maio 10, 2012

(I)Móvel

Há vários anos tinha uma colega que gostava de resolver tudo pelo telefone. Era muito caseira e penso que isso lhe era extremamente cómodo. Eu, social, pelo contrário, preferia sempre ir ao local e falar cara a cara, in loco, apesar da deslocação ou provavelmente por causa dela.
Com o tempo, e com a agravada falta dele, agravei curiosamente o meu desagrado face a assuntos resolvidos ao telefone, sobretudo e diga-se em abono da verdade, ao telemóvel. Aliás, nunca comprei nenhum, foram sempre oferta e já vou para aí no sexto ou mais. Não ligo a marcas, a cores e modas, muito menos a topos de gama e uso-o neste momento para falar praticamente apenas com familiares e com colegas em situações muito pontuais (houve uma altura, há uns anos em que fui viciada em sms mas passou-me a dependência com a maternidade, depois com o advento do Facebook,  dos e-mails e com a internet em casa - nada é insubstituível).
Sim, resolvo muita coisa profissional por e-mail. É rápido e eu não tenho de falar, se estiver muito cansada isso é bom. No telefone fixo gosto de ter conversas mais longas com algumas pessoas mais próximas, amigos ou familiares, mas também não são todas que gosto de ouvir ao telefone, há vozes que são mais agressivas e cansativas pelos fios e também há diálogos que são sempre melhores ao vivo e a cores. Ao telemóvel idem aspas com a agravante de eu não gostar mesmo quase nada. As minhas conversas ao telemóvel têm sempre de ser muito rápidas. Por isso não entendo (embora não tenha nada que entender, também é verdade) quem passa horas ao telemóvel, horas, e, por vezes, a contar a sua vida e chegando a pormenores dignos de um romance bem contado e não necessariamente de qualidade. 
E depois há o local. Há pessoas que falam ao telemóvel, em tom razoavelmente alto que toda a gente ouve, em todo o lado, narrando episódios pessoais ou de outros - ai a má língua que a orelha do outro lado escuta avidamente -, sem olhar a coisas como privacidade, decência, linguagem, oportunidade, audiência e afins. Comunicar é bom, desabafar também, ter amigos e família a quem ligar também, receber chamadas também (para além dos mimos que sabem bem, dá um estatuto dos diabos, então as sms no natal e nos anos nem se fala), mas a torneira de histórias, queixumes, lágrimas, risos, festas, berros, zangas, declarações de amor duvidosas, ciumeiras, e mais não sei quantas emoções e sentimentos e palavras partilhadas em público acidentalmente e daí talvez não... é obra.
Cada um faz o que quer para ser feliz, desde que com isso não me faça infeliz- é como aquela coisa da liberdade, certo? Seja-se livre para falar ao telefone e ao telemóvel. Eu cá sou-o para falar cada vez menos porque gosto de internet quando não me apetece falar com ninguém - estado imóvel - e gosto de estar com as pessoas quando me apetece - estado móvel. Muito móvel. De preferência sem tele.

10 comentários:

  1. Telemóvel: estou farta dele mas já não vivo sem ele!Há dias em que me questiono, como se combinavam as coisas antigamente?
    O silêncio é algo que me faz falta...

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  2. :) É mesmo, mas só uso para coisas rápidas mesmo, não gosto de conversar ao telemóvel. Silêncio e internet... grandes vícios:)

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  3. Eu sou de e-mail. Aliás, de cada vez que alguma instituição ou empresa não tem e-mail, fico furiosa. Telemóvel, só o estritamente necessário. Sagi

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  4. Compreendo perfeitamente. ::))

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  5. A dependência do telemóvel já me tem provocado várias irritações. No Metro, são uma praga e há pessoas que adoram partilhar a conversa com os restantes passageiros Grrrrrrr!
    Bom fds

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  6. :) É incrível como se faz share tão facilmente em voz alta. Podemos fazer o dislike?
    Obrigada, Carlos, retribuo:)

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  7. http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2010/07/o-cidadao-xxvii.html

    bfs :)

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  8. Já vi, jrd, comentei in loco:) Esqueci-me no meu texto de falar dos telefonemas dos pais para os miúdos em plena aula... fica para outro post - merece um em exclusivo.

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  9. O meu telemóvel passa dias "em silêncio" por me esquecer de o ativar. Talvez por gostar mesmo muito do silêncio!! É o inconsciente a funcionar... Dulce Novo

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  10. Eu em casa, Dulce, até me esqueço dele:)

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