agosto 29, 2014
agosto 28, 2014
A ausência da bondade
Há dois ou três dias, apanhei por instantes um apontamento jornalístico num canal de notícias nacional e onde se falava do tecido de que são feitos os atuais líderes mundiais. O que foi dito - e tão bem dito - reforçou a evidência de que estão todos muito longe de um líder de alma grande chamado Nelson Mandela, pela total ausência de valores ligados ao serviço público e à ética e pelo culto quer dos interesses económicos e financeiros quer do seu próprio eu. Na verdade, não há figuras mundiais inspiradoras, que possam, de forma inteligente, altruísta e bondosa, mudar o rumo dos acontecimentos para construir sociedades mais justas e mais dignas. Mas não é só nos políticos que esta realidade se verifica. De um modo geral, todos se comportam deste modo. Os bens materiais e a obsessão pelos egos e pelas imagens que se tentam projetar tornam as pessoas cada vez mais histéricas, calculistas, e desumanas. Cada vez há menos serenidade, humanidade e generosidade. Há, infelizmente e numa palavra, cada vez menos bondade.
agosto 27, 2014
Realeza(s)
Mudam-se os tempos, mudam-se as figuras. E o resto. A segunda não é soberana mas não deixa de reinar em beleza, simpatia, elegância e, ao mesmo tempo, simplicidade. Não sou monárquica e nunca gostei de estudar as dinastias e os reinados, só ter de decorar os nomes e a amiga numeração romana era, francamente, uma maçada. Mas nos dias de hoje não deixei de notar que, podendo não ser a maioria, é certo, muitos dos países europeus mais prósperos e avançados têm monarcas como chefes de estado.
agosto 26, 2014
Inabitável evitável
O cessar-fogo definitivo - acredito que sim - entre Israel e a Faixa de Gaza deixa-me feliz. Pode não ser o compromisso ideal, ainda, mas significa salvar muitas vidas inocentes apanhadas nesta loucura. A ONU avançou com a informação que, se a guerra durasse mais tempo, Gaza seria inabitável já em 2020. Isto é chocante e seria mesmo uma espécie de extermínio... (não sou antissemita, insisto, para que não haja quaisquer dúvidas). Sei que por cá se fala do BES, das romarias e festivais, do FC Porto na Champions League e está-se de férias mas há quem sofra muito - e de que maneira - por esse mundo fora. E quando algum sofrimento acaba - pelo menos algum - temos de ficar felizes. Eu cá fico.
Em terra de cegos quem tem um olho é mesmo rei?
Aqui há dias reli com muito agrado uma short story de H.G.Wells chamada The Country of the Blind e que, surpreendentemente, dormitava no meu baú do esquecimento. Estamos perante um fabuloso conto que nos faz pensar sobre o que, na prática, é o domínio e a superioridade. Porque esta história, apesar de nos relembrar a noção de inadaptado, baseia-se essencialmente na descoberta de que capacidades que julgamos preponderantes não servem absolutamente para nada se as tentarmos encaixar e sobressair num mundo que não as partilha, que desenvolveu outras igualmente importantes e que se apresentam funcionais no modus vivendi que foi instalado.
Nunez, o personagem principal, cai (literalmente...) num mundo quase onírico onde ninguém tem a capacidade da visão. Ele lembra-se de imediato da máxima universal "em terra de cegos quem tem um olho é rei". Assim, pensa que facilmente poderá ser o líder daquela comunidade, por possuir faculdades inigualáveis que o tornam mais poderoso do que os outros. A história é fantástica, no duplo sentido da palavra. À medida que vai descrevendo as maravilhas que vê, apercebe-se que tais deslumbradas descrições em nada seduzem os habitantes do local na medida em que estão habituados a viver sem essas sensações visuais e desenvolveram outras com as quais parecem viver eficaz e tranquilamente. De facto, reduzem-nas a nada. Mesmo para a rapariga nativa por quem se apaixona, que escuta as narrativas das maravilhas naturais por amor, de nada serve esta extraordinária faculdade da visão. O hábito é outro e o protagonista vai-se apercebendo, com tristeza e desapontamento, que não só não poderá ser líder como nem sequer valorizam a capacidade que julgou superior. Pelo contrário, de líder passa a servo. No final, tem de escolher entre o amor e a visão - só poderá casar com Medina-saroté se abdicar da visão...
