Há pessoas que se apegam muito aos lugares. E para quem, desta forma, fica difícil sair e começar de novo num outro sítio qualquer. Se, de facto, recomeçar significa um acréscimo de dificuldades – conhecer, ser conhecido, ter reconhecimento, estabelecer uma reputação, tanto a nível pessoal e local como a nível profissional, então se a pessoa ainda está presa ao que ficou para trás as dificuldades serão maiores ainda. Quer-se com isto renegar a saudade? Não, mas tão somente dizer que o excessivo apego pode ser prejudicial para novos caminhos que se abrem.
Explicando. Muitas vezes são-nos propostos desafios pessoais
e profissionais que implicam uma mudança de localização geográfica, de lugar. E
muitas vezes, também, recusamos essas propostas porque não conseguimos cortar
as amarras que nos prendem a um lugar. Claro que isto acontece mais
frequentemente quando estão envolvidas pessoas de quem gostamos e aí há que
pesar, de facto, se os nossos interesses de carreira valem mais do que os
nossos amores ou família, na impossibilidade de mantermos idealmente os dois.
Mas, por vezes, também acontece que as pessoas da nossa vida
estão dispostas a acompanharmo-nos e somos mesmo nós que não ousamos mudar,
agarrados que estamos a afetos construídos num lugar que nos viu crescer, a
rituais e hábitos dos quais não nos conseguimos ou não queremos libertar.
Tememos perdê-los com a mudança, tememos não conseguir voltar a criar nenhuns
parecidos ou que a eles vagamente se assemelhem. Porque o apego aos lugares
vem, muitas vezes, acompanhado de um fiozinho de medo. Medo de perder o seguro
e o conhecido e de nos aventurarmos pelo desconhecido.
Veja-se o exemplo de uma simples mudança de escola, por
exemplo, para quem é professor. Há quem tema os concursos, enquanto que
outros anseiam por eles (não falemos da questão da instabilidade mas de quem já está efetivo). Os primeiros, desconfortáveis onde estão, preferem não
concorrer por não saber onde vão parar, mesmo se mais perto, alegando, como já ouvi, que podem ir para pior. O
pessimismo e o desconforto em relação ao que não se controla nem se conhece
domina claramente a insatisfação com o presente. Nem são os afetos pelas
pessoas à volta, nestes casos.
E muito menos a saudade que se iria sentir. Mas o lugar, o seguro, o território
já explorado, a ausência de surpresas, de dificuldades, de entraves iniciais.
Por outro lado, há algumas vezes alguns toques de
possessividade carinhosa neste apego a um local– como amo a minha cidade, e, sobretudo,
como amo o meu país, alargando o conceito. Que todos dizemos,
como sentimento de pertença a um lugar, peça fulcral de construção de uma
identidade. No entanto, eu também sou pela mobilidade, independentemente das
suas causas e são várias e variadas. Atrevo-me, por isso, a deixar uma emblemática
pequena frase em inglês de que muito gosto e que serve para nos desapegar um
pouco e nos tornar mais flexíveis e adaptáveis: “Home” is where the heart is. Ou isto é, de
alguma maneira, passível de ser negado?
também no bahiamulher
Nunca tive problemas em mudar de emprego, de cidade, de país.Fi-lo muitas vezes ao longo da vida e , que me lembre, nunca me arrependi. Apensa uma vez, na Somália, pensei:
ResponderEliminarOra aqui está um país que eu preferia nunca ter conhecido!
Beijo e boa semana
Obrigada, Carlos. Adorei o comentário. Pois, eu cá também não tenho problemas com recomeços - até gosto, francamente. Gosto de começar de novo, do que implica. Claro que dá algum trabalho mas o desbravar é aliciante. Alma de exploradores? :)
ResponderEliminarGosto de recomeços e regularmente preciso de recomeçar algo ou mudanças...olha, já ia...ia mesmo. ;)
ResponderEliminarEste texto fez- me pensar(tarefa hercúlea eheheh)! Gosto de recomeços e cada vez me assustam menos... No entanto, as mudanças de lugares deixa-me hoje, aliás como sempre, curiosamente apreensiva... Parece contraditório... ou talvez não... Bj amiga
ResponderEliminarLília
Regina - idem aspas. Recomeçar é bom. :)
ResponderEliminarLília - os laços e os afetos demoram a fazer-se mas a mudança de lugares é também renovação. Gosto.:)
Em tempos li um livro chamado "Mudar ou mudar", ou seja, a ideia é que inevitavelmente, de uma ou outra forma, somos chamados a mudar: resta-nos fazê-lo livremente ou compulsivamente. O medo é, sem dúvida, o que nos detém, o amor é o leme! Parabéns, Faty! Luísa Alc.
ResponderEliminarO medo é uma coisa terrível... Paralisa-nos. Obrigada, Luísa.
ResponderEliminarSou apegada, confesso!! Aos lugares, às pessoas... DN
ResponderEliminarSair da zona de conforto não é nada fácil, é preciso coragem, curiosidade, abertura,... Por todos os lugares onde passei, deixei um pouquinho do meu coração. O lugar para ser feliz: ainda ando à procura dele... Marla
ResponderEliminarDN - A verdade é uma: cada um é como é:)
ResponderEliminarMarla - Que bonita frase final. Mas penso que esse lugar está mais dentro de nós:) Digo eu, que nada sei:)
Sim, tens toda a razão! Mas como sou terra, estava a pensar no espaço físico...enfim... Marla
ResponderEliminarTambém eu sinto necessidade de mudança. Gosto de desafios e necessito muito deles. Quanto a mudar de espaço físico... ainda ofereço alguma resistência que poderá estar relacionada com o meu "hoje", ou não...
ResponderEliminarBjs
A mudança de espaço físico é um grande desafio - mas renova(-me), apesar das dificuldades iniciais e de ser difícil a construção de afetos de um dia para o outro. Mas é uma tábua rasa - pode criar-se e muito... :)
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