junho 23, 2012

Territórios


                           
"Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro." 
"Não preciso de conselhos. E não mos deem porque me irritam. (...) "
José Saramago


Estas duas citações também me definem , com a execeção de que, em relação à primeira, não aprendi coisa alguma - simplesmente nunca o fiz. E não o fiz porque não gosto que mo façam. A arte de convencer soa-me a postiço, a processo anti-natura, a ceder perante aquilo que não se quer, a uma violação de algo que não nos é querido. As coisas devem ser desejadas, livres. Ir, comprar, participar, dançar, dizer um segredo, falar de nós, viajar, anuir em qualquer projeto ou em qualquer conversa dever ser algo profundamente desimpedido. Não se trata aqui de uma insistência normal que às vezes é feita com bons intuitos quando vemos alguém renitente e a quem falta o empurrãozinho final, alavanca de ânimo e de coragem para alcançar um feito que lhe será vantajoso e do qual nós conhecemos as vantagens. Mas o convencimento, sobretudo face a algo de que por vezes não sabemos detalhes nem antevemos os  resultados, é falacioso, imprudente e mesmo perigoso, resvalando para o campo das palavras que deviam ficar caladas. Podemos dar opinião, podemos analisar situações e possíveis saídas mas não mais do que isso. Calemo-nos face a quem não pediu mais do que o ouvíssemos. 
Da mesma forma, não se deve dar conselhos. Como são dispensáveis quando não são pedidos, paternalistas, falsamente moralistas até - porque razão as pessoas os dão sem alguém os ter requisitado é coisa que ainda não consegui entender. Há sempre almas que julgam saber mais do que os outros, que se colocam acima dos outros em conhecimento, em experiência. Que há pessoas com mais experiência de vida, há. Que já passaram por muita coisa e que que podem dar uma visão dos problemas ou das coisas de forma mais alargada , sim. Mas ainda assim, devem fazê-lo de forma simples, como quem partilha e não quem exibe a sua sabedoria sobre os demais. E devem ajudar se for pedida ajuda, nunca impondo a ajuda. Há espíritos independentes que preferem a auto-descoberta, a aprendizagem por vias próprias, pagando um preço por isso ou não, a escolha é inteiramente deles. Tratar os outros como dependentes e eternas crianças que nada sabem é um erro, não acreditando nas suas potencialidades e na suas formas de auto suficiência, sobretudo se isso for feito com laivos de excessiva proteção e descrença. Não sei se não preciso deles, mas os conselhos oferecidos não deixam de me irritar. E também não tenho espírito colonizador. Nem sou colonizável, já agora.

Sem comentários:

Enviar um comentário