A incursão por este mundo fictício, na América do Sul e repleto de evocações que diria exóticas, é um espantoso convite à reflexão sobre o que é ter uma "deficiência". Ele - Nunez - não tinha um mas dois olhos e, no entanto, não conseguiu nunca reinar.
agosto 23, 2014
Do medo
É possível que grande parte do medo que sentimos decorra de coisas que já conhecemos. Mas é altamente provável que a maior parte do medo que temos advenha do que não conhecemos.
agosto 22, 2014
Essência ou estatuto?
Ontem estava um tipo português na televisão a dizer que a mulher portuguesa é apreciada porque "é dócil, cozinha e faz uns pratos deliciosos". Pronto, resumiram-nos a isto. Pode o ISIS invadir Portugal para estabelecer o califado que já encontrou um aliado no que diz respeito ao nosso papel.
agosto 20, 2014
Ondas de choque
A notícia de que um português se tornou num bombista radical no Iraque só confirma o que penso desde sempre: a motivação para estes movimentos extremistas não é, ao contrário do que possa e querem fazer parecer, religiosa. O facto de se ter convertido também não me convence. As motivações que levam a estes atos bárbaros sem qualificação são de outra estirpe, que podem passar por fios de frustração e violência já como predisposição interior, convenientemente aproveitados por quem deles se apercebe, até a posições políticas radicalizadas, possivelmente anarquistas e até terroristas porque baseadas em práticas eminentemente destrutivas. Este reino de terror que está a surgir no Iraque tem também uma alucinante e perigosa componente de domínio territorial, o que reforça a minha convicção de sempre em relação à maior parte dos conflitos: eles decorrem maioritariamente da sede de poder e território.
Ao que parece, há cerca de 3000 a 5000 jovens europeus a combater ao serviço deste "Estado Islâmico" que existe só nestas cabeças como estado mas que no terreno tem instaurado o horror, num retrocesso inacreditável de valores e de estilo de vida. O mais curioso é ver que isto tudo veio numa sequência de eventos desastrosos no Iraque e de purgas atrás de purgas: Saddam amigo dos EUA (dirigente sunita, por contraposição ao inimigo Irão, xiita), invasão dos EUA e deposição do ditador sunita, chegada ao poder dos xiitas e respetiva perseguição aos sunitas do antigo regime, criação do movimento ISIL/ISIS, sunita, com o objetivo de vingança contra os xiitas (e alargando a todos os credos da região, incluindo os curdos e os cristãos), enfim, uma panóplia de vendettas e de alianças completamente caóticas mas extremamente perigosas. É uma tristeza enorme ver aquilo em que se tornou o Iraque desde a queda de Saddam. Não que este não fosse o que era, mas os resultados destas reviravoltas todas tiveram o pior cenário possível. Provavelmente, o que começa com violência só pode acabar em violência.
Mas falava acima dos europeus rendidos a esta "causa". Não sabemos em que termos são prometidas recompensas, porque é possível. Também é possível que sejam apenas opções próprias, mas aqui considero que são radicalismos que devem basear-se na total rejeição dos valores ocidentais (ou americanos?), do capitalismo, do consumismo, das sociedades modernas que se afastam dos valores mais tradicionais. Desta forma, encontram nestes movimentos extremos uma forma de contestação pura, de adrenalina política e social que os faz embarcar numa loucura destas. Também no ocidente há criminosos, mentes desviantes e fracas. As patologias individuais estão por todo o lado. Trágico é quando se tornam coletivas. Sobretudo quando se traduzem em ondas de medieval tirania e de inconcebível crime.
