setembro 30, 2011

México

Aprecio mais mas muito mais as telas (e murais) do mulherengo mexicano do que as da sua doida e fascinante mulher. Para lá da invulgar e louca relação entre os dois e da admiração que tenho invariavelmente por Frida - rebeldia, alegria, resistência à dor, ousadia, sofrimento, feminino feminismo - a arte de Diego Rivera é inconfundível e marcante. Nos seus quadros viaja-se até a um México bem menos sofrido, ainda que ilustrando profissões de gente simples, colorido, belo e entendível.

E, claro está, lá estão tantas vezes os bouquets de jarros, que fazem parte das minhas flores de eleição, sobretudo quando em tela. Estes são quadros (ao contrário de outros igualmente famosos que me dariam pesadelos caso os visse a meio da noite e provavelmente não só) que, decididamente, conseguiria ter na minha sala. Vê-los na parede seria incursar, ainda que por momentos, no fantástico, criativo e eternizante mundo de uma coisa chamada arte.

setembro 28, 2011

Roma


Como não amar o cinema clássico?
Como não admirar Fellini?
Como não gostar de Roma?
Como não sentar-se na Fontana di Trevi?
Como não recordar Mastroianni?
Como não suspirar por Anita Ekberg?
Como não celebrar o amor?
Como não querer viver La Dolce Vita?



setembro 25, 2011

Conto-vos como foi

                                 

              Fui uma feliz e irrequieta mariarapaz na minha meninice. Andava sempre, sempre com feridas nos joelhos. Mas daquelas que doíam a valer, enormes, e muitas vezes fazia feridas em cima das que já lá estavam, de uma aventura desastrada anterior, à espera de sararem. Saltava à corda e lá dava um trambolhão. Andava de bicicleta e lá ia mais outro. Jogava ao elástico e idem aspas. Corria e percorria os pinhais e chegava a casa com mais um joelho a sangrar. Uma vez fui mais longe. Dei um grande e ousado salto, pois andava a explorar a casa maior da rua, ainda em construção, e, sim, fui bater na parede em frente. Ainda hoje não calculo muito bem as distâncias, acho. (Estas, que as outras creio que sim e faço por isso.) O meu nariz sangrava, pois então, cheguei a casa a chorar de dor, vi a minha mãe aflita  e, sim, o dito nariz não foi mais o mesmo.
             Tinha muita, diria extrema, dificuldade em voltar para casa. Já gostava de rua, de andar por todo o lado e muitas vezes andava sozinha,  Eram outros tempos, felizes e simples, sem tecnologias e muita correria e brincadeiras de vizinhança fora de portas. Explorava tudo à volta, a pé ou de bicicleta. Ao domingo ia à missa com a canalha vizinha e o momento alto da mesma era quando o padre dizia - saudai-vos na paz de cristo. Adivinhem porquê. Risinhos e emoção na parte de trás da igreja, mas ao mesmo tempo tudo tão inocente, tão naive. Até o catolicismo era uma coisa divertida. Era uma grande alegria quando na Páscoa, por exemplo, o padre vinha e nós tinhamos alecrim espalhado à frente da porta e na rua.
             As minhas brincadeiras de rua eram muito arrapazadas - jogava à cavilha, dava uns toques de futebol com o Paulo, filho da dona da mercearia, tinha carrinhos e um apreço especial por um mercedes azul que viria, de resto, a ser roubado. Pois sim, até as crianças têm apetência por furtos de carros de brincar imponentes e de grandes marcas. Depois, mais ameninada, brincava ao lencinho com a rapaziada do bairro, jogava às lojas (os bocados das telhas eram a carne, a urze era o arroz), às casinhas e mesmo os legos na sala serviam não para fazer blocos nem torres mas para inventar pessoas e casas, em constante interação, romance, família, enfim, coisas de miúdas.
            Quando vinha da escola no inverno e já começava a escurecer, ficava sentada a ver televisão e a comer bolachas (a minha paixão pelas mesmas tem, pois, raízes profundas). Fiquei sozinha em casa por volta dos 9, 10 anos quando a minha mãe começou a trabalhar. Ela só chegava às 8 da noite e o meu pai trabalhava por turnos e à noite. Tinha medo, muitas vezes, do escuro e dos ladrões. Por isso a sala, virada para a rua, estava sempre com a luz acesa e a persiana corrida para cima.  Para me proteger, tinha um cão chamado Fixe que, na verdade, era uma cadela. A casa tinha, portanto, pátio e um grande quintal. Saí de lá aos 16 anos. E, no apartamento, a vida de criança de joelhos esmurrados,  livre e aventureira, pelo espaço e pela idade, não mais seria a mesma.

