fevereiro 11, 2012

Era

Uma conhecida atriz nacional dizia numa entrevista há algum tempo que dantes queria aparecer em todo o lado, estar em todos os sítios, fazer todas as coisas. Antes da maternidade, da construção da família, da felicidade que exibe e diz sentir. E como isso lhe parecia desgastante e sem sentido agora. Compreendi-a tão bem.
Há serenidades que só surgem com o tempo, com a segurança e acalmia que ele traz, com novas fases e etapas que invariavelmente cria. O que nos fazia vibrar ontem não será o mesmo de hoje. E vamos sempre seguindo mais ou menos desta forma, ondulando ao ritmo do calendário e das mudanças, mentais, comportamentais e físicas que provoca.
Penso que a maternidade, na mulher, e será o mesmo para os pais, muito seguramente, é de facto um saboroso travão na adrenalina e propensão sociais, assim como o é na impulsividade e na inquietação de sair, de ver, de ir, de aparecer. Ou pode ser que seja apenas a maturidade, é  mais do que provável, que pode coincidir ou não com a descendência. O que interessa é que as sensações de irrequietude e impulso social diminuem, por via das circunstâncias, filhos ou não, ou mesmo porque outros tipos de prazeres e de vontades começam a emergir. Os nossos sábados à noite, por exemplo, vão perdendo glamour - e aqui cito uma bloguista que sigo - mas ganham outras tranquilidades, outros afetos, outras dimensões.
Nem sempre é fácil para pessoas vivas e cintilantes, com claro gosto pelo social, pelas conversas, pelas manifestações culturais, pela diversão, retirarem-se de uma espécie de palco onde possam sentir alguma espécie de reconfortante brilho e prazeirosa projeção, e sem sentido negativo nenhum, diga-se. Mas há fases em que se passa a um protagonismo mais interior, mais caseiro, mais intimista, até mais consanguíneo. Que canseira, ir a todo o lado, ver toda a gente, fazer todas as coisas. Já não vamos ou não queremos ir, já não vemos ou não queremos ver, já não fazemos ou não queremos fazer. Por impossibilidade logística, no caso das crianças, por impossibilidade espiritual, na intemporal aceção camoniana mudam-se os tempos mudam-se as vontades, ou mesmo por ambas.
Os encontros passam a ser  outros. E sobretudo  um  tempo e um espaço para se encontrarem provavelmente com elas mesmas.

10 comentários:

  1. Meu Deus, quanta produção literária desde o último que te li... Vou ter que fazer serão... :)
    joao de miranda m.

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  2. ::)) Espero que sim, passar o serão contigo será um enorme prazer. :)

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  3. Mesmo sem filhos, Fátima, essa é a idade da maturidade. Há que aceitar os ciclos de vida com serenidade :)

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  4. Completamente, Leonor. No meu caso as duas coisas até se conjugaram:) Mas é isso, essa tranquilidade...:)

    Jrd, eu adorei essa sua etiqueta, é um título que vejo como podendo ser meu:)

    Bom domingo para os dois**

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  5. Bela reflexão e bom texto, Fátima. Até quase (quase!)dá para lhe perdoar as pobres consoantes assassinadas pelo caminho :))

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  6. Muito bom! Nesta mesma linha, li ontem que atrizes inglesas (Emma Thompson quem iniciou) criaram um grupo anti-plásticas, assumindo o envelhecimento no mundo do glamour - arte tem a ver com expressão e verdade e não com ter-se artificialmente um corpo de 30 anos aos 60! A Vida também! Obgda! luisa

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  7. :):) Obrigada Ivone, é um grande prazer saber que esteve aqui, enorme mesmo. Um beijinho para si e bom domingo, apesar do sol:)

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  8. Obrigada, Luísa. Pois, a ditadura do glamour... devem sofrer uma pressão terrível, isso de que falas é muito interessante. O cinema europeu, ainda assim, é aquele que mais fala verdade - tem mt menos artificialismos do que o americano. è, e na mesma linha, mt mais tranquilo - mais maduro?:)

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