outubro 13, 2013

Os olhos da cara


Há dois dias trouxe para casa uma revista feminina, o que não fazia há tempo. Pouco me interessou, a não ser a crónica do PRD relativa à maioridade do filho (como as suas palavras são sempre certas, serenas, afetuosas, nem a mais nem a menos) e um artigo sobre uma tendência necessária, eco-friendly e sensata, o downsizing. Hoje, enquanto esvaziava mais um pouco um armário, pois escolhia alguma roupa do pequeno para dar aos primos, lembrei-me do artigo. Toda a razão e lógica pela sensatez e despojamento. Foram estas as coisas que retive da revista, tudo o resto é absolutamente superficial e pouco razoável, até. Explicando, não faz para mim muito sentido (embora só compre quem quer e quem pode, eu é mais não quero e não posso) estar a olhar para sugestões de moda e beleza coladas a preços perfeitamente inaceitáveis nos dias pincelados a crise que vamos atravessando. Hidratantes a cem euros, botas a quinhentos, pulseiras a mil, e outras coisas mais a preços mais ainda, enfim, uma panóplia de produtos que custam os olhos da cara para muitos de nós. Se é certo que os olhos (também) comem e que, infelizmente, para irmos a algum lado temos de não descurar ou investir na imagem, a verdade é que me choca ver tanta ostentação, ou melhor, propagação de estilos de vida que em nada se assemelham com o que a maioria das pessoas, particularmente neste momento, pode ter ou vir a usufruir. Pode argumentar-se que são apenas sugestões e que os "fashionistas" mais espertos e mais pelintras podem adaptar as tendências a preços muito mais acessíveis, mas não deixa de me irritar esta constante e crescente atenção que se dá às grandes marcas e às multinacionais da moda e da cosmética, nomeadamente, através dos media. Uma revista feminina, para além disso, com apenas dois temas interessantes e construtivos é muito pouco. Por isso as deixei de comprar, seriam incomportáveis numa base diária. Há, ainda, artigos absolutamente carenciados de pesquisa, de verdade e de conhecimento. Este tipo de imprensa alivia, distrai, é certo; o nosso lado vaidoso, por exemplo, gosta de espreitar o que se usa, mas nada mais. Pelintra e a milhas e milhas de ser uma fashion victim, os meus olhos precisam de outro tipo de estímulos para continuarem deslumbrados. Precisam mesmo de ir para além da cara.

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