agosto 19, 2014
Anti-anti
Assim muito rapidamente: não posso com radicalismo, com fundamentalismo, com racismo, com xenofobia, com segregação, com intolerância, com opressão, com totalitarismo, com primitivismo, com medievalismo, com tirania, com ódio, com anti-qualquer coisa que, a favor ou contra, se baseie na cor, credo, etnia, costume, diferença, seja lá o que for. Não posso com nada disto venha de onde vier, esquerda, direita, este, oeste, sul, norte, judaísmo, islamismo, cristianismo, feminino, masculino, noite, dia, yin, yang. Não gosto de ninguém, no sentido total do que é gostar para mim, que se enquadre nestas ideologias, políticas, religiosas, sociais. Ou que decorrem simplesmente, e na maioria das vezes, de um tremendo apetite pelo poder. Tudo isto repele-me, arrepia-me e põe-me a milhas. Não posso com teorias ou práticas anti-liberdade ou anti-diferença, em qualquer parte do globo. E sobretudo não posso com a violência oriunda de qualquer destas formas de negação humana.
agosto 18, 2014
O crime e o campo
Há uns tempos que me virei um pouco para a televisão por cabo, por várias razões. Na descoberta, encontrei uma série britânica da qual me tornei absoluta fã: Midsomer Murders. Trata-se de uma série que passa diariamente na Fox Crime por volta das 18 horas e que se passa numa região ficcional algures no English countryside. Aqui, a par de crimes macabros e recorrentes, respiramos o ar puro do campo e deliciamo-nos a ver as flores, os jardins e as casas tipicamente britânicas, num estilo que poderá ser considerado crime à moda antiga (como a série é publicitada, de resto). Desta forma, ao mesmo tempo que seguimos a interessante investigação de crimes maiores, uma certa tranquilidade acaba também por surgir, de forma contrastante mas realmente possível. Por isso a vejo com muito agrado, para além do interesse linguístico, por causa desta fuga à confusão citadina e à voracidade das imagens violentas habitualmente presentes em séries policiais.
A série transitou agora para uma nova fase, aquela em que o detetive principal passa a ser representado por outro ator, já que o primeiro abandonou a série depois de anos a fio como protagonista. Também soube que Midsomer Murders recebeu alguma crítica no sentido em que foi considerada por alguns como " a bastion of Englishness", ou seja, um bastião do que é ser inglês, passando ao lado, portanto, do tecido multicultural que compõe a Inglaterra de hoje. A verdade é que posteriormente a isto, já apareceram personagens asiáticas e africanas esporadicamente, embora os seus autores mantenham que a série é para um público muito específico, até nostálgico, é possível, acrescento eu depois de ler algumas opiniões. Fazendo parte desse público desde há um tempo a esta parte, confirmo que me sabe bem esta incursão pelo campo, onde o tempo parece ser e ter outro tempo, independentemente do resto.
agosto 16, 2014
Nº 3
Ela tinha uns magnets muito engraçados no frigorífico. Um deles dizia "beijo melhor do que cozinho". Uma outra ela, quando o viu, soltou de imediato uma valente gargalhada. Era assim que, em alguns aspetos, eram testadas as visitas em casa. Esta passou no teste.
agosto 14, 2014
Tendências deste verão
1. Obama não veio a ser o que poderia ter sido, ou o que esperava eu que viesse a ser, isto em termos de política externa. Continuou a histórica tendência norte-americana de apoiar incondicionalmente os seus aliados e de ignorar o resto desde que esse resto não coincida com os seus próprios interesses. Ainda assim, não devia estar surpreendida com a desilusão. Afinal, fazer diferente apenas porque se é um pouco diferente seria uma espécie de racismo ao contrário. Se presidentes brancos, nos EUA ou em qualquer lado, fazem-nas mal - e muito - porque não haveria de acontecer exatamente o mesmo com os não brancos?
