão diluídas como isso atualmente - e viveram sob padrões não isentos de escândalos que, no entanto, não deixaram de as fazer prosseguir, viver livremente e, depois, eternizar-se. 
Se pensar nas famosas de hoje em dia, a quantidade maior residirá na cultura pop e também no cinema, assim à primeira abordagem. E, curiosamente, apesar de serem mundos de desafio ao normal quotidiano, parece-me que se pautam por um maior conservadorismo a nível das relações amorosas e da estrutura familiar, tendo em conta a projeção que se faz das suas histórias. Ou estamos todos mais familiarizados com o atrevimento e com escândalos de vária ordem ou o feminismo, e as suas conquistas em várias frentes, é responsável por uma maior exigência no que diz respeito ao modo como nós, mulheres, queremos viver. Teremos mais liberdade de escolha, independência financeira, e isso já faz bastante (ou toda a) diferença.
Também é possível que a incrível ousadia destas mulheres residisse no facto de, em tempos diferentes, terem atravessado dificuldades várias até ao triunfo, ou à fama. A necessidade é, de facto, mãe de muitas coisas e estas mulheres enfrentaram obstáculos variados que as fizeram querer alcançar sempre mais, por uma questão de orgulho, muitas delas, brio pessoal, vontade de vencer e sair de um destino que não lhes fora favorável no início. Demonstraram, desta forma, um espírito incrível, de sobrevivência, força e astúcia, frequentemente também. Não são heroínas boazinhas que estão em casa de forma passiva, são sobreviventes e exploradoras do seu caminho, inteligentes e ambiciosas. Muitas vezes, triunfam mesmo sobre as suas origens.
A audácia foi muita e o seu legado, diferente mas igualmente perpetuado no tempo, aí está. Amaram demais - homens, projetos e, atrevo-me a dizer, também, elas próprias porque a sua vontade foi sempre maior do que o resto. Quando chegar ao fim do livro provavelmente direi mais umas coisas. Para já, estou a amar demais ler sobre elas.

10 comentários:

  1. Esperemos que um dia ninguém possa defender que as mulheres de hoje estiveram muito atrás do "seu" tempo...

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    1. Mas muitas, apesar de acharem que não, continuam...

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  2. Sem mulheres de corpo inteiro
    a vida seria um deserto sem gente

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    1. :) Um pequeno hino às grandes mulheres, Eufrázio :)

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  3. Diana Oliveiraagosto 18, 2013

    A Teresa de Cálcuta não deveria estar incluída nesta lista, e até acho que é um crime contra a humanidade alguém escrever algo de bom sobre uma pessoa tão hipócrita que pelo seu próprio ego fez com que muitos indianos morrerem sem o mínimo de condições enquanto ela tinha milhões em contas no banco. Há exemplos de mulheres que fizeram do mundo um lugar melhos, mas esta não é uma delas. Se calhar estou a sair um bocado do objectivo do teu post que li, mas olha...há coisas que não se devem deixar passar...

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    1. ? Desconheço o que dizes, mas nem eu nem a autora do livro cometemos algum crime, Diana, embora no caso desta obra ainda não tenha chegado a essa figura. Vou tentar perceber porque falas assim ... se houver algo a perceber, claro.

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  4. Há, ao longo da história, muitas mulheres fascinantes com histórias memoráveis que merecem ser contadas. É bem verdade que estavam muito à frente no seu tempo a vários níveis, como mencionas. Mas garanto-te que não vivemos tempos de maior conservadorismo. Se antes, o swing, o ménage e outras cenas era " à frente", hoje em dia são banalíssimas assim como as relações homo e bissexuais. Há um elevado número de famosas a tecer comentários do género: "Quem ainda não dormiu com uma mulher?" não esperando que alguém levante o braço. Marla

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    1. Bem visto, Marla :) Mas também explico isso no post: o facto de, provavelmente, estarmos mais familiarizados com o atrevimento :)

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