novembro 15, 2012

Alguns dedos de conversa



Conversa ao almoço, mesa redonda,  cinco colegas

Degustamos pratos gourmet, no nosso polo de restauração, confecionados pelos alunos de forma irrepreensível.
Não falamos da crise mas do caráter português. De sempre. Sisudos, invejosos, críticos, covardes, vaidosos, profundamente infelizes. Adoramos criticar tudo e todos, invejamos o êxito dos outros, vivemos tolhidos pelo medo, exibimos arrogâncias morais  e não conseguimos sorrir para a vida. Muitos de nós não são assim mas muitos de nós são. 

Conversa com a minha dentista

Estou sentada na cadeira, pelo final da tarde. Esta mulher admirável e eu, mais uma vez, partilhamos cumplicidades.
Ambas otimistas, não acreditámos que a crise pudesse chegar onde chegou. E no entanto a preocupação instala-se à medida que a realidade ultrapassa o nosso caráter esperançado. Concluímos que o otimismo pode ser falacioso, mesmo perigoso se nos impede de ver o perigo aproximar-se. Por outro lado, é-nos impossível viver no pessimismo constante. Porque este paralisa.

Conversa cá em casa

Ao jantar; mais ou menos isto.
- Há muita gente que se endividou, que viveu de crédito(s)…
- O estado é que o permitiu.
- Então mas não achas que as pessoas se demitem de muitas responsabilidades?
- O estado é que tem a culpa.
- Mas eu posso ser pontual, por exemplo, mesmo se o patrão não é. Não preciso de modelos para ser responsável e profissional.
- Tu sim, mas muita gente não. O estado tem de dar o exemplo. Os que chegam atrasados não têm culpa, quem tem culpa é quem não os chama à atenção e os pune.
- Então mas o estado tem culpa de tudo?
- Pagas impostos portanto o estado tem de te assegurar tudo.
- Ok, já percebi… Muita gente diz isso, realmente. Só acho que as prioridades andam trocadas – transversalmente…
- Mas também tens razão, aí. E há quem não faça absolutamente nenhum e queira os direitos todos.
- Ah, bom… 
Convivência democrática e a vaga ideia de que não percebo mesmo nada disto. Apesar de não achar que esteja completamente errada...

4 comentários:

  1. Se a inveja fosse elegível o Cavaco não estava em Belém (não se perdia muito).

    A minha dentista diz-me para abrir a boca mas não me deixa falar...

    Ao jantar, por vezes, os diálogos são difíceis. Porque não experimentar ao almoço?...

    Abraço

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  2. O diálogo ao jantar foi elucidativo,jrd:) Eu andava a desculpar muito o estado. :)

    Quer que lhe diga o contacto da minha dentista? LOL Garanto-lhe que fica fã:)

    O presidente está em Belém? De certeza? :) (O meu lado naughty,ok)

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  3. Hilariante o comentário do jrd!
    Muito bem descrito o caráter português. Concordo com tudo, mas também temos bom caráter! :) Marla

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