2. Na Rússia vendem-se T-shirts com a figura do presidente Putin. Esta é uma tendência nova por lá, creio, e espero que a moda não pegue por cá, salvaguardando as devidas distâncias. Ele há gostos para tudo, já que não me pareceu que estivessem os compradores com nenhuma arma apontada para fomentar a aquisição. Mas tudo é possível, há caciquismos que não desaparecem, vão-se é mudando as abordagens. Do que vi, a única coisa de que gostei foi das latas estilosas onde as T-shirts vinham. Tirava-lhes o papel e punha outro, com o rosto do Clive Owen, muito provavelmente. Será que as vendem sem o conteúdo?
3. A tendência em Hollywood é condenar à fogueira quem se opõe ao estado de Israel e quem critica o lobby judaico de alguma forma. No meio da novela Cruz/Bardem, em que estes foram chamados de ignorantes, porque oriundos de um país que teve a Inquisição (de terrivel memória, para que conste), descubro que em 1996 o ator Marlon Brando já tivera de pedir desculpas por ter falado na TV nos estereótipos nacionais dos filmes americanos, nas mãos de executivos e produtores judeus, essencialmente. Liberalismo, sim, mas só se numa direção. Liberdade de expressão e artística, idem aspas. Não soa isto também a medievalismo?
agosto 12, 2014
Caminhos
Tal como se previa, alguns não permaneceram. Sabíamos, sentíamos. Não ouviram, não souberam ou não quiseram. Preferiram continuar, sozinhos, seguindo o caminho que escolheram, ouvindo-se a eles e a mais ninguém. É perfeitamente natural não querer ajuda quando se sabe o caminho, quando se conhecem os perigos e as saídas. Mas já não é a mesma coisa recusar uma ajuda quando o caminho é nitidamente o que leva ao desastre. Estavam no seu direito, é um facto. Uns mais do que outros, provavelmente. Escolheram, voltaram costas. Mas não a nós. A si mesmos, na verdade. Não há, em alguns casos, como voltar atrás. Seguem agora um caminho, livres e ao mesmo tempo não, já que presos nas suas escolhas. Seguem o seu caminho, pois. Mas que nunca digam que não se lhes mostrou outro.
agosto 11, 2014
Coexistência
Há três coisas que não podem coexistir com a maturidade intelectual: a tontice, a superficialidade, o vazio. E possivelmente uma quarta. O limbo.
A guerra nos olhos
Este filme chama-se Triage, no original, e foi também distribuído com o título Shell Shock (acrescento que este termo refere uma perturbação psicológica de quem é exposto a cenários de guerra e sob bombardeamento). A tradução portuguesa é "Os olhos da guerra". Trata-se de um filme difícil de ver, no sentido em que temos uma personagem masculina fortemente deprimida depois de ter estado no Curdistão na sua qualidade de fotógrafo de guerra. A primeira parte do filme passa-se lá, de resto, e acompanhamos de perto a atmosfera de um palco de guerra e desalento a que poucos conseguem resistir. Na segunda parte, Mark (Colin Farrell) regressa a casa e a partir daqui a ação é completamente outra. A esposa e os amigos apercebem-se que ele está estranho, distante e profundamente traumatizado. Interrogam-se também sobre o facto de ter regressado sozinho, sem o amigo que o acompanhou nesta missão. É então que a esposa (Paz Vega) decide contactar o seu avô para iniciar um processo de terapia com Mark. A relação entre ambos é feita de muita paciência por parte do analista (Christopher Lee) e muita resistência em colaborar por parte do fotojornalista. O filme tem um ritmo lento, sobretudo nesta parte, intimista e até perturbante. Não é fácil estarmos a ver e a partilhar dores psicológicas profundas de ânimo leve, isto se entramos numa história a sério. No entanto, é um filme essencial para compreender o sofrimento de quem passa por cenários de horror e morte. O realizador é bósnio, a Espanha foi o local de filmagens enquanto paisagem curda e o ator principal procedeu a uma dieta baseada em atum para emagrecer drasticamente e ter o ar frágil que apresenta durante grande parte da história. No geral, um filme diferente, denso, que evidencia as capacidades dramáticas do seu protagonista, que nos faz lembrar que as nossas queixas diárias não são nada comparadas com outras bem maiores e que é impossível obter uma vida tranquila sob o signo da culpa.
