outubro 22, 2010

QualIDADE


A obsessão com a imagem e com a eterna juventude tem feito muitas vítimas, eu diria precoces, nos media no nosso país, nomeadamente no mundo da televisão. São facilmente postos na prateleira apresentadores, jornalistas, repórteres e até actores que ultrapassem uma determinada faixa etária. Qualquer coisa como ao perder-se frescura perde-se qualidade. Nada mais errado, afigura-se-me. A experiência e o tempo são mais-valias indiscutíveis a muitos níveis, mas numa área em que o visual impera, aposta-se nos rostos (e nos corpos) jovens em detrimento da sabedoria.
Não há em Portugal muitos programas que tenham como apresentadores pessoas já de idade. O nome não consegue perpetuar-se no tempo, ou se calhar fica o nome mas não há trabalho, verdadeiramente. Assim acontece também com jornalistas e repórteres. Assiste-se a um desfilar constante de novas caras no jornalismo, nos telejornais, nos programas de informação. Sobretudo nas televisões privadas. É raro um profissional bem mais velho continuar no ar, acompanhar-nos durante décadas, como acontece com programas lá fora. Ser o nome desse profissional o chamariz, como sinónimo de experiência e conhecimento de vida.
Na ficção então nem se fala. São lançados dezenas, centenas de novos actores e actores novos numa base que diria diária. Inexperiência, pouca qualidade, pouca profundidade, assim se pontua muita da ficção nacional . Entretanto, alguns da velha guarda passam por dificuldades económicas por não encontrarem trabalho. E depois temos os programas para lançar (maioritariamente falsas) estrelas na música e na dança. Todos direccionados para gente muito jovem, fundamentalmente. Assim como os reality-shows - os  participantes são jovens, essencialmente.
E assim se faz uma televisão que não privilegia as pessoas de mais idade, a sua visão das coisas e do mundo, e o relato das suas experiências de vida. Não se estranhe, pois, o desrespeito com que tantos são tratados pelas gerações mais novas... Temos vindo a retirar-lhes importância, a dizer que pouco valem e que em nada contribuem para o nosso entretenimento e informação. É pena, porque não corresponde à verdade. Ainda temos muito a aprender com eles e a rir com eles. E, por isso, digo não ao culto da imagem e da obrigatória  juventude. O tempo passa e coisas preciosas o acompanham. É só termos a oportunidade de conhecê-las.

outubro 10, 2010

Presidência

  



Acho que ainda não tinha dito publicamente que aprecio a figura de Manuel Alegre. E que, por isso, vejo com muitos bons olhos que ele me represente enquanto presidente. De facto, ele reúne uma série de características que me agradam.

Desde logo, é poeta. Alguém que tem pelas palavras o culto que ele tem não podia deixar de ser alvo da minha admiração. Sempre gostei dos escritores, dos homens das letras, dos intelectuais por serem quase automaticamente humanistas e sensíveis, de visão alargada e sábios. Acho que um presidente com esta dimensão engrandece um país, projectando-o culturalmente.

Depois, é Alegre um símbolo. Daquilo que foram lutas anteriores e porventura sonhos que se projectam até hoje. Esteve antes e tem estado depois, sempre e profundamente engagé com os valores sociais e humanistas que são apanágio de uma geração de lutadores pela liberdade.

Aparece-me também como alguém íntegro, sólido, seguro, conhecedor e ainda, fundamental para mim, de pensamento independente. O facto de estar ligado a um partido não invalida que, frequentemente, não tenha opiniões próprias e diferentes das dos demais. Tal facto revela coragem e força moral, traços de carácter imprescindíveis para mim.

E depois tem uma presença muito agradável, passando por uma voz carismática e inconfundível, até ao trato relativamente afectivo, despojado de falsidades e de concessões. Directo, verdadeiro, autêntico. Profundamente realista, também. Sem pessimismo, com uma visão a raiar o optimismo de pés-no-chão, bem como gosto.

Numa altura em que a política surge cheia de figuras de pendor economicista, tecnológico e administrativo, bem que me apetece ver alguém para quem o humanismo e as pessoas são valores inestimáveis.
Por mim, bem que pode ser (o meu) presidente.

outubro 02, 2010

A contragosto

                                                         

Tenho para mim a teoria de que as pessoas que gostam de cozinhar são bem mais felizes. Porque a comida constitui uma grande fonte de consolação e prazer. Desta forma, quem cozinha e o faz alegremente, reune uma série de condições que muito contribuem para a felicidade.
Desde já o relaxar. As pessoas que cozinham por gosto dizem relaxar na cozinha, aproveitando, desta maneira, para descomprimir de pressões laborais, nomeadadamente, e outras. Depois, o convívio. Poder convidar e satisfazer com mais ou menos deliciosas iguarias os nossos familiares, amigos e outros, é algo que dá satisfação pelo convívio que permite, pela interacção pessoal que fomenta. Sejamos francos - a maior parte dos rendez-vous familiares e sociais passa, indiscutivelmente, por uma parte entusiastacamente dedicada à comida. Convida-se muito para almoçar, jantar, lanchar e convida-se pouco para uma conversa, tertúlia ou para uma sessão de cinema sem comes e bebes a acompanhar. Ainda por cima num país claramente voltado para a gastronomia. Não me lembro, dos países que visitei, de uma nacional obsessão com a comida como a nossa. E ainda, a reputação. Continua a ser exultante uma reputação de boa cozinheira, sobretudo nas mulheres. Afinal torna-as um bom partido, a tal ideia de que os homens se prendem pelo estômago parece aqui encaixar perfeitamente.

Compreendo agora porque nunca fui um bom partido... Cozinhar não é um prazer, fujo da cozinha quando posso, só faço o muito trivial para me alimentar a mim e aos meus, portanto não relaxo minimamente nesse espaço. Reputação, zero. Pudera, não organizo jantares com muita frequência. Recebo, claro, e adoro mas tem, nesse dia, da cozinha ser partilhada a dois, e eu fico com uma ínfíma parte - a dos doces - portanto, os louros não vão, nem podiam ir, para mim. E depois com isto tudo tenho a casa menos cheia do que gostaria. Quem vem visitar-me, sem comida? Trata-se de um convite pouco apelativo.
Posto isto, concluo que adoraria saber e sobretudo gostar de cozinhar. Até porque sou gulosa e aprecio comida também. Mas tenho verificado que, com o acentuar do tempo, a minha pouca propensão para a culinária (fruto também de um carácter impaciente onde é preciso ter paciência) se tem vindo a esbater ainda mais... Se quero ser feliz,e digo infelizmente por todas as razões que apontei, tenho mesmo que sair da cozinha.