maio 03, 2012

Sagrado

                                     
Não gosto de arte sacra. Não sou apreciadora de visitas a igrejas, tirar fotografias a pormenores de portas, ouvir as explicações dos guias sobre histórias de bulas e bençãos e mais coisas do género. Organizando.
1. Não senti nada de especial no Vaticano, a não ser um calor imenso para quem ia decentemente de calças, cansou-me a visita às infindáveis salas, não vi o papa nem lamentei tal facto, apreciei sobremaneira a "Pietá", é certo, pelas referências que fazem parte do nosso imaginário cultural.  Emoção? Sim, senti-a, e foi grande, quando avistei as escadas que enrolaram mais um assassinato nessa obra de culto meu que é o Padrinho III.
2. Em Florença, para onde quer que olhasse, só me lembrava de Quarto com vista sobre a cidade, de James Ivory.  Embora seja extraordinariamente enriquecedora em termos culturais, isso é inegável, a cidade não é a minha favorita em Itália (sou uma eterna romana). Adorei as estátuas mas não consegui passar horas a olhar para a as fachadas das igrejas e estava desejosa de apanhar ar puro depois de tanto túmulo.
3. Em Notre Dame não entrei, em St Paul´s Cathedral também não, em Westminster Abbey igual, em Pádua não me lembro de ter entrado, penso que por estarem em obras, na maior parte dos casos, mas realmente não. Mas gostei de Assis e mais ainda de Sienna - comprei lá uma bonita cruz com que gosto de ornamentar o pescoço. Tenho um fraquinho por cruzes como acessório, vá lá entender-se o fétiche. Acho que me lembra a Escrava Isaura a lutar contra a opressão. Chorei em Olinda, lá do alto.
4. Não gosto de altares em casa nem de tabernáculos nos quartos, por cima da cama, nem algo do género. Não gosto de ter de me levantar na missa, nunca entendi porquê, incomodam-me os rituais longos e com muita música pelo meio, não gosto do sermão e o que mais aprecio é o que se faz menos - ler as palavras da bíblia. Ainda não conheci nenhum padre que pudesse admirar pela visão do mundo, achei-os todos, conheci poucos é certo, demasiado localizados no espaço e na cabeça.

Fogueira para tanta heresia, pensarão alguns. Mas não sendo assim religiosa tipo beata acredito em Deus. É verdade. Só que gosto de conversar com ele em igrejas vazias e posso mesmo rezar numa mesquita (já o fiz em Istambul) e numa sinagoga, o que ainda não aconteceu. Acho que o deus é de todos e sou assim para o ecuménico nas ideias, que nas práticas a cultura faz muitos estragos e a ignorância dos cultos dos outros também. Portanto Natal e Páscoa são belas alturas para mim, sobretudo esta última, muito mais espiritual, sem compras, sem obrigações. Mas claro que sou católica - não praticante, ao que parece - porque nasci aqui e cresci aqui e isto serve para a mancha das religiões distribuídas geograficamente pelo globo. De qualquer forma, nunca quis mudar. Deus está, é o que interessa.
E pronto, era isso. 

11 comentários:

  1. Nada a acrescentar. Haja fé e esperança.
    É bom saber que não são só os poderosos que têm a certeza de ter Deus do seu lado.
    Digo eu, que não sou entendido nas "coisas" da fé, mas respeito-as sem constrangimentos.
    :)

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  2. Pois, não sou de cultos nem religiões (que dividem demais) mas de acreditar (que devia unir):)

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  3. Admito que me arrepiei... Sou católica não praticante, mas cada vez mais alérgica a religião e igrejas. Apesar da história das religiões poder ter o seu interesse, o tema, normalmente, não me diz nada! Até quando fui ver "Jesus Cristo Superstar" de Filipe La Feria senti pouco interesse pelo musical...
    Curiosamente quando viajo, visito igrejas com agrado, porque as encaro como um museu/ um local de interesse. Não me peçam é para ir à missa, please! Marla

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  4. :) Arrepiaste-te porquê, querida? Afinal, somos quase iguais:)Ah, a questão das igrejas nas viagens... ok, não sou fã:) Gostei mais das mesquitas de Istambul - mais exóticas. Acho que adoraria os templos budistas pelas mesmas razões:)

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  5. Como partilho da(s) tua(s) maneira(s) de pensar e de falar. Andreia S.

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  6. Sim, tens razão! Mas bastou a imagem, mesmo sendo do Chagal (que eu adoro) e a palavra religião para sentir um pouco de "estranheza", sei lá. Mas gostei do texto, obviamente. :)Eu admiro qualquer templo religioso (igreja, mesquita...) como lugar de beleza e arte. Como lugares de culto, abomino! Bom weekend! kisses Marla

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  7. Obrigada, Andreia. :)


    Eu gosto da espiritualidade dos locais sagrados (todos) - se vazios. A nível de arte ... não. Pelos menos das igrejas não. Porque não aprecio arte sacra mesmo.:)

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  8. Poderia ter sido eu a escrever ;-) e tb na primeira pessoa ;-) beijos mts Faty linda ;-) Oriana

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  9. Obrigada pela visita, fada Oriana. :)

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  10. Grande texto. Gostei muito.
    joão de miranda m.

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