maio 23, 2012

O livro da minha meninice



Uma das obras que me marcou desde cedo, porque lida em garotinha, foi A Cabana do Pai Tomás. O ano passado, na escola, foi-nos proposto que escolhêssemos um livro que nos tivesse marcado e resolvi escolher um que tivesse sido em idade tenra, a par desse clássico juvenil que foi e é Mulherzinhas. Mas enquanto que este último preencheu os meus devaneios românticos de menina que sonhava com aquela família idealizada, o primeiro marcou-me de forma diferente, atingindo fortemente a minha consciência de lutadora contra os oprimidos, contra os que não têm voz e contra as injustiças que nascem fruto de uma nunca aceitável não escolha.
Lembro-me de não conseguir ler passagens, naquela altura, em que o Simon Legree, pois não mais lhe esqueci o nome, brutalizava os escravos selvaticamente. A minha sensibilidade também se ressentia com as passagens da doença e morte de Eva, menina frágil filha de Saint Claire, não menos frágil, ao que me lembro, que muito apoiava os seus escravos que a seus olhos não eram mais do que familiares por vias de algo mais de que não o sangue. Elisa, o Pai Tomás e outros escravos fizeram parte da galeria de personagens sofridos, perseguidos por algozes que não queriam acabar com a escravatura, retratando o que foi a luta abolicionista nos Estados Unidos. 
São passagens, sensações de dor e de revolta que recordo quando evoco o livro que, repito, li em miúda e que nunca vi adaptado ao cinema ou em série. Escrito por Harriet Beecher Stowe, curiosamente também ela uma mulher, à semelhança da autora do outro clássico aqui mencionado, foi das obras que recebi de presente da minha madrinha, cujo marido e meu tio trabalhava numa papelaria. Hoje são donos de uma e agradeço-lhes pelos livros que me ofereceram contrariando outras tias que insistiam em dar-me coisas para o enxoval que eu tão somente abominava. As Mulherzinhas também "me foram oferecidas" (eram 2 volumes) por uma querida tia que trabalhava numa papelaria em Vila Franca de Xira e que viria a falecer alguns anos mais tarde, ainda muito nova.
A escravidão acabou, nos Estados Unidos e legalmente em grande parte do mundo. A consciência, e não só, essa é precisa para acabar com o que resta de escravatura ilegal no resto dele.

6 comentários:

  1. Também para mim "A Cabana do Pai Tomás", lido na adolescência, serviu referência e apontou os caminhos que nunca mais deixei de percorrer.
    :)

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  2. Inesquecível, para mim. Sabia que o Abraham Lincoln era aquariano? :) Deve mexer connosco mesmo:)

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  3. Dois livros que também marcaram a minha meninice :) "La Cabane de l'Oncle Tom", fez-me verter muitas lágrimas pela dor daquele povo e pela morte da menina. No outro livro, a Jo era a minha personagem preferida, rebelde e inconformada...lembro de que ela escrevia um livro e queria que fosse publicado...fora belas horas de leitura e de aprendizagens.

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  4. O mesmo com o primeiro. Marcante e muito, mesmo.
    No segundo comecei por gostar muito da Meg, depois da Amy e depois da Jo:) Quando vi o filme, décadas depois, alterei algumas perspetivas - o cinema e os galãs podem fazer estragos nas personagens:)

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  5. Prendas de enxoval abomináveis?! Soa-me muito familiar! Mas tive alguns livros que me marcaram, claro! Na infância, adorei dois livros da coleção "o ABC dos ovinhos", livros estrangeiros que primavam pela criatividade. Também gostei muito das " Histórias do Avozinho", uma coleção de livros infantis com belíssimas histórias, todas com uma moral. Na adolescência, também li "Mulherzinhas" e alguns livros da coleção " Uma aventura..." Marla

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  6. Quando falo em meninice não quer dizer criança criancinha, quer dizer em muito muito nova:) Mas não sou boa em datas:)

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