setembro 24, 2011

Dupla personalidade


Uma querida amiga diz que as pessoas na internet são diferentes daquilo que são ao vivo. Diz ela que há algumas, poucas, que são iguais, mas que, de facto, quase todas parecem ser mais vivas e interessantes virtualmente do que são depois no contato cara a cara.
Vejamos então onde é que paira a nossa verdadeira personalidade. Mostrar-se-á ela online, quando estamos sós, na maior parte das vezes, concentrados, sem inibições vindas de um olhar mais intenso ou crítico? Ou será ela mais autêntica na realidade offline, em que o espaço, o ruído, a psicologia inerente ao contato humano, a personalidade do outro podem interferir sobremaneira na mensagem e no tom?
Quando estamos instalados no nosso sofá, provavelmente estaremos confortáveis e relaxados, daí que possamos ter (mais) graça, um espírito mais desperto e tiradas mais acutilantes e inteligentes, teremos maior boa disposição e humor. Não vemos a(s) pessoa(s) e não queremos causar boa impressão do ponto de vista físico e da aparência - podemos estar de pijama e com o cabelo desalinhado que nada disso  importa. Quando no trabalho, na rua ou no lazer, poderemos estar mais condicionados, por fatores externos à nossa vontade e ao nosso domínio. Laboral ou socialmente temos uma imagem a manter (ou a construir), podemos sentirmo-nos mais intimidados pela presença física do(s) outro(s), a própria circunstância do discurso oral pode limitar-nos (com aspetos como fluência, audição, cansaço e outros) - a nossa presença e qualidade de intervenção pode, assim, sair algo diminuída.
Por outro lado, pode dizer-se que precisamente por esses fatores é que se vê o caráter do indíviduo. Se ele consegue, ou não,  fazer frente a esses condicionalismos do contato real poderá indicar traços da sua personalidade. Da mesma forma, há quem advogará que no mundo virtual as pessoas podem criar personagens, inventar e jogar papéis, sendo o que não são. A timidez fica, porventura, escondida no ecrã.
Nesta altura, perguntemo-nos a nós próprios. Serei eu mais autêntico quando estou no chat ou no facebook ou é-me mais fácil e natural relacionar-me fora do computador? Ou, melhor ainda, conseguirei manter as minhas caraterísticas, e aqui falamos essencialmente das boas, nas duas dimensões? Esperam-se partilhas. E aqui, do silêncio e conforto do seu sofá. Ou até do anonimato. O que quer que isso queira dizer...

setembro 21, 2011

Há Lodo No Cais, ainda (e) bem.

A consciência e/ou a culpa. Provavelmente dos sentimentos mais difíceis de digerir e que mais podem perturbar a serenidade da nossa própria alma. Aqui, a (não)consciência da personagem de Marlon Brando põe em perigo o romance com a muito esquecida e aqui doce Eva Marie-Saint.  De forma ora terna, ora mais sensual, as cenas entre os dois são antológicas.


                           Edie: I want you to stay away from me.
                     Terry: Edie, you love me... I want you to say it to me.
                     Edie: I didn't say I didn't love you. I said, "Stay away from me!

No original, "On The Waterfront" - o clássico de Elia Kazan que vi e revi e que adoro, do género saber diálogos/deixas de cor. Ainda. Antigo, a preto e branco, sem efeitos especiais, realista e até político, será difícil as novas gerações apreciarem-no e mesmo conhecerem-no. E, no entanto, faz parte da história do cinema. Desde sempre, inesquecível.

setembro 20, 2011

Adolescência



Quando nos encontramos
na rua
ou à porta do café
sinto-me como se estivesse desnudada
e com muita gente ao pé.
Intimidada
ridícula e sem jeito
tento saudar-te
mas sem efeito,
de tão embaraçada que estou
de tão insegura que sou.



(Provavelmente escrito aos 13,14 anos..., em ensaios poéticos de uma miúda)

setembro 17, 2011

Diz-me com que carteira andas...