agosto 10, 2014
Tudo isto é pobre
A informação televisiva nos canais generalistas portugueses, dia ou noite, é cada vez mais deprimente. É extremamente pobre, redutora e nada ajuda ao esclarecimento e à informação essencial e necessária. Os jornais duram 1h 30m e grande parte do seu conteúdo é um desfilar de arraiais, feiras, festas, concertos e festivais, mais parecendo um roteiro de férias do que um espaço privilegiado para informar convenientemente. É alarmista, não quebra preconceitos, sendo tendenciosa, e sem qualquer visão global sobre os acontecimentos. Um rol de disparates aborrecem quem quer centrar-se na verdade - ou nas várias verdades - e saber mais com mais rigor e com qualidade: há notícias que são dadas em primeiro lugar sem tanta relevância - ou nenhuma - em relação a outras tão mais importantes; as reportagens de rua feitas por cá são péssimas, com perguntas a roçar a idiotice e que nada trazem de válido ou significante a quem vê as notícias; focam-se aspetos que nada têm a ver com a informação mas com diversão e afins - para isso deveriam criar programas próprios que seriam vistos por quem quisesse, não nos obrigando a ter de passar pelas romarias várias antes de chegar, por exemplo, às notícias internacionais de grande impacto; não parece haver repórteres que cubram decentemente os acontecimentos nas áreas de conflito mundial, no terreno, como já houve antes; a duração é demasiado longa e obcecada com os problemas internos, desde a banca ao governo, explorando essas temáticas até à exaustão, criando por vezes angústias e confusões desnecessárias - gostamos da verdade, obviamente, mas não nos inundem a hora de jantar com novelas intermináveis criadas basicamente pelos mesmos temas. Posto isto, já quase não vejo televisão portuguesa nenhuma. Correção, já não vejo nenhuma televisão portuguesa. Deprime, desinforma, formata, promove o sensacionalismo, valoriza o supérfluo ao mesmo tempo que ignora o relevante. Dá a sensação que não existem diretores de informação e responsáveis que vejam o estado da informação atualmente e as consequências que traz. A ignorância popular grassa, anestesiada ainda por cima, nesta altura, pelo verão e as suas mil e uma noites de música e de gastronomia. Para onde vamos assim, interrogo-me. A visão estreita-se, a grandeza fica cada vez mais longe. Descreva-se tudo isto numa palavra: pobre. Tudo muito pobre.
