fevereiro 28, 2012

Contra o relógio

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Nunca fui de rituais. Fazer as coisas àquela hora, naquele dia, ir àquele sítio em especial amiúde porque me habituei muito a ele e não o troco por outro, criando hábitos de anos, décadas até. Nunca percebi se isto é bom ou mau, já agora.
Estamos a falar de tempos livres, de lazer, de tarefas que não pertencem ao exercício da função laboral e do seu espaço. Há pessoas que dizem ler o jornal no sábado depois do almoço, fazer um jogging ao entardecer de sexta feira, ou ainda caminhar à beira mar pela manhã cedo ao domingo, ir àquela pastelaria todos os dias (bem eu vou mas é para comprar pão perto de casa, mesmo assim também compro noutras). Que gostam de se organizar, e muito bem, segundo horas e dias, que são fiéis a um local, a um costume.
Outras há que fazem coisas e vão a sítios sem qualquer tipo de obrigatória fidelidade, desde cabeleireiros e supermercados e lojas, como é o meu caso. Quer dizer, há um cabeleireiro a que vou desde há anos mas é porque é o menos caro dentro do que conheço na cidade e como é homem e já de uma certa idade elimina, perdoe-me o mulherio, aquelas conversas de secador na mão muito concentradas na vida alheia e na intimidade da minha própria, que podem ser bastante inconvenientes.  Também há quem diga que nunca faz compras naquele dia ou naquela hora, e com toda a razão, mas eu posso fazê-las em qualquer dia caso absolutamente necessite ou até me apeteça. Se há coisas que faço como ir para aquela praia regularmente, por exemplo, é mais por sentido prático, mais perto, fácil de estacionar, falta de tempo e de pachorra para mais demoras. 
Fora do trabalho, não gosto de ter dias nem horas marcadas para nada. Não gosto de ter de ser fiel a sítio absolutamente nenhum. Gosto de explorar, de pasmar, respondendo aos impulsos e aos ócios em simultâneo. Perdem-se alguns encontros, ajuntamentos, convívios, cafés tomados em grupo. Mas a minha necessidade de espaço de movimentos e de inexistência de horários não permite mais. Como gosto de fazer o que me dá na real gana. Sozinha muitas vezes, é certo, ninguém tem de, nem conseguiria, seguir os meus impulsos de última hora, mas livre, libérrima. Desritualizada, sem relógio. Fluir, ao sabor do meu imprevisível conjunto de vontades e necessidades. Que me sabe tão bem, embora não seja socialmente amistoso nem profícuo e revele uma desastrada organização na gestão do tempo.
Independências, para o melhor e para o pior. 

4 comentários:

  1. "Contra o relógio". O relógio tem as costas largas, como se fosse ele o responsável pelo bom ou mau uso que nós damos ao tempo. :)

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  2. Pois não é, mas em contra relógio é mt mais difícil! :)

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  3. Mais uma vez concordo contigo. A contra relógio já basta, aquilo a que não podemos de todo fugir. Nos segundos que nos restam, que seja a belo prazer. Sem dia nem hora marcada. Simplesmente sendo!
    Bjs

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  4. É, a desorganização do tempo é uma forma de regeneração:) Embora se perca algumas coisas no meio disso... Beijinho, linda

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