abril 28, 2012

A vida real

A vida real não tem charme, não tem trilha sonora, não tem grande angular, não tem flash back.  (Marco Gavazza, in  Aldeia Global obvious lounge)
              
Pois, isso é que é um grande, monumental agastamento. O facto de muito glamour se perder no meio da pressa matinal e nas limpezas e nas demais tarefas da baça rotina diária. O facto de não se poder glorificar nenhuma passagem em especial com nenhuma partitura que seja só e apenas nossa. O facto de não termos um spotlight só para nós, com uma equipa de make up que nos faça eternizar um rosto que ilumine o nosso plano interior com algum brilho exterior. O facto de, e porventura sobretudo, não podermos ir lá atrás e corrigir deixas, retirar cenas, acrescentar outras, interpretar tudo de forma certa ou nem interpretar absolutamente nada.
Alguns poderão dizer que há músicas que são as da sua vida (eu cá não consigo fazer estas escolhas). Outros que não gostariam de voltar atrás (algo em que não acredito). Outros ainda que não se importam com as rugas (deve ser por isso que não há cirurgia estética). E ainda há aqueles que acham o brilho coisa de estrela caprichosa, desprezando-o, por vezes, até (gostos não se discutem...?). Poderá assim ser e não ser assim, na maior das verdades.
Porque na maior das verdades, a vida real não é como a vida no cinema. A vida real alimenta o cinema, as suas histórias, as suas ilusões e dores, experiências e delírios, mas a vida real não é a ficção que sabemos durar duas horas, para o melhor e para o pior, final feliz ou trágico, na tela que projeta meramente tudo o que somos e queremos ser. Ou não.
A sua vida pode dar um filme, mas não é um filme. É muito mais do que aquilo que se poria no argumento, do que se filmaria... Haveria muita coisa sem graça, sem interesse. Não há efeitos especiais. A vida real não tem o que o grande écrã tem. Ou não o tem apenas. E voltando ao princípio. Falta a sedução, a banda sonora, o grande plano, a analepse - de forma conjunta, apelativa, emocionante, oportuna e ... voluntária. Daí vem, seguramente, o grande fascínio do cinema.

5 comentários:

  1. E que fascinante que é!!!! ( Até o acordar pode ser glamoroso no cinema:) Lília

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  2. É uma outra dimensão:) Mesmo que refletindo o real, é uma projeção do que vai para além do trivial e do comsezinho.

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  3. Ao contrário do cinema, a vida tem pouco de glamoroso. Não há spotlights nem encores! O que foi dito, tá dito.
    Mas o cinema tem a função de nos fazer sonhar e idealizar uma vida melhor e de projetar vidas de sonho que nos fazem sorrir. De facto, "a vida real alimenta o cinema", mas este só capta o que esta tem de melhor. Marla

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  4. ... e de pior também! A essência da vida está lá, sem as partes chatas e rotineiras. Marla

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  5. É isso tudo, Marla. Uma cinéfila como tu não podia deixar de sentir o que escrevi, o élan fulgurante do cinema...:) Beijinho

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