março 07, 2013

Era uma vez

Outra vez como assistente do encenador na produção teatral possível feita na escola para as Escolíadas deste ano. Pequenas ousadias que dão um prazer danado. Confirma-se o gosto pelo teatro, pela linguagem dramática, pelo palco, visto cá de baixo, nunca tive coragem  - até porque nunca tentei - de me colocar em cima dele. A peça é subordinada ao tema escolhido, que o título do post indica, e, pela segunda vez consecutiva, escrevi-a. Um prazer ainda maior, uma realização maior ainda. As palavras, os diálogos, as cenas, uma inspiração, pequena mas pessoalmente valiosa, muito tirada do cinema porque também vejo filmes no teatro, numa combinação que passa também pela escolha da música, das imagens projetadas, de toda uma criatividade que é posta à prova, independentemente do alcance apenas local que terá. 
"Uma outra vez" ou os contos clássicos infantis a darem o mote a cenas da atualidade, a problemáticas interiores sobretudo na juventude, a histórias que já foram e serão de todos nós. A estrear em maio, primeira eliminatória. Para o melhor e para o pior, sendo que o bom é criar, fazer, ousar, experimentar, participar. O pior não interessa mesmo nada. Porque estaremos a tentar de novo. Uma outra vez.

         

Cena I
(Uma carpintaria. Um homem – Gonçalves - faz bonecos de madeira. Toca a música "L´enfant", de Vangelis. Os bonecos vão sendo experimentados. Um rapaz – Pedro -  levanta-se subitamente de uma cadeira.)
Pedro - Não te zangues, pai…
Gonçalves - Não é isso, Pedro, mas sabes o que penso…
Pedro - Devias ter orgulho em mim…
Gonçalves -Tenho mas nunca desejei essa vida para ti…
Pedro - O quê? Querias que fosse carpinteiro, como tu?
Gonçalves - Não é nenhuma vergonha…
Pedro - Devias estar contente, poder dizer que o filho de Gonçalves chegou longe e pode chegar ainda mais….
Gonçalves - Desejava que não fosse dessa maneira, sempre to disse.
Pedro (entusiasmo) - É preciso motivar as pessoas, pai! Fazê-las ambicionar, produzir, avançar... Devias ter orgulho que sou capaz de o fazer…
Gonçalves - Tantas mentiras irás dizer, Pedro…
Pedro - Não irei nada. Juro que não, pai.
Gonçalves - Não jures, filho… a última vez que juraste tive que te ir buscar quase ao fim do mundo…
Pedro (mais contido, agora) - Não me lembres, mas eu mudei. Cresci.
Gonçalves - Pois, pois, e o teu nariz também…

15 comentários:

  1. Desconhecia que o Gepeto se chamava Gonçalves...

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    1. E certamente que há Gonçalves a viverem como o Gepeto...:)

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  2. Gosto do positivismo! E do post, em si.
    beijinho

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    1. Que bom vê-lo por aqui, Henrique :)
      Obrigada e é isso, é bom criar e participar, o resto... nunca poderá ser mau, dessa forma. :)

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  3. Desde já "bravo!!!!!" por tudo:)

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    1. Obrigada, Regina. São pequenos grandes prazeres:)

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  4. Muito bom!!!
    A saga vai começar...
    Primeiro estranha-se e depois...

    :)

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    1. :) Obrigada, Ana. Não sei se os outros entranham, vamos ver :)

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  5. Sempre que leio o 'Era uma vez... volto à meninice. Aos livros e aos bonecos.

    Acho que é uma pena se perder aquele velho hábito dos pais lerem para os filhotes. Provavelmente alguns fazem-no. O que me entristece é que só se ouve - que não têm tempo - e nestas faltas de tempo perde-se muita coisa. Perdem as crianças. Digo eu.

    Tal como o seu primeiro comentador (jrd) também desconhecia que o Gepeto se chamava Gonçalves.

    :)

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    1. E diz bem, maria. Eu leio para o meu filhote, que já adora livros.
      Quanto ao resto, é verdade, há Gonçalves que são autênticos Gepetos... :)

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  6. Lindo! Esta peça promete! Marla

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    1. :) Está fixe, e trabalho com uma pessoa excecional (a do ano passado era-o também). Que grande prazer é escrever algo do género e trabalhar o teatro no palco :) Mesmo cá em baixo:) O resto, olha, será. O que é agora é que é enriquecedor e divertido...Adoro a equipa.

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  7. Foi com gosto que li o seu post. A minha escola esteve ligada, desde o início às Escolíadas, e já lá vão vinte e tal anos. Inicialmente era um punhado de escolas à volta da Mealhada e umas duas de Coimbra, com actuação nas instalações da Quinta dos 3 Pinheiros! Sempre colaborei e o meu último "contributo" foi fazer a apresentação das provas da minha escola! É uma experiência fantástica, estarmos ali no meio de centenas e centenas de jovens, uns a mostrar o seu melhor, outros a apoiar, na claque ou fora dela.
    O sonho do Cláudio Pires agiganou-se de tal maneira que são necessários dois locais para a realização deste evento já considerado de interesse nacional pelo Ministério da Educação. Seria fantástico a concentração num só espaço...pelo convívio, mas a máquina tornou-se demasiado pesada.

    Boa sorte para si e para a sua escola. Apesar de eu ser uma " prof emérita" ( ahahahah) irei torcer pela escola que foi a minha ao longo de 22 anos.

    Beijinho :)

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    1. E foi com muito gosto que li este comentário, Lia. Eu não dava aulas quando isto tudo começou.:) Só comecei nestas andanças desde há três anos a esta parte (através de pessoas fantásticas que me aliciaram) antes passou-me ao lado, talvez por estar em escolas que não participassem. É verdade que se trata de um projeto de grande envergadura e de grande interesse. Para mim, significa criatividade a toda à prova. Surpreende-me, na verdade, que não seja mais alargado, a nível nacional. Não sei qual é a sua escola, mas iria estar particularmente atenta se soubesse :) Obrigada pela simpatia e vai daqui outro beijinho

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  8. Ahahah... já vi esta peça em algum lado... e nas escoliadas... há 6 anos...de Mortagua!!! a sempre tão menosprezada equipa!
    deprimente!!

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