abril 18, 2010

InCultura(s) - Parte I



Não sabemos nada da Bolívia. Alguns sabem que a capital é La Paz ou que foi lá que morreu o Che. Pouco ou nada sabemos da Mongólia. Outros terão ouvido falar do deserto de Gobi e saberão que a sua capital se chama Ulan Bator. O que sabemos da Namíbia, do Chade? Que ficam em África e que têm decerto uma capital cujo nome não lembramos ou nunca soubemos. E por aí fora. Literalmente: fora. Ou longe. Portugal, na minha opinião, está virado para dentro, fechado, vistas curtas, provincianismo. De facto, num mundo que se pretende cada vez mais globalizado, é um facto que a nossa incultura do mundo se torna cada vez maior e mais evidente. Comecemos, então.
1. Não falemos aqui das pessoas bem informadas, sedentas de saber, ávidas de conhecimentos. Essas facilmente procuram e encontram respostas para as suas curiosidades, de várias maneiras, a diferentes ritmos. Geralmente gostam do mundo e tentam conhecê-lo. Dissertemos um pouco, sim, sobre o grosso da população portuguesa, mesmo sobre as massas. Sobre os nossos familiares, os nossos vizinhos, os nossos alunos, os nossos colegas.
A maior parte dos portugueses não deve (nem tem de) possuir tv cabo. Não vê o Travel ou o Canal História ou o Odisseia. Não tem, deste modo, acesso a programas que nos levem para outras paragens que não sejam a esquina ou o quintal do vizinho ou então o Brasil ou os Estados Unidos. Telenovelas ou séries frenéticas e psicóticas, ou ainda notícias de faca e alguidar são o prato que nos servem ao serão, dia após dia, melhor, noite após noite, piorando um pouco mais no verão, época em que a televisão ainda se demite mais de (nos fazer) pensar (ou sonhar, ainda podemos?).
Falar da televisão (portuguesa) aqui não é ingénuo nem acidental. Continua a ser o mais poderoso meio de comunicação social, tendo a capacidade de elevar e engrandecer uma geração ou de a afundar e empobrecer culturalmente. Não mostrar o mundo, com as suas maravilhas e misérias, mas também mostrar as suas geografias, a(s) sua(s) história(s), as suas etnias, os seus monumentos, as suas tradições e também as suas modernidades, é uma falha colossal no que diz respeito à formação de cidadãos do mundo, precisamente. Pode aqui defender-se a ideia de que as pessoas podem procurar o que ver. Contudo, na minha opinião, a cultura das culturas do planeta, ou seja, o gosto pelo conhecimento do mundo em que vivemos não deve ser elitista, apanágio daqueles que podem e/ou sabem informar-se mas sim mainstream e chegar às massas, educando-as e edificando-as. Essa cultura deve entrar pela porta dentro sem pedir licença, assim como um raio de sol que nos ilumina e aquece e que não pede, obviamente, autorização. E quem não fica mais feliz com um raio de sol? I wonder...
Chega a ser quer hilariante quer revoltante o desconhecimento dos alunos nestas matérias, a colocarem, por exemplo, Paris nos Estados Unidos e a Grécia na África do Sul, e isto só para falar de incultura geográfica. Mas numa televisão que cultiva as séries de adolescentes acéfalos a desfilar em bikini e que não precisam de se esforçar para nada, acaba por se compreender este alheamento e desinteresse pelo que roda para além do umbigo e da boa vida.(Continua...)

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