abril 03, 2012

É abril


As minhas primeiras memórias de abril reportam-se ao tempo em que frequentava o ciclo preparatório. Foi-nos pedido na aula de língua portuguesa que escrevêssemos uma composição sobre um tema à escolha. Andava no 2º ano - o equivalente agora ao 6º, portanto - e escrevi sobre a ditadura - ou o que sabia ela ter sido - e o Tarrafal. Era quase uma criança mas foi, de facto, o tema que escolhi. Lembro-me de mais ninguém o ter feito e da professora, visivelmente satisfeita, me pedir para ler em voz alta a composição aos colegas. Não sei já bem o que disse mas foi o registo de histórias e opiniões que ouvira contar em casa e cujo impacto se incrustara em mim por tempos indeterminados. 
A segunda foi também no ciclo, também no segundo ano, e provavelmente em abril mesmo - o que não teria acontecido no primeiro exemplo. Todos pintamos com marcador um desenho feito por nós que ilustrasse a revolução dos cravos, a pedido da professora de educação visual. Esse desenho iria, depois de uma seleção,  ser mostrado na exposição sobre o 25 de abril numa das pequenas praças da cidade. E assim foi. Lembro-me de ir com a família ao domingo ver os desenhos expostos e de lá, orgulhosamente, encontrar o meu, no meio da alegre festa que era aquela celebração. Era um tempo sem tantos canais televisivos, sem internet e demais tecnologias que informam e desinformam, era um tempo em que as pessoas se juntavam mais e em que saíam de casa para trocar e obter alguma informação e entretenimento. 
Quer o texto quer o desenho (ainda tenho este numa capa de artes de garota que considero pessoalmente antológicas)  podem dizer algo sobre a minha consciência social desde muito novinha. Sempre estive do lado da liberdade. Com responsabilidade e respeito pelo outro, não há como viver senão em liberdade. Por fora e por dentro, ela é muito mais do que apenas exterior. Sendo abril ou outro mês qualquer, já agora.

3 comentários:

  1. Boa, Fatinha! hoje mais do que nunca.... :)) Luísa A.

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  2. "Sur mes cahiers d'écolier
    Sur mon pupitre et les arbres
    Sur le sable sur la neige
    J'écris ton nom" (...)
    Paul Eluard. Liberté

    Fomos tantos a seguir o poeta.

    :)

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  3. Continua a ser preciso (re)escrevê-lo (o nome). É um conceito mais lato e menos conseguido do que se julga:) Obrigada, jrd.


    Obrigada, Luísa. Xi

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