junho 23, 2011

O último a ver



Parece realmente um enorme cliché mas quantidade e qualidade parecem não combinar quase nunca. No tempo em que havia só uma  televisão estatal, a RTP, a programação era de facto menos diversa mas tão mais marcante. Porque a organização sobretudo mental que (me) permitia, fruto dessa pouca oferta, levava-me a não perder programas que nunca mais esqueci e que quase desapareceram do mapa televisivo actual. Com a chegada das privadas, que durante algum tempo pareceram levar a melhor sobre a velha TV, mesmo nas minhas escolhas, o panorama alterou-se sobremaneira com a competição pelas audiências e uma proliferação confusa de programas que levam à repetição, à superficialidade, ao desnorte.
Meu, pelo menos. Há anos que não consigo seguir uma programação equilibrada e enriquecedora, tendo abandonado praticamente os canais privados por causa da sua cansativa, vazia e ilusória abordagem. Voltei de facto e com muito agrado ao canal mais antigo. Os telejornais são ligeiramente mais curtos, há uma preocupação com a informação e reportagens sérias fora das notícias das 20 horas, tem havido uma preocupação cultural interessante, sobretudo não é tão alarmista, nem stressante, nem vertiginoso.
Daí que assinale com desagrado o programa das noites de domingo - o reality-show que o não é, numa paródia, tem-se dito inteligente, aos formatos dos canais mais virados para o entretenimento fácil e oco. Não discuto se a ideia é interessante, mas penso que o resultado não o será. Não consigo ver nem um bocadinho (embora consiga ver o programa rival das tribos, pois consigo achar-lhe interesse antropológico), não me estimula minimamente e, pior, o nível de linguagem parece-me inaceitável num canal público que pretende (pretende?) formar os cidadãos. Não consigo achar normal na RTP, ao fim de semana e a uma hora que não é tardia, o uso que fazem do calão e afins, reforçando a ideia de que mensagem não há nenhuma e entretenimento muito pouco, numa combinação algo mal conseguida entre comédia e crítica. Não é este tipo de programas de que a RTP precisa e deve apostar. Deve manter-se na dianteira precisamente porque é diferente, porque constitui uma alternativa, porque não joga no mesmo campeonato dos restantes canais. Que saudades dessa televisão, quando havia só um canal...
Mas então dizia também que sou eu que não me consigo orientar no meio de tanta coisa que não (me) interessa. Então como a televisão dos canais mainstream nem sempre me satisfaz, ou satisfaz muito pouco, lá dou por mim no computador a fazer algo que me preenche muito mais quando há tempo para uma pausa no sofá. A escrever, sobre TV, por exemplo...

4 comentários:

  1. You bet! Hate TV more and more and reality shows are just disgusting. As for the RTP 1 one, it's NOT intelligent and NOt the least bit funny. It's a big awful way of wasting OUR money.

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  2. Eis aqui uma excelente análise do panorama televisivo actual. Por mim, já quase não me aproximo da goggle box. Da televisão só quero distância. (Se calhar é por isso que ela se chama TELE VISÃO :))
    joao de miranda m.

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  3. A minha análise é diferente. A primeira vez que vi o programa foi acidentalmente, nas vezes seguintes foi intencionalmente.
    Não se trata de um concurso mas tão somente uma representação teatral, onde cada actor interpreta livremente uma acção e dá as suas próprias "falas". Acho bastante interessante analisar os traços de personalidade bem vincados e identificativos de diferentes origens e vivências sociais de cada um dos actores.
    Há dias vi recuperado o termo pipi, designação comum do orgão sexual feminino, em desuso, pela generalização e vulgarização da linguagem cientifica. Achei que o termo foi usado com muito carinho. É verdade que aqui e ali há uma expressão verbal que não é de todo necessária, mas não me escandaliza de forma alguma. Assemelho o programa a um laboratório experimental na área sociológica, se me é permitida a comparação.
    Foi esta matriz que encontrei e por isso continuarei a ver o programa.

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  4. Gostei de ler a sua análise. Também eu gosto de tudo o que é sociologia e psicologia social. Não consegui ver nisso no programa mas pode ter sido falha minha! Mt obrigada. Faty

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