novembro 10, 2012

As possibilidades

Inteirei-me acerca do assunto Isabel Jonet através dos jornais online. Depois vi uma ou outra referência no FB e em alguns blogues. Os ânimos exaltaram-se, as ofensas fizeram-se sentir (de quem se sentiu ofendido), a polémica estalou. Contudo, parece-me  necessário reagir com alguma racionalidade ao teor das declarações da presidente do Banco Alimentar. No, fundo, o que foi que disse? Que os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades. Isto é uma inverdade? Não será, em alguns casos, em muitos casos. Poder-se-ia inclusivamente dar-se exemplos, variados e muitos, em que houve passos maiores do que as pernas. E não é suficiente a explicação de que os bancos e o crédito permitido a isso levaram, isso seria desresponsabilizar individualmente as escolhas e atrevimentos de cada um. Temos sido uma sociedade de alto consumo, e muitos de nós convenceram-se que eram ricos. Ousámos ter e ter mais, independentemente dos facilitismos que encontrámos e da incompetência das más governações que nos souberam simultaneamente (des)acompanhar. Continuemos.
Por outro lado, ouvir dizer que temos de aprender, reaprender a viver com menos, não me ofendendo minimamente, até porque não temos outra solução, significa também o reconhecimento de um retrocesso. E aqui as dificuldades agravam-se para muitos, as grandes dificuldades. Não queremos, porque é mau sinal, regressar a tempos que julgávamos idos, de dificuldades e emigração, de pobreza e estagnação a vários níveis. A conquista da democracia e outros avanços sociais e políticos da nossa história recente deixaram-nos entrever outras possibilidades, percorrer outros caminhos, alcançar outras formas de vida. Perdê-los é andar para trás, é distanciarmo-nos de um padrão que julgámos possível, que nós tornámos possível e que nos deixaram acreditar que era possível. Embora, e ainda assim, urja a redifinição de prioridades.
As reações emotivas demais, em cadeia e desprovidas de reflexão fazem cada vez menos o meu género. Mas a dignidade que deve presidir às condições de vida faz parte das minhas preocupações. Não o consumo, não o esbanjamento, não o show off mas os bens essenciais. Se estes faltarem não se trata de sacrifícios necessários nem de uma vida mais modesta, trata-se de uma não vida. 

11 comentários:

  1. ...como sempre estamos em sintonia. :) Sónia Carvalho

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  2. Sem duvida. Na minha modesta opinião de perfeito ignorante na matéria o país não precisa de austeridade absolutamente nenhuma. Necessita apenas de rigor. De muito rigor. O que, desculpar-me-ão se estiver enganado, é algo completamente diferente. Exemplo: Tony Carreira terá ganho só por conta das autarquias cerca de um milhão de euros em 2011. Acabar com isto seria austeridade? Para mim era do mais elementar rigor na gestão dos dinheiros de todos nós...

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  3. não consigo estar de acordo contigo.pegás-te apenas na frase em q os portugueses têm vivido acima das possibilidades; em relação a isso,digo-te que não, pois não tenho carro topo de gama, casarão, casa de praia e ou serra, iate, assim como tu.

    agora no contexto geral,as declarações da srª. são mesmo de ficar indignado.
    basta ter conhecimento de quantas crianças vão sem comer para a escola, ou que não comem mais nad durante o dia estando apenas com pão e leite da manhã, penso q como professora saberás disso. a renata tinha na turma um miúdo assim e teve alguns no antigo ciclo.

    portanto a srª. deveria estar dentro do q se passa em portugal e não vir com demagogias politicas da inevitabilidade, a que este governo já nos habituou.

    como pode dizer que não há miséria?na casa dela não. que prefere este orçamento a outra coisa qualquer, desculpa, mas não consigo compreender como estas parvoíces podem ser minimizadas e desculpadas e achares que não têm significado devem ser desvalorizadas. eu acho que dizem muito e mostram bem o caracter da srª.
    beijo, fernando (primo)

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  4. Quando ouço que "NÓS", os protugueses gastámos demais; eu trocaria a palavra "NÓS" por "GOVERNANTES".
    Porque eu nunca dei um passo maior do que a perna, aprendi com meus pais a não ser consumista, a não seguir modas, a dar mais importância ao SER do que ao TER.
    E o que ganhei com isso?
    A ter parte do meu salário roubado para pagar dívidas DAQUELES que deram um passo bem maior que as SUAS pernas.

