março 24, 2013

Diferente entre iguais



Não faço trabalhos de grupo para avaliação a inglês. Para avaliação, repito. Outros vou fazendo, e geralmente os alunos gostam, por se criar um momento na aula diferente, não tão centrado no professor ou no quadro ou no resto. Nem todas as turmas o permitem nas melhores condições, também é verdade, e faço provavelmente mais trabalho de pares. Não para avaliação, repito, por duas razões: a primeira porque no inglês é o conhecimento da língua que me interessa, comunicar em língua estrangeira é uma competência individual, que importa fortalecer individualmente; a segunda, porque muitos trabalhos de grupo não o são, na realidade, ou seja, uns trabalham e outros nem por isso, por várias razões. Daí que avaliar por trabalho de grupo seja falacioso, sobretudo se for escrito, pela razão de que uma língua estrangeira é, repito, para ser dominada individualmente.
Por outro lado, mesmo noutras disciplinas, avaliar por trabalho de grupo pode ser também enganador pelas mesmas razões que apontei, a não ser que seja pedida uma defesa oral do trabalho, o que não acontece muitas vezes, pelo menos da mesma forma em todos os ciclos ou anos. E até compreensivelmente, é possível. Este post direciona-se mais para o secundário e ensino de adultos. O trabalho de grupo como elemento de avaliação fundamental pode ainda ter a desvantagem de ser extremamente penoso para elementos do grupo que não se dão, ou que não trabalham bem em conjunto. Estar a obrigar pessoas que não comungam de uma série de aspetos que os levariam a trabalhar em harmonia é algo que não defendo. Há sempre quem diga - porque o escuto, nas reuniões e não só - que os alunos quando forem trabalhar para uma empresa têm de trabalhar em equipa, em grupo, em conjunto e que, portanto, têm de se habituar.
É verdade, há empregos e trabalhos em que os trabalhadores dependem mais entre si do que em outros, em que o trabalho de equipa é fulcral, em que essa cooperação conjunta é frequente e até constante. Mas há uma escolha, quer dizer, uma hipótese de escolha. Se não me dou com alguém com quem tenho de trabalhar de forma próxima e intensa, posso ir embora. Pura e simplesmente sair, isto se puder arcar com as consequências, estando consciente delas e das alternativas possíveis. Porque resume-se a isto: se o mal estar for de grande amplitude, se me incomodar de uma forma que não posso compactuar, por variadíssimos motivos, posso ir embora. Pois ninguém é obrigado a trabalhar (nem a viver, como sabemos) com quem não nos entendemos, com quem nada temos em comum, em súmula, com quem não queremos. 
Pode, quando muito, aguentar-se, e aguenta-se, situações deste tipo por diversas razões, mas trata-se provavelmente de uma situação insustentável a longo prazo. Não fará parte do nosso projeto de vida trabalharmos com quem não conseguimos trabalhar. Daí que forçar trabalhos de grupo na escola, da forma que às vezes acontece, em que são inclusivamente dadas classificações individuais baseadas nesses trabalhos, não é, de todo, uma prática que aprecie minimamente. Talvez porque já tenha sentido o desespero que é ter de encaixar à força em grupos ou ter de funcionar de maneira que outros funcionam, quando a produtividade é a mesma ou maior ainda. Em escolas ou em ações de formação. E como desejava que chegassem ao fim, rapidamente, essas passagens. 
Os resultados e as performances finais não podem ser todos medidos pela mesma bitola. Os outros não têm, não terão, culpa de funcionar, ou não, de uma determinada maneira. Mas nós também não. Capacidade de adaptação, flexibilidade e outras precisam-se e fazem milagres, mas quando nem estas surtem efeito, não há forma de se poder avançar. Porque pessoas felizes produzem mais e melhor do que pessoas infelizes. Portanto, há dois caminhos: ou não nos exigem trabalharmos com quem não conseguimos ou vamos embora. É um direito. Pena que os alunos não o possam fazer com as avaliações de grupo tão em voga. (Reflexos de um país que não valoriza nadinha a autonomia. Com os resultados que todos conhecemos. A continuar, portanto. O tema.)

6 comentários:

  1. Só vejo um aspecto em que o trabalho em grupo pode surtir efeitos e resultados benéficos: os mais produtivos "puxarem" pelos outros. Em muitos casos, nenhum membro gosta de ficar visivelmente aquém da "média" do grupo. Nos mais novos, este item muitas vezes não resulta - há sempre os calões, os que se agarram aos "marrões" e até acham piada à esperteza idiota de não fazere nenhum -, mas nos adultos, não creio que o mecanismo seja o mesmo; há o orgulho próprio e a consciência mais vivida de sociabilização. Corrija-me se estou enganado. Outra coisa: sou a favor do trabalho em grupo para avaliação se for defendido por cada um dos elementos. Em parte ou na integralidade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não corrijo nada:) e sim, percebo. :) Mas nos adultos, Paulo, é terrível ter de se trabalhar com quem não tem os mesmos métodos nem as mesmas ideias. Pode ser um tormento... por isso defendo sempre a hipótese de escolha. :)

      Eliminar
    2. Concordo consigo, Fátima: numa língua estrangeira o trabalho de grupo pode ser um interessante trabalho de aula, mas avaliá-lo é mais complicado.
      Concordo com o Paulo também, no sentido em que o trabalho, a ser avaliado tem, obrigatoriamente, de ser apresentado e defendido por todos os elementos do grupo. Em Língua Portuguesa fiz algumas experiências dessas, com resultados muito satisfatórios. Enfim, depende dos casos. Também me aconteceu permitir trabalhos individuais ao perceber que um grupo não funcionava...
      Habituar os alunos a trabalhar em grupo é importante, de qualquer modo e também, muito importante e à s vezes esquecido, habituá-los desde o mais cedo possível a falar diante de uma audiência (que começa por ser a turma), a expor trabalhos e pontos de vista sem os ler e sem a muleta do "power point"... :)

      Beijinho e boas férias!
      Isabel

      Eliminar
    3. Certo, nada contra quando o trabalho de grupo funciona, é muito bom quando assim é, pior é quando não funciona e é imposto... Nem todos têm o discernimento para ver isso, tal como a Isabel faz. Beijocas e uma (doce) Páscoa *

      Eliminar
  2. Pois, na teoria gosto do trabalho de grupo, mas na prática nem sempre funciona. Confesso que raramente proponho trabalhos de grupo aos alunos, porque se distraem e falam de assuntos alheios à aula. E para avaliar é difícil, pois há sempre os que trabalham e os que nada fazem... Marla

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também acho muito bom quando corre bem, pior é quando não. Nos mais novos por umas razões, nos mais velhos e adultos por outras. Daí que não o defenda incondicionalmente.

      Eliminar