Ontem num jantar de inspiração tunisina a norte, pus-me à conversa com uma rapariga de Sfax que se encontra a trabalhar na Universidade de Aveiro sobre o uso do lenço cada vez mais frequente por parte das jovens tunisinas. Se durante anos e anos tal prática não era vista porque o regime de Ben Ali a isso se opunha agora é mais do que normal verem-se as mulheres cobrirem os seus cabelos segundo a cultura árabe e religião islâmica. A minha curiosidade prende-se com o facto de agora que vivem em democracia, tendo portanto mais liberdade, me parecer mais contraditório usarem algo que para nós no ocidente está sempre ligado a uma ideia de alguma subjugação feminina. Talvez erradamente, não sei. Na verdade acho que pouco ou nada sabemos da cultura e religião islâmica, das suas idiossincrasias e das suas contradições, que também as há e não vejo porque não as possa haver, sendo que também as há no cristianismo e demais práticas religiosas.
Comecei por relembrar, para mim, que cultura e religião estão muitas vezes intimamente ligadas e que a tradição cultural se confunde com a prática religiosa e vice-versa. Depois relembrei, já em voz alta, que as minhas duas avós, já falecidas, usaram o lenço e que as mulheres portuguesas da sua geração o usaram, pelo menos nos setores mais tradicionalistas, voilá, e que as mulheres também o colocavam para ir à igreja - há nas idosas quem ainda o faça na missa. Mas que as gerações mais jovens, 25 de abril e tantas mudanças sociais depois, o largaram, assim como tantas outras marcas de um passado que já não tem lugar numa cultura de estilo moderno, para o melhor e pior que isso possa significar. A resposta da minha conhecida, que não usa lenço nem véu (na Tunísia de cara destapada) porque diz que é livre e que não deixa de ser muçulmana por isso - a religião para ela é pessoal -, abarcou várias justificativas, a saber:
Comecei por relembrar, para mim, que cultura e religião estão muitas vezes intimamente ligadas e que a tradição cultural se confunde com a prática religiosa e vice-versa. Depois relembrei, já em voz alta, que as minhas duas avós, já falecidas, usaram o lenço e que as mulheres portuguesas da sua geração o usaram, pelo menos nos setores mais tradicionalistas, voilá, e que as mulheres também o colocavam para ir à igreja - há nas idosas quem ainda o faça na missa. Mas que as gerações mais jovens, 25 de abril e tantas mudanças sociais depois, o largaram, assim como tantas outras marcas de um passado que já não tem lugar numa cultura de estilo moderno, para o melhor e pior que isso possa significar. A resposta da minha conhecida, que não usa lenço nem véu (na Tunísia de cara destapada) porque diz que é livre e que não deixa de ser muçulmana por isso - a religião para ela é pessoal -, abarcou várias justificativas, a saber:
- muitas usam por convicção religiosa, num ato que também é livre
- muitas usam porque querem casar e estão convencidas que o uso do lenço ou do véu é sinal de caráter, do género as boas usam as más não usam - estas ideias são delas e de uma razoável parte da sociedade, homens inclusivamente
- muitas usam porque os homens - namorados e maridos - ciumentos assim o exigem
- muitas usam porque está na moda e é altamente "fashion", exagerando na maquilhagem para realçar o rosto
- muitas usam quando o cabelo está desalinhado até irem ao cabeleireiro
- muitas porque sentem orgulho em exibir um item distintivo associado à sua cultura
- muitas porque aplicam várias razões misturadas
E muitas não usam. E muitos homens não gostam que usem nem pedem para usar nem sequer são ciumentos. Óbvio.
Para nós ocidentais, para mim, faz-me ou fazia-me uma certa confusão optarem por esconder um símbolo máximo da feminilidade - embora exibam outros aos quais eu não prestarei tanta atenção, é verdade. São as minhas pequenas limitações e preconceitos interiores... E fazia-me e faz-me confusão se o fazem coagidas ou por força da tradição, de uma tradição que não digiro bem em lugar nenhum, pois a minha liberdade é mais importante do que aquilo que outros decidiram por mim. Em todo o caso, há também aqui claras opções que vão para além da política e da coação social, portanto cada um faz o que quer. Posso não concordar ou não querer para mim estilos de vida que outros abraçam (mesmo com a distância cultural em causa) mas decidir em liberdade já é qualquer coisa de diferente.
O cabelo é a moldura do rosto feminino.
ResponderEliminarÉ possível imaginar a pintura "Madonna" de Munch sem moldura, mas nunca sem o cabelo a definir a beleza da sua face.
Embora muitas não deixem de ser belas, atenção:) Sempre achei incrível um rosto que aguente o não suporte do cabelo - que se mantenha belo à mesma, melhor dizendo.*
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