junho 10, 2011

Great expectations



A noção de felicidade é relativa e até pessoal, sabemos. Porém haverá pontos em comum nas definições que daremos e também caminhos que se podem dizer similares na sua procura. Um deles, e a jogar um papel primordial, é a questão das expectativas. E comecemos por dizer já claramente, fazendo eu minhas as palavras de Alberoni: "para sermos felizes devemos aceitar o insucesso (...) não esperarmos nada, e então a felicidade surgirá."
De facto, as expectativas quando são (muito) altas levam-nos a um estado de ânsia e adrenalina que pode vir a ser completamente defraudado. E sendo, surgem depois a desilusão, o desgaste e a dor, em doses que variam de caso para caso, consoante aquilo que se esperou. Quer-se com isto dizer que devemos não sonhar? Actualmente prefiro falar em metas e objectivos, pois apesar das palavras serem mais pragmáticas e frias, traduzem melhor o almejar de algo para quem os sonhos significam pertencer a uma juventude fantasiosa e mais ingénua algures lá atrás. Então, na maturidade, poderemos e devemos continuar a ter objectivos e entusiasmo por eles, mas este de alguma forma comedido, sabendo que aqueles podem falhar, numa mistura de confiança e (mas) realismo que importa não disassociar. Saber que há outros factores e actores no caminho para o oscar, dar-lhes a devida importância, não embarcar em cegueiras disfarçadas de optimismos. Querer voar? Sim, muito até, mas ter consciência de quão real poderá ser também o perigo da queda.
A ideia de nos preparamos para o pior não é fácil de ouvir e não é agradável, ainda mais aos espíritos aventureiros, corajosos, determinados, até criativos. Mas é de facto fantástico contarmos com pouco, ou se possível nada, e conseguirmos muito. Então seremos felizes, apesar de "o processo" ter sido duro, de algum sofrimento até, no fundo revertemos a ordem da qual falava acima - aqui trata-se de sofrer algo primeiro para ser bem feliz depois. Claro que o leitor pode considerar que vai dar ao mesmo. Mas por certo não, não será a mesma coisa. O prémio do esforço será bem mais saboreado do que a aparente ou ilusória felicidade que construímos, ou diria vislumbrámos, seguida de uma abrupta interrupção, de um letal corte, de um decepcionante final.
É tudo uma questão de aprendizagem. Quando se é muito novo sonha-se muito, ou ambiciona-se fazer muita coisa, ir a todo o lado, ter, ver, viver... Muitos de nós ao  longo do tempo têm vindo a   fazer essa reeducação. E isso traz uma serenidade incrível, ainda que não desprovida de metas, de todo. Não esperar ou querer muito e de forma rápida, intensa ou avassaladora é um tranquilizante diário e abre caminhos à verdadeira felicidade - aquela das coisas simples, sim, e também a outra que, por certo, com um bocadinho de confiança em nós e especialmente no futuro, estará lá à nossa espera. Mas funcionando como troféu pela paciência e pela esperança misturadas no humilde sentimento que devemos ter perante a nossa pequenez no mundo e perante os percalços da nossa existência.

4 comentários:

  1. Muito bom, Fatinha! Cito e subscrevo: "o humilde sentimento que devemos ter perante a nossa pequenez no mundo e perante os percalços da nossa existência". Parece-me este texto de maturidade e serenidade da autora! :))Parabéns, claro! :)) Luisa Alc.

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  2. Também achei o texto um verdadeiro must - uma excelente reflexão sobre a felicidade. Mas a felicidade é uma treta. Deve ser a realização total. Ou a véspera disso. Ou mesmo o princípio disso. Se for outra coisa diferente disto, tudo bem. Felicidade é não ter que provar nada e dormir 8 horas por dia e ter pequeno almoço ao acordar e uma bucha antes de ir para a cama outra vez. Felicidade é ser feliz e ter consciência disso...
    joao de miranda m.

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  3. Concordo plenamente... ser feliz com o que temos, conquistamos e ter consciência disso...é a verdadeira felicidade. O teu texto, Faty, está como sempre...muito bom! Gi

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  4. Gostei muito! Muito boa a tua reflexão! Apesar de ser uma vítima frequente da insatisfação, e não é por ter "muitas expectativas" )também estou ciente do perigo) lá me vou confortando por ter saúde, comida na mesa, dinheiro... coisas que muitas pessoas em África (e não só) não têm. Apesar de ambicionar mais... Bom, mas como tu dizes, é muito importante não esperar muito para a desilusão não ser grande... Marla

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