julho 23, 2014

Um conto de dois irmãos



A biblioteca municipal fica, felizmente, perto do local onde vivo. Trata-se de um local onde me dá muito prazer ir, tanto para trabalhar como para procurar informação ou entretenimento, de tal forma que habituei o pequeno a fazer o mesmo. Algumas vezes já lá estive a corrigir testes, por exemplo, numa área tranquila e luminosa de que gosto particularmente porque é a que tem os DVDs e o televisor com sofás para ver filmes. Está geralmente sem ninguém, aquele canto, pelo menos nos dias em que ultimamente lá consegui ir. Numa dessas tardes, após ter corrigido uma turma, e tendo ali algum tempo livre - foi no princípio de junho, curiosamente agora o trabalho é o dobro - por lá fiquei a ver as novidades. Que, a bem dizer, são quase todas, todos os DVDs, ou muitos. Pela simples razão de que levo quase 7 anos de atraso cinéfilo. Foi então que dei de caras com este filme de Woody Allen, Cassandra´s Dream, no original. Não o tinha visto e sentei-me a vê-lo. 
Não vi todos os filmes do Woody Allen mas dos que vi lembro-me de ter gostado. Também não estou particularmente preocupada com o facto de estar a ver determinado realizador e se gosto ou não e se é suposto gostar ou não. Vejo e pronto, conclusão no final. Neste caso, mais uma vez, gostei. Pelo que vi entretanto online, o filme recebeu algumas críticas mais negativas no sentido em que se esperava mais de um filme de Woody Allen, nomeadamente  por não ter o toque de comédia habitual nos seus filmes. Algo que me parece ter mudado no Woody Allen europeu, mais recente, mas também não vi Matchpoint nem Meia-noite em Paris, se bem que me parece que existe alguma comédia pelo menos no último.
Em Cassandra´s Dream a história é trágica, com dois irmãos marcados pela ambição a cometerem um crime por dinheiro a pedido de um tio. Este cobra-lhes a ajuda financeira com uma missão que eles não esperavam. O filme tem um toque de elegância até ao fim e mesmo o crime é filmado sob um ângulo que nunca deixa a fealdade ou violência do ato estragar a beleza dos cenários ingleses, dos dois atores e da lindíssima atriz  por quem um deles se apaixona. Gostei da interpretação de Ewan McGregor, com uns belos e densos olhos azuis e uma atitude que me fez lembrar o filme Look Back in Anger dos anos 50, e ainda mais da de Colin Farrel, cuja personagem passa uma inquietude e um consciente arrependimento fora do comum. Ficamos agitados, deste lado, só de ver a sua agitação, de tão real que a sua performance é.
A questão mais interessante que vi levantada online sobre este filme foi a de saber qual dos dois irmãos era o pior. Pessoalmente, e talvez apenas por instantes, quando e porque considera matar o próprio irmão, escolhi a de Ewan McGregor, claramente. Mas há quem diga o contrário, que o outro irmão, mais fraco porque mais facilmente manipulável e porque era viciado no jogo tomava comprimidos, era pior. Curioso foi ver que para muitos a questão da maldade ainda assenta nos vícios, à boa maneira da lei seca, enquanto que para mim ainda assenta no caráter.



1 comentário:

  1. Sou fã do Woody Allen e tenho visto alguns filmes (uns antigos, outros mais recentes) da sua longa carreira.
    Este não será o típico filme Woodiano mas não é muito diferente do "Match point", onde o carácter do personagem principal é posto à prova. Marla

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