dezembro 28, 2011

Ao estilo Amish?

Os extremismos de qualquer espécie fazem-me espécie, e a si também, decerto. Políticos, religiosos, culturais, nacionalistas, profissionais, familiares. Se estiveram acompanhados, como quase sempre, de um culto por uma forma de existir que está fora do compasso da modernidade e que aprisiona e condiciona as liberdades pessoais, tant pis. Não que haja formas de liberdade - a não conseguir agora um melhor conceito - que não sejam excessivas, abusadoras, ofensivas, sobretudo se interferir com as liberdades do outro. Mas falando em estado bruto e assim depreendendo que toda a liberdade é, à partida, sadia e construtiva, qualquer sistema de pensamento que a condicione está a milhas do que acho que a vida foi feita para ser.
A notícia de que os ultraortodoxos israelitas querem criar barreiras entre homens e mulheres dentro do seu próprio seio fervoroso, espanta, e daí talvez não. Os extremismos religiosos são vários, são estúpidos, são avessos à evolução da humanidade (com todos os defeitos que isso acarreta mas também com todas as vitórias no campo da dignidade humana que já foram conseguidas). Não me interessam, não interessam mas interessa repudiá-los. Muçulmanos, católicos, protestantes, judeus, hindus, paganismo e demais religiosidades, todos têm ou já tiveram práticas absurdas e formas de pensamento organizado (e às vezes bem desorganizado) que obrigam os crentes a viver de forma obsoleta. Ou serão os ditos crentes que fomentam essas formas, na verdade, caindo em autosofrimentos e flagelações pessoais de dificil entendimento para espirítos mais livres.
O irónico nestas ditaduras de culto é que parece haver fraca memória de tempos passados em dor. A criação desta espécie de guetos sexuais - mulheres de um lado homens do outro, em autocarros, ruas e outros espaços, para além de indumentária plain ( a palavra que recordo do filme "Witness", em que a comunidade Amish abriga um detetive em fuga), e que tem paralelos em estados muito islamizados e não só, remete invariavel e nomeadamente para os horrores do ghetto de Varsóvia, para a Kristallnacht que queimou memória, património e percursos e para a exterminação final do direito de ser e existir. Aconteceu na história judaica recente e parece incrível que queiram, alguns, 10% ao que soube, reabilitar doentias formas de segregação.
Os Amish surgiram-me extremamente bondosos e não segregacionistas, talvez ou não filtrados com simpatia pela tela, mas parados na linha do tempo. Os tumultos em Israel e a declaração de Shimon Peres mostram que muitos não "irão"  querer retroceder, sobretudo quando não brota da livre vontade de todos. A bem das mulheres em particular e dos indivíduos em geral.

4 comentários:

  1. As liberdades individuais que o mundo ocidental alcançou nas últimas décadas são o sinal dos tempos, a necessidade das pessoas se libertarem cada vez mais das opressões e segregações do passado e de usufruírem plenamente dos seus direitos. Porém, a liberdade alcançada por muitos e muitas (em especial), quer na esfera social, quer na esfera privada (liberdade sexual, liberdade de expressão, liberdade de escolha da aparência física / do vestuário)têm chocado muitas comunidades de brandos costumes que tentam preservar a pureza dos seus e os valores verdadeiramente importantes. Compreendo as suas intenções, mas não entremos em exageros! Não é com
    atitudes radicais e inflexíveis, proibições e imposições e formas rígidas de controlo que se resolvem problemas. O segregacionismo, presente ainda na memória recente da África do Sul e dos E.U.A., não deixa saudades, apenas marcas profundas difíceis de esquecer! Marla

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  2. Sim, ser livre é também escolher caminhos, ainda que possam parecer absurdos. Cada um com as suas opções, é bem verdade, não podia concordar mais. O pior é quando eles são impostos e não propriamente escolhidos...

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  3. Eu sou radical e extremamente contra a segregação. Aliás, detesto a ideia de algo all-men or all-women (nunca mas nunca me convidem para uma girl only trip a não ser que seja para ir às compras, já que nesse campo, homens são impossíveis de aturar). Cá para nós que ninguém nos ouve, isto de sítios só para homens só denuncia como se confessam fracos e incapazes de não se distraírem pela presença feminina. Quem lhes dera conseguirem prestar atenção a pelo menos 3 coisas ao mesmo tempo como nós. Coitados, fraquitos e medricas, um deus qualquer que lhes perdoe.
    Sara

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  4. Hehehe, grande comentário, Sara e eu a pensar que às vezes era "assertiva" demais, acabaste de me tranquilizar::)) De facto, e como bem me conheces, não gosto de retrocessos civilizacionais, isto não quer dizer que defenda tudo o que é moderno, até sou uma rapariga à moda antiga em alguns domínios,mas medievalismo, bahhh, poupem-me(nos). Kisses

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