dezembro 23, 2012

Singing in the rain


Este ano pude usufruir de uma inédita experiência natalícia. Nunca fiz voluntariado e admiro quem o faz. Também não sou lesta a participar em causas sociais ou humanitárias, em géneros ou dinheiro, por distração, esquecimento, dificuldades em cumprir prazos desta natureza, enfim, não há desculpa mas é assim, e de qualquer forma tenho ajudado de forma mais direta, identificada, quando as pessoas em questão notoriamente mo pedem e/ou vejo que é essencial essa ajuda. 
Mas eu falava de uma experiência de natal nova para mim. Na minha escola, é costume, no último dia de aulas, um grupinho de professores e alunos juntar-se e cantar canções de natal em instituições ou centros que albergam lares e jardins de infância. Este ano, juntei-me a eles na parte da tarde do dia 14 de dezembro. Chovia copiosamente. 
Tenho a mania de dizer que não sou de cantorias e destas coisas de grupo (os horários de grupo e o que implicam maçam-me...) mas a verdade é que dei por mim a cantar melodias de natal para idosos e para crianças da pré-escola. E dei por mim a fazê-lo com muita alegria. Doía-me inclusivamente a garganta - lariginte diagnosticada no dia seguinte - mas nem por isso poupei as cordas vocais, pelo contrário.
A visão dos idosos, sós e adoentados, ávidos de companhia e de afetos, sensibilizou-me muito. Comoveu-me o facto de, apesar das instalações, neste caso, serem excelentes, todos termos a possibilidade de vivermos os nossos últimos tempos assim, fora das nossas casas, do nosso ambiente personalizado, das nossas  rotinas ou ausência delas, entre outras coisas. Visitar um lar nesta altura dá-nos uma visão dura da sociedade onde vivemos e que ajudamos a criar, que descarta e trata mal os seus velhos, com justificativas de que não temos tempo, não temos condições, não temos paciência, não temos vida para. O emprego, a pressa, a indiferença, a ausência de sentimentos, as exigências, as responsabilidades, todos estes aspetos se conjugam e tecem o atual panorama familiar e social.
Para além dos cânticos, deixámos postais elaborados pelos nossos alunos e um livro de pequenas histórias e poemas escrito por professores e alunos para cada um. Nem todos podiam ler, mas ficou a promessa de que alguém o leria para eles. Quanto às crianças, é sempre uma delícia estarmos com elas em idades recheadas de fantasia e recetivas para histórias de reis magos e estrelas, mesmo, e sobretudo, se incluírem um dinossauro no presépio. 
Tratou-se, pois, de uma experiência diferente - um português  xmas caroling - que me trouxe  uma enorme satisfação por, espero e esperamos, ter levado alguma alegria a quem mais precisará dela, e para quem os afetos significam mesmo muito. Cheguei a casa  tarde e encharcada, mas contente.
Parabéns pela iniciativa e obrigada pelo convite, colegas. Feliz natal.

6 comentários:

  1. Como compreendo!
    Tenho presenciado que as crianças são muito mais sensivéis e pacientes com os idosos do que muitos adultos... Seria muito bom que permanecessem assim...

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    1. Os adultos vivem demasiado apressados... por defeito ou não. Tempos que não sabem usufruir do tempo...

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  2. Boa noite Fátima, espero que a sua garganta esteja melhor. Cantando à chuva? Nem o Gene Kelly se lembraria duma dessas. Um grande sorriso para si.

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    1. Olá, José:) A garganta está melhor, sim, obrigada, esperando pela próxima vaga de frio:) Sorriso bem, bem grande para si.
      Quanto ao resto, a chuva caía cá fora e de que maneira mas não há filme.:(
      Lá dentro, imagino que dentro de alguns corações...

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  3. Que gesto tão bonito! Louvo a tua/ vossa iniciativa! Que venham mais! beijinhos Marla

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  4. A iniciativa não foi minha, Marla, foi de colegas do Departamento (os colegas de Português, na realidade). Convidaram os restantes e voilá. Fui uma happy xmas caroler, algo inédito e enriquecedor.

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