Uma querida amiga diz que as pessoas na internet são diferentes daquilo que são ao vivo. Diz ela que há algumas, poucas, que são iguais, mas que, de facto, quase todas parecem ser mais vivas e interessantes virtualmente do que são depois no contato cara a cara.
Vejamos então onde é que paira a nossa verdadeira personalidade. Mostrar-se-á ela online, quando estamos sós, na maior parte das vezes, concentrados, sem inibições vindas de um olhar mais intenso ou crítico? Ou será ela mais autêntica na realidade offline, em que o espaço, o ruído, a psicologia inerente ao contato humano, a personalidade do outro podem interferir sobremaneira na mensagem e no tom?
Quando estamos instalados no nosso sofá, provavelmente estaremos confortáveis e relaxados, daí que possamos ter (mais) graça, um espírito mais desperto e tiradas mais acutilantes e inteligentes, teremos maior boa disposição e humor. Não vemos a(s) pessoa(s) e não queremos causar boa impressão do ponto de vista físico e da aparência - podemos estar de pijama e com o cabelo desalinhado que nada disso importa. Quando no trabalho, na rua ou no lazer, poderemos estar mais condicionados, por fatores externos à nossa vontade e ao nosso domínio. Laboral ou socialmente temos uma imagem a manter (ou a construir), podemos sentirmo-nos mais intimidados pela presença física do(s) outro(s), a própria circunstância do discurso oral pode limitar-nos (com aspetos como fluência, audição, cansaço e outros) - a nossa presença e qualidade de intervenção pode, assim, sair algo diminuída.
Por outro lado, pode dizer-se que precisamente por esses fatores é que se vê o caráter do indíviduo. Se ele consegue, ou não, fazer frente a esses condicionalismos do contato real poderá indicar traços da sua personalidade. Da mesma forma, há quem advogará que no mundo virtual as pessoas podem criar personagens, inventar e jogar papéis, sendo o que não são. A timidez fica, porventura, escondida no ecrã.
Nesta altura, perguntemo-nos a nós próprios. Serei eu mais autêntico quando estou no chat ou no facebook ou é-me mais fácil e natural relacionar-me fora do computador? Ou, melhor ainda, conseguirei manter as minhas caraterísticas, e aqui falamos essencialmente das boas, nas duas dimensões? Esperam-se partilhas. E aqui, do silêncio e conforto do seu sofá. Ou até do anonimato. O que quer que isso queira dizer...