outubro 16, 2012

Os putos ... a aprenderem


Em França o presidente pondera acabar com os trabalhos de casa nas escolas, à semelhança de outros países que já o fizeram, de diferentes maneiras, até. Estive a ler a notícia no Público online, onde se diz também que Eduardo Sá, conhecido pedopsicólogo e psicanalista, corrobora esta posição, fundamentalmente para dar às crianças tempo para brincarem.
Bom, sou docente. Há três anos que não mando trabalhos de casa - estou numa escola profissional, pública, não são propriamente crianças os meus alunos, mas como não os faziam e também não sou apologista de passar aulas a corrigir trabalhos de casa, estamos assim. Falo do trabalho de casa de hoje para amanhã ou para a aula seguinte, porque há alguns, a médio prazo, que são pedidos, certamente. Isto pode ser e será discutível, tendo em conta a faixa etária dos alunos e tendo em conta que os trabalhos de casa obrigam os alunos a organizar-se, a concentrar-se nas matérias, a aprender mais, à partida.
Contudo, no caso de alunos mais jovens, e sobretudo crianças, não é tão controverso. É bem mais claro para mim que, de facto, as crianças precisam de tempos para brincar, para explorar, para descobrir ou apenas estar sem nada fazer.  São tantas as atividades extra-curriculares em que crianças, desde tenra idade, e miúdos maiores participam que lhes resta pouco tempo quando chegam a tarde tardíssimo desse movimento todo. Já fui pequena e nunca ia brincar antes de fazer os trabalhos de casa. Mas as aulas não duravam o dia todo nem havia o ballet nem o inglês nem o basquetebol nem nada parecido. No meu caso e em muitos casos da minha geração. Tinha, pois, imenso tempo de tarde para brincar, correr, saltar, andar fora de casa e mesmo regressar da rua perto da hora do jantar. Os tempos mudaram. Crianças e jovens estão enclausurados ou em grupo - nas aulas, nas atividades, no computador, na playstation, nos jogos vídeo, nas explicações. São cada vez menos as oportunidades de vida ao ar livre e não há momentos em que possam estar fora da pressão que sempre comporta estar em grupo. São essenciais espaços e tempos em que se possa fugir a essas exigências, libertadores, próprios da infância e da juventude primeira. 
Com isto quero dizer que não sou contra esta medida política. Um dos fatores que leva os  políticos franceses a ponderarem esta opção é a de que pais e família com maiores habilitações ajudam mais do que pais com habilitações inferiores, alastrando-se os contrastes socioeconómicos negativamente à aprendizagem  e avaliação escolares. Também tem, desta forma, uma vertente social que não é descabida. Poder-se-á alegar que sempre foi assim e que portanto será uma questão menor. Mas, de qualquer forma, não me repugna que haja poucos trabalhos de casa para jovens que têm tantas disciplinas e o horário cheio e tudo aquilo que já mencionei. E se falarmos de crianças, então muito menos. Porque que bom é, especialmente nesta fase da vida, ter um livro para ler e não o fazer.

6 comentários:

  1. Os putos...Sentam-se ao colo do Pai e da Mäe.

    :)

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  2. muito bom
    joão m.m.

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  3. Jrd- :) ora, então não?

    João - obrigada!!!

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  4. Não acho o argumento do Hollande muito convincente . Isto porque, hoje em dia, as crianças em países como a França e a Alemanha poderão receber na escola apoio na elaboração dos trabalhos de casa. É essencial que as crianças tenham tempo para brincar, mas sei que, hoje em dia, muitas têm atividades extra-escolares em demasia. Estão muito sobrecarregados! Posto isto, o problema não será apenas dos trabalhos de casa!

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  5. Esqueci-me de "assinar". Marla

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  6. Atividades extra-escolares e horário escolar de loucos. Sem tardes livres, nada. Portanto realmente assim fica difícil para os TPCs. Daí a medida não ser do meu desagrado.

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