outubro 31, 2012

Os que deixam marca

Imagino que as pessoas marcantes são aquelas que não esquecemos, que se perpetuaram na nossa memória de forma voluntária ou não. Acredito que é sempre de forma involuntária, até. O que não significa que não queiramos lembrar algumas, muitas. Mas outras há que gostaríamos de apagar da lembrança e, no entanto, não nos é possível. Estão lá para nos confrontarmos com encontros menos felizes, opções que fizemos ou falhámos, momentos que escolhemos viver ou não. Estão lá para que possamos tirar algum tipo de lição, na maior parte das vezes. Para que os encontros, as opções, os momentos presentes e futuros sejam encarados sob outras perspetivas, uma vez dotados de experiências passadas. E que dizer das pessoas marcantes que desejamos recordar sempre, ainda presentes na nossa vida ou, frequentemente, levadas com a aragem dos anos, das escolhas, dos imprevistos, dos desencontros, dos momentos que não foram mais eternos? Porque razão persistem ou persistirão na nossa memória para além do comum? Pode ter sido uma convivência intensa, um amor que não maturou, uma frase que se disse, um estilo de vida que vislumbrámos, uma atitude ousada, uma partilha de qualquer espécie, um conforto quando precisámos, um rasgo de loucura, um ensinamento inesperado, um instante que nos deixou feliz. Qualquer coisa de belo, de intrigante, desconcertante, inteligente, doce, inesquecível, que nos reforçou o alento, a esperança, a confiança, a cumplicidade, a audácia. Qualquer coisa que nos fez evoluir de alguma forma. Que nos fez ir mais longe.
Podem as pessoas que gostaríamos de esquecer ter conseguido algo parecido? Provavelmente. Se houve dor, esta também faz crescer. O enveredar por outros caminhos, o explorar outras possibilidades. As pessoas marcantes subsistem na nossa mente, e muitas vezes no coração, porque algo nelas desencadeou alguma espécie de movimento em nós, de processo, ou mesmo de revolução. Independentemente da duração e da intensidade, elas podem ter mudado - e mudaram - algo em nós e no modo como vivíamos ou pensávamos que vivíamos. São muito diferentes daquelas que esquecemos, tantas, boas pessoas ou não, mas indiferentes, e que se apagaram porque nada de novo nos trouxeram. De forma positiva ou negativa, as pessoas marcantes deixaram-nos um legado, por muito estranho que este possa ser. Acredito que se tratou de um legado maioritariamente positivo, se encetou uma mudança de que necessitávamos, se nos deu um outro olhar sobre nós e o resto. Por isso nos marcaram - essas pessoas. Ou nós a elas.

16 comentários:

  1. Ana Carvalhooutubro 31, 2012

    Excelente .É a nota que lhe dou.A professora tem o dom de passar para as palavras o que nos passa na alma e não sabemos exprimir.É um lavar de alma, todas as vezes que leio o seu Blogger.Parabéns!Bjs.

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  2. Às vezes também penso nisso. Terão sido apenas marcantes para nós, ou quanto da nossa marca ficou nelas...? Por outro lado, quantas das que amiúde esquecemos, nos têm como pessoas marcantes...? E seria importante o reencontro? Tanto dumas como das outras? Parafraseando, como os lugares, será que não devemos voltar às com quem fomos felizes? Responda-me, Fátima...
    Beijinhos

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  3. Li este seu texto, umas três vezes, não porque tenha sido difícil compreender à primeira, de todo, mas porque passa uma tranquilidade na mensagem que nos obriga em pensar. Tenho esta tendência de gostar de coisas que me obrigam a pensar.

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  4. Obrigada, Ana:) As suas palavras são muito encorajadoras. Beijinho também para si

    Paulo, são belas questões, as que coloca.:) Acho que sim, que devíamos poder voltar a algumas, tal como os lugares. Mas seria o mesmo? Não estaremos nós - e elas - diferentes? Em todo o caso, às vezes há a vontade de ir lá atrás e fazer de outra forma:) Mas seria bom? Melhor?
    Quanto às que não nos marcaram, é possível que nós tenhamos deixado marca nelas. Fascinante, não é?
    Beijinhos e bom feriado***

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  5. Maria, também gosto de pensar:) Obrigada pela leitura - tripla! Isso anima-nos, porque também é preciso:)

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  6. Andreia Silvanovembro 01, 2012

    Faty... penso que é isso: recordamos as que impulsionam o processo de construção de nós mesmos. Quem nada em nós acrescenta ou tira, não é lembrado...

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  7. Tal como o Paulo, também já tenho pensado nesta questão e já cheguei à conclusão que as pessoas que mais me marcam (têm marcado) de forma positiva são, na sua maioria, aquarianos(as). Não há hipótese! Este signo não nos deixa indiferentes! Sorry, fugiu-me o tema para os signos... Gostei muito desta leitura! bjs Marla

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  8. Li e voltei a ler, como faço aliás com todos os teus textos que me levam à reflexão. Já te tinha dito que de facto os teus texto me fazem refletir sobre mim, sobre os outros. Desta vez o meu destaque vai também para os seguidores que comentaram o teu post, identifiquei-me com todos os comentários.

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  9. Ah e já quase que me esquecia...beijinhos!!! :)

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  10. Como diz Sérgio Godinho: "E a marca ficou lá!"
    Há marcas que são tatuagens, outras nem tanto.

    :)

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  11. Tantas marcas boas e más... que no seu conjunto me definem, me aquecem, me completam e me fazem crescer!

    :)

    Adorei, como sempre!!!!

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  12. Concordo, Andreia:)

    Ah, que engraçado, Marla:) Eu também sou, como sabes:)

    Obrigada, Regina, pelas leituras e reflexões atentas:)

    Algumas são eternas, de facto, jrd. Já outras...;)

    Obrigada, Ana:)

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  13. AMEI! É isso mesmo! O que nos marca é inesquecível! Lília

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  14. :) O "amei" é animador, gosto quando alguém gosta :) Beijinho, Lília.

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  15. Muito bom Faty Laouini! É sempre um prazer viajar nas tuas palavras :) Beijinho grande
    Sandra Soares

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  16. Ah, Sandra, que bom saber que estiveste aqui:) Vindo de ti, que bom ler isso. Beijinho enorme

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