           Fará a carteira, como li num blogue há umas semanas, parte da identidade feminina?
          A autora defendia que sim, que a carteira é um objeto integrante da personalidade de uma mulher, que diz muito acerca do seu caráter, que é um acessório natural como a sua pele. Sorri. Se é de facto assim pouca coisa abona em meu favor. Pois, na verdade, eu cá não gosto de andar com carteira. Ando porque é preciso (nunca consigo encontrar nada à primeira e penso sempre que perdi a chave do carro, de resto) mas livro-me dela sempre que posso, e andar de mãos livres é mesmo o que gosto, como se a ausência de peso e de tudo o que ela acarreta significasse uma automática leveza e liberdade. E não significa?
            Não é que não aprecie  ver carteiras bonitas, aprecio mesmo bastante, há muitas que facilmente me piscam o olho e ainda por cima ficam tão bem combinadas com a roupa e demais acessórios, sobretudo para quem tem esse talento de saber  acertar tudo. Mas não tenho paciência para mudar de carteira todos os dias e consoante as cores que se vestem, o que quero mesmo é despachar-me e não chegar atrasada de manhã. Então lá vou comprando umas que tenham várias cores (como a atual) e que me permitam conjugar a noção de estética a que também não escapo Ou então neutras, preta ou castanha ou cinzenta no inverno e uma clara, branca provavelmente, no verão. Cores mais berrantes para combinar já dão muito trabalho.
           De qualquer forma, o que a autora quereria dizer no seu texto é que a qualidade da bolsa, mala, carteira diz muito sobre a qualidade de quem a usa, assim tipo proporcional. Do género mala cavalinho, pessoa com dinheiro e/mas descolorida e desinteressante, mala chanel opulenta e chic mas algo tradicional, mala versace ousada e in, mala guess jovem, fresca ou aventureira e outras. Bem, aí a minha cotação anda pelas ruas da amargura. Pode haver uma mais original  (e não muito cara, quase nunca) que diga algo sobre mim mas a maior parte das vezes, em que nem sequer a uso, devo passar a mensagem de que há pouco para descobrir.
          E eu a pensar que a personalidade passava por outras coisas. Assim mais essenciais, do ser ou fazer e não do ter ou mostrar. Tonta. Estou a ver que tenho que apostar numa carteira a sério. Não numa carteira séria (livra) mas numa acção a sério e não a brincar. Sugestões?

setembro 14, 2011

A SóS

O que é a solidão? Tema recorrente na música, e noutras manifestações artísticas que não mais fazem do que espelhar a alma e os estados de espírito, como podemos defini-la?
Provavelmente haverá que destrinçar as noções de sozinho e de só. Está-se sozinho muitas vezes porque os outros estão ocupados, porque há essa necessidade por imperativos exteriores, porque nós o queremos e nos sabe bem. Esta solidão física pode ser muito positiva, já que nos faz recarregar baterias, meditar ou mesmo criar. A muitos de nós é difícil estar 24 horas em permanente convívio, socialização, partilha e comunicação. Precisamos desse espaço só nosso para as energias se renovarem, as do corpo e da mente.

Está-se só, muitas vezes por opção, ao que dizem, se bem que nem sempre o sintam, ou porque o percurso de vida assim o obrigou. Esta solidão afetiva será bem mais difícil, árida, dura. Mesmo que a liberdade seja um precioso bem que nos permite fazer o que nos apetece e ser absolutos donos de nós mesmos, às vezes todos ou quase todos ansiamos por umas amarras feitas de afetos que deem algum sentido aos nossos dias para além das obrigações profissionais, carreira e mesmo apenas  da sobrevivência.

De qualquer forma há estados solitários que são precisos, ainda que possam ser dolorosos, constituindo fases em que há um redescobrir de quem se é ou daquilo que se quer ou do que não esteve bem. Se seguidos a alguma desilusão são fundamentais para o renascimento, para o encontro, com um novo companheiro, e sem tempo definido, que pode durar pouco, bastante ou muito mais .

Há ainda a situação de muita gente se queixar de não ter ninguém para "sair" (lembram-se de Marilyn, que lamentava, sendo a mais amada mulher no planeta, não ter companhia num sábado à noite?) ou ainda há aqueles que recusam sair para conviver ou conhecer alguém, independentemente das razões. Os sociólogos e psicólogos que vou lendo debruçam-se invariavelmente sobre a questão da solidão. Termino com uma mais que interessante, porque conhecedora, citação de Isabel Leal, no seu livro Guia de Sentimentos Prováveis:

"Mas a generalidade disso a que se chama solidão não tem que ver com nenhum tipo de isolamento social nem com falta de pessoas para interagir. A maioria das vezes, solidão é sinónima de infelicidade. A infelicidade que grassa sobre o facto de alguém não se sentir amado nem amar." Neste sentido, é bom estar sozinho quando não se está só...da mesma forma que se pode estar só no meio de muita gente a fazer-nos companhia.

