dezembro 25, 2011

The Wall



Hoje o jornalista da SIC que está habitualmente em Israel dava conta de um progresso económico considerável na Cisjordânia ao mesmo tempo que fazia a sua pequena reportagem natalícia a partir de Belém. Os hotéis cheios, turistas de vários pontos do globo, maioritariamente dos EUA, da América do Sul e "do Oriente" (dada a sua vastidão, não se presume bem de onde, especificamente), enfim anos de prosperidade que são de saudar em tempos austeros. Mas disse também que velhos problemas persistem - o muro está lá, bem alto, a dividir as comunidades, as religiões, as pessoas, e os colonatos judaicos avançam, ocupando território palestiniano. Ai, e logo a irritação. As boas notícias não eram, infelizmente, as únicas. 
O muro, a visão daquele muro que se ergue, como o de Berlim, e a não causar tanta celeuma e contestação à escala global. Isso é que não se compreende. Não compreendo como pode escapar à alçada da opinião pública mundial, como sobrevive e cresce sem nenhum tipo de atenção especial por parte dos media. Como todos parecem calados com esta crescente ocupação, ou entretanto se calaram, baixando os braços a uma luta que é a sobrevivência de um povo.  Precisamos de ver, ler, saber, ouvir, mais coisas, muito mais coisas sobre a política israelita face à margem ocidental do Jordão (já nem vou para Gaza, não me apetece, neste momento, ficar ainda mais agoniada).
E precisamos desse enfoque dado por pessoas independentes, que não estejam marcadas por fações que lhes turvam quase sempre a perceção, alinhados à esquerda ou à direita dos americanos, dos russos, dos chineses, de seja lá quem for. Sei que estou pouco informada via jornais (leio apenas um diário online e um semanário) mas pela tv portuguesa e pela blogosfera vejo muito pouco a propósito deste tema e, todavia, ele é fulcral na política internacional, abrigando consequências colaterais como atos de terror de má memória. Precisamos da verdade e que nos lembrem que há identidades e formas de vida que foram, simplesmente, aniquiladas.
Que tal falar-se menos nas receitas e nas compras de natal, na austeridade e nas agências de rating, nas coisinhas locais sem interesse - já me cansam tantas reportagens medíocres na televisão - e nos concentrássemos um pouco mais em situações de total injustiça e opressão? A maior parte das pessoas não sabe absolutamente nada do que foi a constituição do estado de Israel, a resistência árabe e a situação que ainda se vive hoje. Estão longe, é certo, mas não deixam de ser importantes, trata-se de salvaguardar a dignidade da vida humana, seja onde for. A proximidade não basta para explicar o envolvimento, ou pelo menos, a revolta.
Claro que o caminho é seguir unicamente uma via de paz, respeitando o direito dos dois povos à sua existência. Mas o muro tem de cair. Não pode haver muros maus e muros bons. Este também é feito de vergonha. Era bom que quem pode e sabe pudesse gritar isso bem alto.

6 comentários:

  1. Concordo. Esquecemos isso como esquecemos, ou falamos de longe, sobre verdadeiros flagelos humanitários, que parecemos quase esquecer, ou no mínimo lidamos com. Como se já fizessem parte de um mundo que é cruel e desumano, e pelo qual nada se deve fazer. É um conformismo ignóbil, que nos dá muito pouca dignidade. :) Deixo sorrisos. Por vezes, chego a pensar que abuso das palavras fortes quanto descrevo a humanidade. Gosto dela embora possa nem parecer. Mas desencanta-me, e tenho dificuldade em lidar com isso. Toma sorrisos outra vez. Gosto muito de te ler. Feliz Natal.

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  2. Tb gosto da humanidade e, no entanto, tantas vezes dececiona. Os comportamentos humanos são do que mais me fascina e também me inquieta:) Mt obrigada pelos sorrisos, pela simpatia e retribuo tudo. Tb gosto muito do teu blogue pois debruças-te, com grande conhecimento, sobre a natureza humana. E com verdade e simplicidade, o que vai sendo raro. Bjinhos CF::)) ****

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  3. Tanto fevor, tantos Hosanas com a queda do muro de Berlim, as a este ( e a outros que se ergieram nas duas últimas décadas) ninguém parece dar importância.

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  4. Completamente, Carlos. Isso é que é revoltante. O facto de haver nacionalidades e nações que continuam a valer mais do que as outras. Na balança mundial continua a haver desiquilíbrios tremendamente injustos. Obrigada por passar por cá, cumprimentos.

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  5. Um texto excelente.
    Sim, não há muros bons e muros maus.

    http://bonstemposhein-jrd.blogspot.com/2009/11/blog-post.html

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  6. O mesmo digo do seu post. Já comentei in loco:) Muito bom, humano, tocante. Excelente escrita, jrd.
    Obrigada!**

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