dezembro 27, 2011

Estalos

Uma das minhas cenas favoritas no grande ecrã é uma valente estalada. Sim, é certo, não estou a delirar. Claro, não é de todo romântico nem mesmo conveniente dizer. Mas é, de facto, a monumental bofetada que a Karen Blixen espeta no preconceituoso idiota que a importuna no baile de ano novo em "África Minha". Esta é provavelmente a figura feminina que mais admirei no cinema, sem nenhuma que a iguale assim de repente. A força e a coragem com que enfrentou a experiência África, em várias vertentes em simultâneo, tornaram-na digna da minha exigente reverência. A chapada com que brindou a chegada do ano novo no Quénia, ao mesmo tempo que o fogo de artifício brilha e ecoa pela noite, lá fora, ora, que bem aplicada.
É que hoje também me apeteceu dar um estalo. (Bem, não foi só hoje, mas andava tudo muito calmo há bastante tempo, estranhava.) Não propriamente algo  físico e sonoro mas assim uma estalada verbal, que metesse as coisas na ordem. Coíbi-me porque não me apeteceu chatear-me. Acabou de ser natal e, embora não oferecendo a outra face, isso é pedir uma nadinha demais, lá optei por me calar e sorrir. Óbvio que desliguei a ficha dos afetos de imediato. Alguma simpatia que pudesse sentir na altura (que não sentira no início da acquaintance, e como acredito na teoria da primeira impressão, devia ter dado ouvidos a mim própria, devia e não insistiria em acreditar para lá disso, pois então), essa simpatia desceu a graus abaixo de zero right on the spot. (Gosto de inglês, obviamente, é por demais eficaz em termos de expressividade. Não, descanse-se, não estou a trair o português. Adoro as duas línguas, é possível, you know.)
Fiz o unplug emocional de imediato - também eu tenho extrema dificuldade em lidar com o preconceito. Vistas curtas, assim bem curtinhas, género o que é de fora é mau, nós aqui no pequeno burgo é que somos todos bons, assim, tipo a santa terrinha é que oferece tudo, pronto, como dizer, cabeça pequena, alcance minúsculo, visão tacanha, mundinho medieval. Bloody narrow-minded fellows. Ui, não entra, pronto e não adianta pormenorizar.  Não que não tenha as minhas próprias embirrações, a saber - não gosto de piercings, hip hop, nem do gótico, nem assim de yuppies, e de mais não sei quantos estilos que não me dizem nada. Mas calo a boca se conhecer algum representante e respeitá-lo-ei ad eternum até prova de que não merece. Poderão mesmo exceder as expetativas, porque, felizmente, ainda muita coisa surpreende pela positiva (pela negativa, não menos, também é verdade) e aí farei justo ato de contrição. Mas isto são meros dislikes que não passam pela intolerância e pela ignorância, quero em absoluto crer.
Quando o preconceito é uma mais que estranha forma de vida e existe para destruir, então já sei que há uma barreira cá dentro que me faz um automático stop ao gostar. Estala-se-me a paz e o amor. Tolero pouco os intolerantes, deve ser isso.

2 comentários:

  1. Também eu tolero pouco os intolerantes,os fanáticos extremistas, os atrevidos pobres de espírito que condenam e julgam o que não conhecem,os que falam do que não sabem apenas para denegrir a imagem alheia, que de alguma maneira lhes faz sombra, e alimentar os seus pequenos egos vazios de interesses e de vida própria... Também eu, Fátima, tantas vezes sorrio e me calo...Como te compreendo! Abraço, amiga! Nené

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  2. Pois, nem digas nada. Sorrir não é o que mereciam na altura mas como desligo emocionalmente, desgosto e descolo o castigo ainda é maior, hehehe. Quem fica a perder, querida? :) Quem sorri, vive melhor :)

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