setembro 11, 2011

Cor-de-rosa


Aqui há tempos li um interessante texto do Pedro Rolo Duarte sobre a imprensa dita cor-de-rosa. Dizia ele, no blogue que sigo quase numa base diária, que era daqueles que vai acompanhando estas publicações. Assim, sem complexos nem stresses, a confirmar que a verdade e a simplicidade são caraterísticas que lhe aprecio sobremaneira. Há dias li, através do blogue da Helena Sacadura Cabral, um texto noutro blogue em que a autora desancava, ainda que de uma forma algo humorística, algo repito, o teor das referidas revistas. Fiquei com a impressão de que ela, e tanta gente mais, despreza, desvaloriza e diminui,  não apenas o teor dos artigos (que os há discutíveis e de mau gosto, sim) mas também os intervenientes, aqueles que são alvo de textos não consentidos e mesmo os que os consentem. Ou seja, nivela-se tudo da mesma forma.
Acontece que no meio de muita coisa fabricada, enganosa e desrespeitadora (quando não é consentido) encontra-se também verdades, confissões, partilhas (quando se consente, naturalmente). E não vejo porque é que as pessoas  que expõem ou a sua sala ou um estado de alma têm de ser crucificadas por abrirem as portas e deixarem entrever um pouco das suas manias ou hábitos ou gostos ou desilusões. Não compreendo porque é que atores, modelos, empresários, escritores, cantores, artistas são menos válidos por fazerem uma capa. Ou porque é que a palavra celebridade acarreta um estigma de incompetência ou tolice. Pode ser que os haja assim e há, mas outros não o são e ainda por cima fazem aquilo que gostam - não é obrigatório ter uma profissão agarrada aos papéis, às contas, às leis, a um escritório e ser , muitas vezes, chata para se ter uma função. Esta pode ser social, cultural, pop até . Não simpatizo por aí além com modelos nem morro de amores por jogadores de futebol  atualmente e admiro os médicos sem fronteiras e os cirurgiões mas ainda assim digo que os há bons e maus em todas elas.
Vai daí que aparecer numa revista não é necessariamente sinónimo de idiotice ou frivolidade. Há pessoas válidas e talentosas no meio de outras que não o são. Há entrevistas interessantes e maduras no meio de outras frívolas e sem interesse. Há curiosidades que valem a pena no meio de outras que não. Não vejo o porquê de alguns acharem que tudo é fútil, que todos são inúteis e que se é inteletualmente inferior por se ler este tipo de publicações. Há revistas que são melhores no meio de outras piores. Vai daí que nem sempre me fique pelas do cabeleireiro. De vez em quando estão algumas no sofá. Sim, descontrai-se com essas novidades. Não se é automaticamente estúpido, nem temos que ser herméticos e sensaborões para o não ser. Gosto do brilho, da cor dos artistas, do glamour, ainda que nem sempre isso me apeteça e ainda que seja cansativo e redutor alguém poder ser só isso. O que posso não apreciar é aparecerem no meio deles outros que nada disso têm. Mas tenho opção de escolha, posso escolher lê-los ou não. Sem preconceitos, sem stresses. Não falava eu em descontrair?...

setembro 09, 2011

A Sul

O verão que agora termina confirmou a minha predileção pelo sul. O sol,  o apetecível calor, claro, e depois o branco, aquele imaculado branco das casas, o azul do céu que teima em persistir, a calma das ruas e a calma do mar, as praias de água também ela calma, as flores nos jardins e os pinheiros mansos, a maneira aberta e hospitaleira das gentes, disto e de mais ainda, gosta-se, e muito, depois eterniza-se como exemplo de uma maravilhosa vida estival...
Ao mesmo tempo as noites a convidarem a passeios e bebidas frescas, música na rua, esplanadas cheias, pessoas animadas a conviverem, nacionais e estrangeiros em alegrias de quem está fora da rotina. O ceú estrelado,o luar claro e límpido, o não apetecer voltar para casa. Soltamo-nos, não temos horários, absorvemos os locais, os ambientes, mergulhamos facil e placidamente numa existência de doces hábitos. A sul, encontramos o calor e a luz que a alma procura.
Regressando ao norte, sente-se  e vê-se a temperatura drasticamente a descer, a cor das casas a escurecer, a tranquilidade a esvanecer-se, a vida de cidade e as suas exigências a tolher os nossos, meus, devaneios veraneantes de relaxamento. Deixa-se para trás um espaço e um estilo de vida que nos dá tão somente prazer. Voltar cá acima. Como custa sair do sonho de uma, não, de muitas noites de verão.