novembro 14, 2012

Mais afetos e menos fações



No seu mural no FB um colega escreveu que no meio dos afetos as bandeiras não valem nada. Não podia concordar mais e, no entanto, não é isso que frequentemente se verifica. Ao invés, muitas das reações que vemos hoje em dia, pelo menos, revelam-se impregnadas de ideologia, não se distinguindo o bem do mal de forma independente, refletida, amenizadora. Há muito pouca tolerância para com o erro, as falhas, as fragilidades, há uma visível cólera quando se discorda, há uma grande agressividade nas palavras e sobretudo no tom, instalam-se pequenas guerras que só dividem, catalogam-se as posições meramente de acordo com as áreas políticas, olha-se impacientemente para os outros como eles (por oposição a nós). 
Temos todos direito à nossa opinião e  de a expressarmos. É um facto que há opiniões que são bem expressas, bem argumentadas, bem alicerçadas mas outras nem por isso e outras ainda mais valia não virem à tona nunca (por ausência de ética). Por outro lado, é absolutamente normal que tenhamos diferentes posições políticas, perspetivas de sociedade divergentes e ideias sobre direitos e deveres que não coincidem. Contudo, seria bom que tais opiniões fossem discutidas e recebidas de forma mais calma e tranquila, menos radicalizada, sobretudo menos agressiva. Tenho dias em que estou farta dos confrontos verbais, da intolerância face a quem pensa diferente, da ausência de margem para o erro, das palavras iradas que atiçam (não faço ideia se alguns leitores poderão sentir o mesmo, imagino que sim). É preciso reavivar os afetos, pensar e agir sobre o que verdadeiramente importa, unir e não desunir, pensar antes de falar, saber perdoar, reconhecer os méritos de outros. Não falo do desespero, das situações extremas que se vivem, do turbilhão de emoções difíceis de quem vive dificuldades várias. Mas é preciso canalizarmos a raiva, a desilusão  e mesmo o espírito crítico para construir, de alguma forma, porque esse é o caminho. Faltam afetos no meio de tanta fação. Só eles podem melhorar os dias, encetar novas saídas, porque fundados no verdadeiro bem e não nas bandeiras que os condicionam.

6 comentários:

  1. Afetos: algo em vias de extinção!

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  2. Infelizmente, sim. Rosa. E que falta fazem...

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  3. Como sempre muito bem escrito.
    Tudo se resume a esta sua frase "Há muito pouca tolerância para com o erro, as falhas, as fragilidades, há uma visível cólera quando se discorda, há uma grande agressividade nas palavras e sobretudo no tom."

    Se estivermos um pouco atentos conseguimos perceber a diferença, entre alguém que desabafa porque num dado momento a situação assim o exige, e outro alguém que adoptou a agressividade como fazendo parte do seu carácter ou da falta dele.

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  4. OS afectos nunca se podem confundir com bandeiras (sobretudo quando estão invertidas...)
    O mal é mesmo quando nos querem obrigar a ter "a opinião".

    Abraço

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  5. Muito bem dito, Maria. Há, de facto, essa grande diferença. O direito à indignação é uma coisa, a agressividade gratuita é outra. Ainda bem que compreendeu onde eu quis chegar.:)

    Sem dúvida,jrd. Abraço recebido e retribuído**

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  6. Tolerância e serenidade precisam-se! :) Marla

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