agosto 08, 2014
Emprego a quanto obrigas
Pelo que li ontem, a atriz Penelope Cruz demarcou-se da posição anteriormente tomada relativamente ao conflito israelo-palestiniano, sob pena, e aqui acrescento eu, de perder contratos para filmes em Hollywood. Passo a explicar. Ao que li, a atriz espanhola fez parte de uma lista de intelectuais e gente ligada ao cinema em Espanha que escreveu uma carta a condenar os ataques e a ocupação israelitas. Nessa lista constavam também os nomes de Javier Bardem, agora marido da atriz, e de Pedro Almodovar, entre outros. A carta caiu muito mal em Hollywood, ao que li também, embora ainda não tenha pesquisado nada online sobre o assunto. Passado uns dias, Penelope Cruz veio distanciar-se do sucedido, alegando mesmo a notícia que ela teria pedido desculpas a Israel. Em Hollywood, o artigo dizia e não é novidade, há um forte setor judaico que controla grande parte da indústria, pelo que é fácil perceber porque Penelope o terá feito. Triste é o facto das pessoas não poderem ter opiniões vincadas e contrárias aos patrões, desde a base da pirâmide até ao topo, pelos vistos. Não saber separar e avaliar o talento ou a competência independentemente da bajulação é, está visto, transversal e profundamente dececionante. E por falar neste assunto, isto tudo confirma o que sempre suspeitei em relação à talentosa, belíssima e adorável atriz portuguesa Daniela Ruah. Que ela conseguiu chegar onde chegou tão rapidamente por ser judia é algo que já penso há muito. Não tenho absolutamente nada contra isso, nem sequer me interessa a religião de nenhum ator e atriz que admiro, neste caso ainda por cima fico feliz por ela ser portuguesa e ter Hollywood rendida ao seu charme. Mas o emprego, mesmo nos meios altamente desenvolvidos, ainda tem panos que a gente (des)conhece.
agosto 06, 2014
Nº 2
Era impaciente, muito, detestava esperar pelas coisas (mais) pequenas. Mas soube sempre esperar - e de que maneira - pelas coisas verdadeiramente grandes.
agosto 03, 2014
Hostilidade virtual e escuridão real
Já não é a primeira vez que, ao expressar uma opinião num mural de alguém amigo no FB, aparecem pessoas extremamente mal educadas do ponto de vista em que colocam a sua opinião, neste caso obviamente quando não coincide com a minha. Tendo a preferir claramente pessoas francas, diretas - acrescento esclarecidas - e considero que tenho tolerância e paciência q.b. mesmo quando acho que os seus argumentos, os das duas primeiras, não têm pés nem cabeça. Na verdade, há muita gente convencida que sabe muito ou tudo quando isso não corresponde, de todo, à realidade. Ninguém sabe tudo, ninguém, mas alguns sabem bem menos do que julgam ou querem julgar. Mas a cada um a sua opinião, democracia será isso mesmo, o direito de todos opinarem, razoavelmente ou não. O que já me deixa com alguma irritação mental é a má educação, ou seja, os termos em que de forma ofensiva e irracional discordam da nossa perspetiva. Ora isto diz tudo da natureza humana. Se num simples registo virtual de opinião e numa mera troca de ideias online mostram-se logo garras de maneira hostil e injustificável, aproveitando ínfimos pormenores e/ou vendo coisas que não existem, como não entrar em conflito aberto por coisas um bocadinho maiores? Depois queixamo-nos, queixam-se, de que os outros são diabólicos quando fazem isto ou aquilo - e são, muitas vezes. Mas podia olhar-se um bocadinho mais para dentro e ver que se destila ódio facilmente perante coisas que diria pequenas. Muito pequenas, até. A escuridão está dentro. O inferno, pelos vistos e frequentemente, somos nós mesmos.
agosto 02, 2014
Os homens devem estar loucos
Despertando um pouco das nossas rotinas atarefadas mas apesar de tudo normais comparadas com a anormalidade de tantas vidas que andam ao sabor da geografia do poder, aqui ficam hoje duas notas de espanto ou horror, sobretudo por elas, as vidas debaixo dessa louca espiral de retrocesso e violência.
1- Na Turquia, um belíssimo país que visitei há mais de uma década e que adorei, o PM atual diz qualquer coisa do género "As mulheres devem evitar rir em público". Não li a notícia toda, apenas o título, e assumindo-a como verdade pensei logo que, no meu caso, estaria verdadeiramente tramada. Mas o que aqui está implicado é muito mais do que uma simples graça por parte de quem está à distância. Significa uma absurda caminhada no processo de islamização, aparentemente discreto para o ocidente, que se está a levar a cabo na Turquia moderna, filha de Ataturk. Sou completamente a favor das liberdades individuais e do estado absolutamente laico. E desilude-me profundamente uma figura - Erdogan -que me parecia moderada e equilibrada, até elegante, tão diferente no porte das figuras mais fundamentalistas que estamos habituados a ver nos media. O ano passado conheci uma turca em Erasmus, aqui na UA. Era completamente contra este PM e as suas políticas de islamização social. De facto, como poderão viver sob este e outros disparates os jovens que vi em Taksim, Istambul, entre tantos e tantos outros?
