maio 29, 2012

"Sozinhos fareis parte da neblina"

                                      
Ainda Gibran. Qualquer coisa como beberás da taça da solidão. Estarás com os outros mas como sozinho vieste ao mundo, beberás da tua taça e em silêncio. 
Já falei brevemente de solidão, aqui. Não é descabido falar uma segunda vez. Porque de facto tudo seria mais fácil se encarássemos como normal e fazendo parte da ordem natural das coisas um encontro com a solidão. Quanto sofrimento seria porventura evitado, quanta pressão atenuada, com quanta serenidade se viveria um período caraterizado pela ausência de um outro ou de muitos outros. Porque vejamos. Quantas vezes a dor da solidão não reside na pressão social que por sua vez se baseia no facto de não encarar com normalidade estados solitários? Se os encarasse com naturalidade, como fazendo parte de uma aprendizagem essencial, do crescimento pelo qual é preciso passar, quantas coisas seriam diferentes. Mas a precipitação, os julgamentos, os rótulos, a assunção do que será a felicidade alheia pela bitola que é a nossa não deixam o fluir dos acontecimentos e mesmo dos não acontecimentos. Muitas pessoas sós estão bem e não têm que estar mal acompanhadas apenas porque alguém lhes diz que não devem estar sozinhas, que devem fazer como os outros. Outras estão menos bem mas demorarão o seu tempo até encontrarem companhia, muito tempo por vezes. O tempo que dura não importa, importa é as lições que tiram e os caminhos que abrem nesse tempo em que convivem sobretudo com elas mesmas. 
"Sozinho? E depois? (...) É bom que bebeis da vossa taça sozinhos. E a taça da vossa alegria também a deveis (saber) beber sós."

4 comentários:

  1. Mantenho o que escrevi no comentário ao outro post sobre este assunto...

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  2. Eu acho que é preciso encontrar um equilíbrio interior = saber estar sozinho, para saber estar com os outros...

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  3. A solidão por escolha faz parte, ou pelo menos devia, da vivência humana. Ajuda ao encontro com o EU!
    BJS

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  4. Pois ajuda, embora a solidão do outro não seja a mesma que a solidão dos outros (fica para um próximo post, não há duas em três). Acho que sobretudo não devia ser o fantasma que se tornou pelas conotações sociais que lhe foram sendo imputadas.

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