A chantagem psicológica é uma coisa dos diabos. Diabólica, infernal. Provavelmente todos a usamos, em diferentes graus,
momentos, contextos, humores. Quando nos sentimos mais carentes, mais
inseguros, mais sensíveis, mais desabrigados, mais stressados. Trata-se de uma
arma fácil de usar, para prender o outro, obrigá-lo a retroceder, a anuir, a
sentir uma culpazinha que, tendo ou não tendo, nos poderá beneficiar. Assim é
feito o nosso mundo de emoções mais fracas, mais irracionais, mais infantis.
Mas se a pequena chantagem emocional, ocasional, percebida, até consentida,
não causará danos propriamente gravosos, o mesmo não se poderá dizer da
chantagem psicológica plena, sistemática porque hábito e defeito de quem a ela
amiúde recorre como forma de conseguir os seus desejos e objetivos,
malévola e causadora de grandes culpas castradoras e que inibem o outro de agir
livremente. O sentimento de culpa, sobretudo quando ela não existe ou não é da
forma que a querem pintar, pode causar a maior das angústias porque o maior dos
dilemas poderá daí surgir. E ligarmo-nos a alguém que nos prende com esse tipo
de argumentos não pode senão criar infelicidade. Deles, inclusivamente também,
porque nossa. Se estou com e aturo alguém e lhe satisfaço os anseios porque me
sinto amordaçado pela culpa, então não sou feliz, porque não livre, e não posso
espalhar felicidade quando não a sinto. Curiosamente, quem aciona o mecanismo
da chantagem parece não se aperceber disso – melhor, finge não se aperceber
disso. Muita gente prefere manter pessoas contrariadas e nitidamente
insatisfeitas ao pé de si do que enfrentar e admitir a sua perda.
Trata-se de uma questão de autoestima, de baixa autoestima,
na verdade. Segundo o sociólogo italiano Francesco Alberoni, as pessoas mais
fracas podem manter perto de si e com tolerância para os seus caprichos e
humores as pessoas mais fortes e independentes, precisamente através do uso do
sentimento de culpa. As últimas, inteligentes e saudáveis de espírito, podem,
no entanto, sucumbir a estas chantagens por causa da bondade, da compreensão e
da sensibilidade. Se não souberem e ousarem dizer não e não pactuar com o jogo,
podem anular-se e sentir-se responsáveis pela (in)felicidade do outro e assim
também serão infelizes.
Quem usa a chantagem para alcançar os seus objetivos soa como
alguém desprovido de inteligência emocional e respeito pelo outro. Mas, na
verdade, encontramos tanta gente assim, na família, nos (falsos) amigos, por
vezes, no emprego, nas relações sociais que mantemos. Umas são mais fáceis de
nos libertarmos do que outras. Uma mãe que chantageia os filhos adultos é mais
difícil de largar do que um colega carente e que cobra constantemente atenção e
mimos para existir. E mais exemplos podiam ser dados no seio familiar, esfera
privilegiada para estas relações que fomentam e se alimentam de culpas.
É uma arma que significa ausência de força. Se entendida como
modo de vida, forma de estar, instrumento usado para fazer os outros permanecer
perto de si. Portanto, dispensável, inaceitável, horrível.
escrito para o bahiamulher
"...esfera privilegiada para estas relações que fomentam e se alimentam de culpas."...tá dito e bem dito ;)
ResponderEliminar"Quem usa a chantagem para alcançar os seus objetivos soa como alguém desprovido de inteligência emocional e desrespeito pelo outro." Nem mais!
ResponderEliminarNão tenhamos dúvidas, Sónia. :) :(
ResponderEliminarAssim é, Rosa. :(
A isso costumo chamar "manipulação" e toda a manipulação é danosa e dolosa, logo «inaceitável e horrível»!
ResponderEliminarBjos
Perfeitamente:) Quer dizer,longe de uma vida perfeita.:) ( A existir, claro...)
ResponderEliminar"Abreijos" (que éum must)
O pior Fátima, é que quem manipula, e ainda que sem saber, manipula a própria vida. Um castigo que vai sofrer, devagarinho, por ela a fora. O que ganha de um lado perde do outro. Em dobro, em triplo, em quadruplo, olha, ao infinito...
ResponderEliminarNão tenho a menor dúvida, Carla. Ainda por cima dito por quem sabe muito mais disto do que eu. :)
ResponderEliminarCompletamente demodé! Laura Conde
ResponderEliminarDeveria:)
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