Uma colega italiana que conheci há dois anos, ao abrigo do programa Comenius, dizia não gostar de trailers porque estes empolgavam o filme de tal forma, mostrando apenas as partes mais emocionantes, que depois a faziam frequentemente dececionar com as fitas. Tendo a concordar, já que os trailers realmente mostram os momentos mais altos e que espicaçam a nossa curiosidade, mas também pode acontecer o oposto. Ou seja, também há trailers que não nos despertam grande interesse e depois descobre-se que afinal valeu a pena e de que maneira ir ao cinema ou ver o filme em DVD; em suma, há trailers muito inferiores aos filmes que é suposto publicitarem.
Foi o que aconteceu com este "In Bruges"/"Em Bruges". Já me tinha deparado com o trailer no youtube, enquanto navegava atrás de vários filmes que me interessavam e interessaram. Vi e não tratei de ver logo o filme. Mas depois, outros vistos, continuei a navegação, lendo os muitos comentários que existem em inglês a propósito tanto dos trailers como dos filmes que apresentam- já agora, que felicidade haver tanta gente a gostar de cinema, do mesmo cinema e dos mesmos atores do que eu, e a debruçarem-se sobre coisas que me interessam e que não interessam à maioria das pessoas que conheço na vida real, para desconsolo muito meu. Bom, nessa toada lá encontrei um comentário que me remeteu para este filme e para a interpretação - nomeada para prémios, de resto - dos seus protagonistas e aí decidi procurá-lo e vi-o. Quando acabou o filme, estava rendida, a considerá-lo do melhor que já tinha visto, dentro destes géneros menos clássicos ou românticos, completamente rendida a tudo, às interpretações, à história, à música, à loucura e sensibilidade em simultâneo que o atravessam do princípio ao fim.
"In Bruges" combina de forma magistral cultura e crime, alta comédia e tragédia. Foram muitas e bem sonoras as gargalhadas ao longo do filme, assim como foram tocantes outros momentos, que surgiam inesperadamente, contrariamente ao tipo de filme que talvez se esperaria. A questão que mais me assolou e que partilhei com alguns amigos foi a de como é possível um filme ser tão hilariante e tão comovente ao mesmo tempo. Como é possível rir e chorar quase alternadamente? Bom, o gosto por esta visita a Bruges residiu também na enorme apreciação dos sotaques irlandeses dos dois principais atores e disto ser uma incursão pela insana violência feita por britânicos e irlandeses, de quem sou cinematograficamente fã. Como li algures, trata-se de Tarantino realizado pela dupla Merchant-Ivory.
Um Ralph Fiennes alucinado, a falar, por exemplo, das dum dums ("that make the hair explode"), Colin Farrel na pele de um gansgter estúpido mas ainda assim sensível, à procura de redenção e Brendan Gleeson como um gangster culto e humano, oferecem-nos interpretações marcantes que nos fazem percorrer os caminhos da amizade e da lealdade, num filme que poderá parecer só para homens mas não é. Isto no meio daquele cenário em tudo contrário a histórias de tiroteios. Como diria Ray, em "f-Bruges", local de onde acredito que saiu, a propósito do brilhante final.