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  5. Tal como a Rosa,também eu não vivi acima das minhas possibilidades e nós, portugueses, estamos a pagar por anos de governação irresponsável e danosa. Agora, eu não vejo razão para tanta indignação. Não se pode levar à letra o que a senhora disse, sobretudo a história de comer bifes todos os dias... Essa senhora quis dizer que, de forma geral, os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades, o que não é mentira nenhuma! Até há pouco tempo, eu via muitas pessoas a comprar bons carros, computadores, jogos, roupa de marca e tudo o que os filhos queriam e pediam, mesmo não tendo muitas possibilidades para tal. Muitas pessoas da minha zona "passavam mal" para dar esses luxos aos filhos. A época das vacas gordas já passou e os portugueses têm de repensar os seus hábitos e sei que, forçosamente, muitos já o estão a fazer e infelizmente já há muita gente a passar necessidade... Marla

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  6. Os vários presidentes de bancos já se tinham pronunciado sobre a crise e a "pseudobanqueira do povo" não necessitava de o fazer, até porque não tem fins lucrativos.
    Minha cara Amiga, desta vez estamos em desacordo. Acontece e "não há crise"
    :)

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  7. Queridos, caros comentadores,leitores,amigos,familiares, curiosos e outros

    Fui ver outra vez o vídeo. De facto, escapou-me a observação de que não há miséria em Portugal. Há e vai havendo mais, e sabemos porquê, infelizmente. Penso que a minha segunda parte do texto/post cobre essa preocupação, espero que o tenham entendido bem. De qualquer forma, é possível que o que a responsável pelo BA disse seja verdade - a Grécia está pior,inclusivamente com escassez de bens já em supermercados,etc. Claro que não nos reconforta. A mim não,nem por eles nem por nós. E esta observação,da maneira como foi dita,foi claramente infeliz.
    (Continuo a seguir.)

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  8. De qualquer forma,estou farta das leituras e análises apenas sob as linhas esquerda/direita, que minam o conteúdo de muitas acções e declarações. O resto do que ela disse é uma realidade e não temos porque nos zangar com isso. Há prioridades que estão absolutamente trocadas,e agora que a crise está aí,não temos senão que reaprender a viver. Isto não é uma ofensa,tão somente a solução enquanto o desgoverno nos mantiver nestas circunstâncias. Não votei em governo nenhum que nos tenha (des)governado desde praticamente sempre. Sou livre, tenho a minha área política e voto sempre mas sou livre. Não me interessa se quem faz o bem - ou o mal - é de direita ou de esquerda. E realmente não compreendo como é que tenho alunos de 18 anos que vêm de carro para a escola e dizem não ter 5 cêntimos para tirar uma fotocópia para a minha aula,alegando que estamos em crise. (Estamos,mas espero que tenham percebido.)
    (Continua)

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  9. Por outro lado, esta questão da reaprendizagem face à crise não foi, de acordo com o que entendi,dirigida aos (mais)pobres. Naturalmente que é preocupante o que se passa com estes e que tende a agravar-se. A não vida, de que falava a segunda parte do texto. Ou seja, se há quem ainda possa tolerar sacrifícios,há quem não os possa fazer de todo -quem perde o seu emprego cai no maior dos desesperos.
    Não sei se disse tudo nem interessa.:)O que importa é que todos temos direito a expressar a nossa leitura dos factos, e com margem para erro. Muito obrigada pela visita,leitura,amizade.***
    Deixo aqui o link do PRD sobre isto:
    http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/293421.html

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  10. Andreia Silvanovembro 11, 2012

    Até que enfim ouço alguém falar com justeza do assunto. Também não percebi tanta iindignação. A sra pareceu-me pouco organizada mentalmente, com um discurso atrapalhado e pouco estruturado, mas nada mais. Nada do que efetivamente disse é mentira de facto. Ainda q pareça um pouco tola o que há para estranhar? Tolos é mentira o q mais há por aí e não vejo qualquer reação...

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  11. Sim, Andreia, o discurso em si revelou fraquezas a nível de exposição/organização de ideias. O resto, já comentei - e por demais:) - aqui.

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