2- O ISIL ou ISIS, o unilateralmente declarado Estado Islâmico do Iraque (e Levante/Síria) é um perigoso movimento- porque alucinado e medieval - que surgiu no norte do Iraque no âmbito da queda de Saddam, na subsequente vingança xiita contra os sunitas iraquianos do antigo regime, e agora como vingança anacrónica e brutal - brutal, mesmo - contra todos aqueles que a organização considerar inimigos, xiitas e cristãos incluídos, sem esquecer a condição feminina, numa onda de terror e de obscurantismo completamente inconcebível. Ontem estive a ler alguns artigos acerca da organização, considerada brutal, repito, até pela Al-Qaeda, espelho também da confusão de alianças políticas, religiosas e étnicas que é praticamente impossível de entender por aqueles lados. Em casa, é-me dito diz-me que agora lembraram-se de falar em países como Portugal e Espanha, que também foram mouros e que, portanto, devem fazer parte desse grande estado que viria de lá de cima por aí fora até cá abaixo. Isto de ser moda querer restaurar fronteiras a partir de livros religiosos de há milénios é uma profunda idiotice e um desrespeito pelas leis internacionais modernas em tempos de ONU e de declarações universais. Sobretudo o que isto representa no terreno: ilegalidades e imoralidades que repudio totalmente.
O que me choca nestes fundamentalismos todos é a certeza que gente inocente e de bem, que há invariavelmente em todo o lado, sofre de forma chocante e indefesa quando cai sob a alçada de insanidades que intimidam e forçam pela uniformização e pela intolerância, pelo terror e pela violência. O exercício do poder, já de si perigoso, pode tornar-se desumano e demente nas mãos de loucos. Assim foi ao longo da história, em que uns oprimiram e brutalizaram outros. Mas o meu choque advém não do conhecimento da história mas da constatação de que nada aprendemos com ela. Estão a acontecer coisas terríveis por esse mundo fora que não podiam nem podem acontecer, repito, não em tempos de direitos humanos, tecnologia e modernidade. Isto assusta-me profundamente e temo. Temo por aqueles que, geograficamente ou não só, a essas terríveis coisas não conseguem, infelizmente, escapar.
E quanto mais vejo e escuto ou leio sobre esta loucura humana mais me apetece ficar a olhar o mar ou estar perto dos flamingos que se instalaram perto da minha casa.
agosto 01, 2014
Seleção natural
Não cabem na nossa vida todas as pessoas que cabem no nosso coração. Ou, se se preferir, na nossa mente. Não conseguimos albergar os afetos de forma física que seja perpetuada no tempo e permanente no espaço. Não é possível. Daí que, mesmo sem querer, se vão deixando pelo caminho simpatias, afinidades e cumplicidades. O tempo e o espaço encarregam-se de traçar os nossos encontros e também os desencontros. Mesmo que a vontade seja a de manter todos aqueles que vamos conhecendo e de quem gostamos, telefonando, escrevendo, estando pessoalmente, nem todos se mantêm presentes nos nossos dias. Nem nós nos deles. Não nos é possível, já disse, não com todos aqueles que encontramos pelo caminho e que nos deixaram uma boa memória. O que fica de alguns deles pois então? Ou, possivelmente, de muitos? Um rosto, uma frase, um local, um sorriso, um momento, um nome, tudo em simultâneo ou nem por isso, uma emoção, uma saudade, um lugar cá dentro. Até mesmo sem nunca mais lhes termos posto a vista em cima.
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